Título: Para empresários, política econômica atrapalha ação do banco
Autor: Santos, Chico e Durão, Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 21/09/2006, Brasil, p. A3

No setor de bens de capital, as duas principais entidades representativas do empresariado, a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas (Abimaq) e a Associação Brasileira da Infra-Estrutura e da Indústria de Base (Abdib) consideram o apoio dado pelo governo ao setor no âmbito dos financiamentos do BNDES, "fundamental". Mas seguem insatisfeitas com aspectos macroeconômicos e regulatórios que estariam inibindo a indústria de máquinas no país e favorecendo as importações.

"Todas as linhas do BNDES têm sido vitais para a sobrevivência do setor de bens de capital no Brasil. Estamos sofrendo com a concorrência externa e os preços estão gerando uma preferência por máquinas seriadas feitas na China", disse o presidente da Abimaq, Newton de Mello. Ele acrescentou que o relacionamento do setor com o banco estatal tem sido o melhor possível e que o BNDES tem feito um esforço para atender aos pleitos dos empresários e aperfeiçoar os mecanismos de financiamento.

Mello citou o caso do Modermaq, o programa de financiamento para a compra de máquinas e equipamentos no âmbito da política industrial criada pelo governo federal em 2004 e que já financiou aproximadamente R$ 3 bilhões. Ele explica que o Modermaq estava com uma taxa fixa de 13,95%, considerada alta se comparada com o Finame normal (a linha regular do BNDES para máquinas e equipamentos). O próprio presidente do banco, Demian Fiocca, "a considerou um pouco descolada da realidade e eles conseguiram reduzir para novas taxas fixas que vão de 9% a 12%. Isto satisfez o comprador", disse.

Para o presidente da Abimaq, a grande vantagem do Modermaq sobre o Finame normal é a taxa fixa. "Tem um efeito psicológico. O comprador, especialmente o pequeno, quer saber quanto vai pagar porque a prestação é fixa", explica.

Mello ressalta a antiga queixa dos empresários em relação às dificuldades para convencer a maioria dos bancos que fazem o trabalho de repassar os recursos do BNDES. A aversão de grande parte dos bancos ao risco acaba reduzindo a permeabilidade da rede de repasses do BNDES, fazendo com que as empresas concentrem suas captações em quatro grandes bancos (Bradesco, Unibanco, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal).

Para o presidente da Abimaq, contudo, o grande inimigo hoje chama-se taxa de câmbio sobrevalorizada. Ela é, segundo ele, a única razão pela qual equipamentos importantes, como os da Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA) estão sendo importados da China.

O presidente da Abdib, Paulo Godoy, disse também que as estruturas de financiamento ao setor de infra-estrutura tem evoluído, não só no âmbito do BNDES mas também pela criação de novos mecanismos, como os fundos de investimentos em participações (FIPS). O problema, segundo ele, é que o próprio BNDES não está conseguindo gastar todo o dinheiro de que dispõe devido a obstáculos que ultrapassam a sua intenção de financiar.

Não são novos esses obstáculos. Godoy relembrou alguns, começando pela bola dividida entre Estados e municípios que torna eterna a peleja para abrir e colocar em licitação o setor de saneamento básico. As concessões de estradas, seja para exploração direta pelo setor privado, seja para construção ou reconstrução em regime de parcerias público-privadas (PPPs), demora. E no setor de energia elétrica, as construções de novas usinas para aproveitamento hidrelétrico esbarram na batalha das licenças ambientais.

O Valor buscou também uma avaliação global do Profarma, o segundo programa relacionado à política industrial do governo que mais comprometeu recursos até agora (R$ 883 milhões). A direção da Federação Brasileira da Indústria Farmacêutica (Febrafarma) explicou que está fazendo um estudo para avaliar os efeitos do programa e que esse estudo só ficará pronto em outubro, quando a entidade pretende expor o seu ponto de vista. (CS e VSD)