Título: Governo quer ampliar papel do Brasil em acordo com China
Autor: Villaverde , João
Fonte: Valor Econômico, 02/07/2012, Brasil, p. A4

O governo quer ampliar a participação da indústria e dos técnicos brasileiros no acordo de cooperação tecnológica e científica com a China, e isso vai exigir um "enorme esforço" das companhias brasileiras, afirmou ao Valor o ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Marco Antônio Raupp. O passo mais evidente do acordo entre Brasil e China será o lançamento do satélite sino-brasileiro CBERS-3 em novembro, garantido por Raupp. O ministro chega hoje a Pequim para negociar os termos do acordo entre os dois países, que inclui o aumento das responsabilidades brasileiras com os satélites, dos atuais 30% para 50%, a partir de 2014.

O próximo satélite, CBERS-4, tem lançamento agendado para agosto de 2014, e ainda contará com 70% de participação chinesa, que também será responsável por seu lançamento. Raupp vai apresentar ao governo chinês a intenção de não só elevar a participação brasileira, como também a disposição do governo Dilma Rousseff de sediar o lançamento de futuros satélites a partir da base de Alcântara, no Maranhão.

"Queremos empresas com maior protagonismo na construção dos satélites", disse Raupp, em entrevista, em Brasília. Hoje, as empresas são apenas fornecedoras do Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (INPE), que é o responsável por todo o projeto, inclusive a gestão e o acompanhamento de contratos. Raupp estuda colocar a Agência Espacial Brasileira (AEB) e o INPE para fazer apenas o projeto básico de engenharia dos futuros projetos envolvendo técnicos e pesquisadores chineses e brasileiros, deixando para as empresas a produção do projeto executivo de engenharia e a implementação.

Ex-presidente da AEB, Raupp avalia que o programa espacial brasileiro "está a merecer algum sucesso". O satélite sino-brasileiro chegou há poucas semanas a China, depois de passar pela bateria de testes ambientais em seus equipamentos e subsistemas promovidos pelo Laboratório de Integração e Testes (LIT) do INPE, em São José dos Campos, no interior de São Paulo. Neste momento, na China, o satélite passa pelos testes finais de qualificação para o lançamento em novembro.

Na viagem à China, Raupp também vai detalhar a criação dos centros de biotecnologia e de nanotecnologia que os dois países vão desenvolver conjuntamente. "Somos contrários a comprar tecnologia. Tecnologia não se compra, se absorve. Por isso, essa negociação com os chineses é muito importante", disse Raupp.

O governo vai construir um laboratório de nanotecnologia nas dependências do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas, no interior de São Paulo. "Vamos criar uma grande esta grande infraestrutura laboratorial, para ser utilizada pelas empresas, para que elas desenvolvam lá projetos de capacitação tecnológica na área de nanotecnologia." Esse laboratório estará conectado com o futuro Centro Brasil-China de Nanotecnologia.

Já o centro de biotecnologia sino-brasileiro, cujo entendimento pela criação foi assinado durante a conferência Rio +20, está em estágio mais embrionário. "Vamos definir quais são as instituições brasileiras e chinesas que vão tomar partido neste centro."

Outro ponto a ser detalhado do acordo fechado com a China na Rio +20 é a ampliação do programa Ciência Sem Fronteiras. Os chineses ofereceram 5 mil vagas a brasileiros em suas universidades, com 250 bolsas de estudos e 600 bolsas com liberação de pagamento da anuidade.

Quando voltar da China, a prioridade do ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação passa a ser o Centro de Lançamento de Alcântara e o lançamento do satélite Cyclone-4, construído em conjunto pelo Brasil e a Ucrânia. O ministro viaja a Kiev, na Ucrânia, em agosto, de forma a obter um "plano de negócios definitivo" para o satélite, atrasado, bem como as obras da própria base de lançamento.

Raupp espera obter o compromisso de que o lançamento do Cyclone-4 ocorrerá em 2013, como preveem ambos os governos. "Queremos tomar uma decisão firme com relação a isso. Vamos levantar o que falta, o que precisa para que tudo esteja pronto."