Título: Real valorizado prejudica 72% dos exportadores, mostra estudo da Fiesp
Autor: Landim, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 21/09/2006, Brasil, p. A2

Dois terços dos exportadores brasileiros estão com a performance em risco devido à valorização do câmbio. Dos 31 setores analisados em estudo da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), 72% tiveram seu desempenho prejudicado ou já acenderam a luz amarela por conta do alta do real. O bom resultado da balança comercial estaria concentrado em alguns setores, que contribuem pouco para a geração de emprego e para o crescimento da economia.

Na média, os preços dos produtos vendidos pelo Brasil subiram tanto que compensaram o aumento de custos provocado pelo fortalecimento do real. No segundo trimestre, as empresas brasileiras venderam seus produtos por um valor em reais 3,6% superior à média obtida entre 2000 e o primeiro semestre de 2006. Em relação aos preços médios obtidos desde 1980 até a primeira metade desse ano, o aumento chega a 6,5%.

De acordo com Paulo Francini, diretor do Departamento de Economia da Fiesp, esses resultados garantem o sucesso da balança comercial brasileira, mas mascaram problemas setoriais. As usinas de açúcar venderam seu produto no mercado internacional por um preço equivalente em reais 34% mais alto no segundo trimestre de 2006 do que a média praticada entre 2000 e a metade deste ano. Na mesma comparação, a alta foi de 26% no café, 24% na extrativa mineral, 18% no petróleo. Já os fabricantes de móveis assistiram os preços de suas exportações em reais encolherem 2%. As quedas chegaram a 6% em calçados, 7% em máquinas e tratores, 10% em automóveis e 14% em têxteis.

Entre 2003 e 2005, as exportações brasileiras cresceram 25% em média, muito acima das taxas mundiais, que variaram entre 5% e 10%. O salto das exportações brasileiras foi conseqüência do forte crescimento das economias asiáticas, que demandam commodities. "O crescimento do mundo caiu no quintal do Brasil e na especialidade de suas exportações", disse Francini. Devido ao câmbio valorizado, esses indicadores devem se aproximar em 2006: alta de 13% para as exportações do Brasil e 8% para as vendas mundiais.

Com base nesses dados, os economistas da Fiesp dividiram os 31 setores analisados em três grupos: muito beneficiados pela alta dos preços externos (aumentos maiores que 10% nos preços em reais), beneficiados pela alta dos preços internacionais, mas prejudicados pelo câmbio (preços em reais entre 10% inferiores a média e 10% superiores a média) e muito prejudicados pelo câmbio (preços em reais com quedas superiores a 10%).

Foram encontrados apenas sete setores que estão realmente aproveitando a bonança externa. No grupo no qual já acendeu a luz amarela estão 10 setores, enquanto 14 estão no grupo que mais sofre com o câmbio. Cada grupo corresponde a aproximadamente um terço das exportações brasileiras em 2005. Por esse critério, dois terços das exportações estão em risco devido ao câmbio.

O estudo da Fiesp também demonstra que os setores com melhor performance nas exportações são os que menos contribuem com o aumento do emprego ou com a capacidade de o país crescer. "A pauta exportadora do Brasil é pouco indutora de crescimento do PIB e de emprego. É pouco dinâmica para fazer a economia crescer", diz Francini.

De acordo com o trabalho, os setores mais beneficiados pelo cenário externo respondem por apenas 7,4% dos empregos gerados na indústria, os setores em alerta garantem 40%, enquanto os mais prejudicados ficam com 52% das vagas.

Pelo critério de valor adicionado bruto, que mede a participação do setor no PIB excluídos impostos, transportes e margens de lucro, os setores afetados pelo câmbio respondem por 49% do total e os setores cujas exportações estão em risco por 23%.