Título: Relação com Dilma dominará disputa eleitoral em Porto Alegre
Autor: Bueno , Sérgio Ruck
Fonte: Valor Econômico, 02/07/2012, Política, p. A8

Com os três principais candidatos na base de apoio do governo federal, a eleição para a Prefeitura de Porto Alegre tende a virar divã para debater a relação com a presidente Dilma Rousseff. O vínculo com o Palácio do Planalto será explorado à exaustão pelo candidato do PT, o deputado estadual Adão Villaverde, mas o prefeito José Fortunati (PDT), que busca a reeleição, e a deputada federal Manuela D"Ávila (PCdoB) não deixarão o petista surfar sozinho na popularidade presidencial. Os três partidos também fazem parte do governo estadual do petista Tarso Genro.

Fortunati, Manuela e Villaverde ocuparão pouco mais de 22 dos 30 minutos da propaganda eleitoral na cidade, o suficiente para ditar o tom da campanha. A estimativa, calculada depois que o PSD conseguiu, no Supremo Tribunal Federal (STF), o direito ao tempo no rádio e na televisão proporcional ao tamanho da sua bancada, leva em conta os deputados eleitos em 2010 e que mais tarde migraram para o partido, inclusive os licenciados.

O contraponto ao trio governista virá, pela direita, do PSDB, que concorrerá com o professor Wambert Di Lorenzo e terá 3min32s. Pela esquerda, o PSOL terá 1min33s para defender a candidatura de Roberto Robaina. O candidato do PSL, Jocelin Azambuja, terá 1min28s, e o do PSTU, Érico Corrêa, 1min26s.

No plano local, os adversários do prefeito também começam a selecionar os alvos a atacar na administração atual. Por enquanto, as principais críticas começam a ser feitas em cima de problemas nas áreas de atendimento à saúde, limpeza urbana, transporte público, segurança e assistência social e também nas obras para a Copa do Mundo de 2014.

Fortunati conseguiu montar a maior aliança e terá 9min16s de propaganda. Ele reuniu, além do PDT, o PMDB, o PTB, o PPS e o PP, que fazem parte da administração atual, mais o DEM, o PMN, o PRB e o PTN. O PTdoB e o PRTB saíram na última hora da coligação e decidiram apoiar Adão Villaverde. O candidato a vice de Fortunati é o vereador pemedebista Sebastião Melo. "Não tem como deixar de discutir a relação com os governos federal e estadual", reconhece o prefeito.

O pedetista também lidera a última pesquisa eleitoral na cidade, realizada em maio pelo instituto Vox Populi, com 38% das intenções de voto, contra 31% de Manuela, no cenário mais próximo ao quadro desenhado após as formalizações das alianças e as convenções partidárias. O candidato do PT vem em terceiro, com 8%, mas quer aproveitar o segundo maior tempo de TV (6min57s) e se apoiar em Dilma e no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para chegar ao segundo turno.

Por enquanto não há expectativa de que Dilma visite Porto Alegre na campanha, justamente para não melindrar aliados políticos, mas Villaverde espera que ela grave participações em seu programa e ainda conta com Lula no palanque. "A presidente vai desfilar no nosso programa", diz o deputado. Ele concorre coligado com o PR, que indicou Arlindo Bonete para vice, mais o PV, o PTC, o PPL, o PTdoB e o PRTB e, conforme o coordenador Gerson Almeida, fará uma campanha "afirmativa", deixando "claro o alinhamento com os governos federal e estadual".

Manuela afirma que não vai brigar para mostrar "quem é mais amigo" do governador ou da presidente Dilma, mas adianta que vai debater as alternativas de crescimento para a cidade a partir do desenvolvimento do país sob o governo do PT - do qual o PCdoB faz parte. A deputada concorre coligada com o PSD, que indicou como candidato a vice o vereador Nelcir Tessaro, mais o PSB, o PSC e o PHS. Ela tentou atrair o PP, mas apesar do apoio da senadora Ana Amélia Lemos, perdeu a briga para Fortunati e ficou com 5min49s no horário eleitoral.

No sábado passado Manuela ainda recebeu o governador petista na convenção que formalizou sua candidatura. Segundo o coordenador da campanha de Villaverde, que fez a convenção no dia seguinte também com a presença de Genro, o gesto do governador foi "republicano" e de "fidalguia política". "Respeitamos a Manuela, que é do nosso campo político, mas o vice foi secretário no tempo do José Fogaça [ex-prefeito do PMDB que renunciou em março de 2010 para concorrer ao governo do Estado e transferiu o cargo para Fortunati]", comenta.

Na oposição ao governo federal, o PSOL - coligado com o PCB - vai apresentar um "novo projeto para o país" porque os problemas locais não são exclusivos dos governos municipais, diz o candidato do partido. Com 2% das intenções de voto na última pesquisa Vox Populi, Robaina afirma que vai defender "os servidores e o serviço público" e mostrar os impactos dos cortes de recursos da União em áreas como saúde e educação.

O candidato também vai propor que 100% do orçamento seja debatido pela população porque, para ele, o orçamento participativo adotado nas gestões petistas (de 1989 a 2004) era uma "farsa", pois envolvia menos de 10% dos gastos da prefeitura. Além disto, uma das primeiras iniciativas do PSOL, caso eleito, será uma nova licitação das concessões das linhas de ônibus na cidade, que não são renovadas "há 30 anos", diz Robaina.

Lorenzo, do PSDB, também promete uma campanha "nacionalizada" e pretende aproveitar o "patrimônio" deixado pelo tucano José Serra, que em 2010 superou Dilma na votação presidencial em Porto Alegre. Coligado com o PRP e apoiado pela ex-governadora Yeda Crusius (2007-2010), o candidato não constava da última pesquisa Vox Populi, quando o deputado federal Nelson Marchezan Júnior, derrotado na convenção municipal do partido, somou 2%.

De acordo com Lorenzo, seus principais adversários serão Villaverde e Manuela, por razões "ideológicas". O petista, por representar um projeto "autoritário e cínico" que pretende se perpetuar no país. E a deputada, por encarnar a doutrina que criou a "maior máquina de matar" da história: o comunismo. Mesmo assim, ele promete usar a "humildade" pessoal e a experiência do PSDB para implantar uma "gestão eficiente" e reverter o "abandono" da cidade.

Para o atual prefeito, a campanha será a hora de se defender dos ataques, mostrar o que foi feito durante o governo e apresentar novas propostas. A lista incluirá as obras de mobilidade urbana para a Copa do Mundo, entre elas a implantação de corredores para ônibus de trânsito rápido pela secretaria dos Transportes neste ano, e do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), todas conquistadas graças ao "papel propositivo" da prefeitura frente à União, afirma Fortunati. "Tivemos que lutar por cada uma delas", acrescenta.

Ele reconhece que existem "imperfeições", como a superlotação e a demora do atendimento na área da saúde, mas promete soluções a partir da experiência acumulada nos últimos anos. Outro plano do prefeito é adotar o turno integral em toda a rede municipal de ensino nos próximos quatro anos.

Em 2010, quando Fortunati assumiu a prefeitura, Porto Alegre investiu R$ 305,6 milhões e no ano seguinte o valor alcançou R$ 333 milhões. Para 2012 a previsão chega ao recorde de R$ 816 milhões, puxada ainda pela conclusão das obras de despoluição do lago Guaíba, financiadas pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento e pela Caixa Econômica Federal, além de projetos habitacionais e de drenagem urbana. "Mas nada caiu do céu; vamos pagar cada centavo", diz o prefeito, que também cobra pressa na definição do modelo de financiamento para a implantação do metrô pelo governo federal.

O PT, entretanto, considera tudo isso insuficiente. "Temos respeito pelo Fortunati, mas a prefeitura é ineficiente para produzir soluções", diz o coordenador da campanha petista. Segundo ele, vários projetos para a Copa estão atrasados e setores como o saneamento básico em bairros populares estão em situação precária. "Há um desleixo em relação à cidade", afirma Almeida.

Segundo o coordenador, o PT tem experiência acumulada ao longo de quatro gestões consecutivas na prefeitura, até 2004, para apresentar soluções. De acordo com ele, o partido propõe "destravar" e dar mais "eficiência" à administração, além de aproveitar o "momento favorável" do país, com maior oferta de financiamento para o setor público, para ampliar investimentos.

Para Manuela, a prefeitura "está repetindo remédios errados para problemas antigos, como saúde e falta de creches". Ela considera a administração de José Fortunati "burocrática" e afirma que gestão "também é pauta da esquerda". De acordo com a candidata do PCdoB, que pretende compensar o tempo menor da propaganda eleitoral em relação aos dois principais adversários com uso intenso das redes sociais na internet, caso eleita, sua administração será pautada pela "transparência", pela revitalização de áreas degradadas e pelo estímulo a um modelo de desenvolvimento local baseado em tecnologia e produção de alto valor agregado.