Título: Economia mexicana cresce mais rápido que a brasileira
Autor: Totti , Paulo
Fonte: Valor Econômico, 02/07/2012, Internacional, p. A11

A economia mexicana deve crescer em 2012 a um ritmo superior ao da brasileira pelo segundo ano consecutivo, impulsionada pela vitalidade da indústria de manufaturados e pelas exportações desses produtos, justamente duas das principais fraquezas do Brasil no momento. Enquanto o México caminha para avançar entre 3,5% e 4% neste ano, o Brasil ruma para uma expansão na casa de 2%, um pouco mais, um pouco menos. Além da indústria, a base de comparação tem peso para explicar a diferença de ritmo, uma vez que o Produto Interno Bruto (PIB) mexicano sofreu mais em 2009 e teve uma recuperação mais modesta em 2010 do que o brasileiro.

O economista-chefe para a América Latina do Morgan Stanley, Gray Newman, diz que o bom desempenho do México se deve em uma parte razoável à recuperação da economia americana, que absorve pouco mais de 77% das exportações mexicanas. Relatório da Economist Intelligence Unit (EIU) observa que a dependência mexicana da economia dos EUA, que deve crescer um pouco acima de 2% neste ano, "está se provando uma bênção, protegendo o México da recessão na Europa".

Ainda que não seja uma taxa exuberante, os 2,2% previstos para os EUA são bem melhores que a contração de 0,7% estimada pela EIU para a zona do euro. Newman destaca que a história vai além dos EUA porque as vendas do México para o resto do mundo, excluindo petróleo, crescem mais rápido do que para a economia americana. Enquanto as exportações para os EUA subiram 10,5% nos 12 meses até abril, tirando petróleo, as vendas mexicanas para o resto do mundo aumentaram quase 20%.

O bom resultado da indústria se deve principalmente às ligações entre o setor manufatureiro do México e os EUA, diz o analista sênio da EIU, Robert Wood, enfatizando a indústria automobilística. "As vendas de automóveis têm sido muito fortes neste ano nos EUA, puxando para cima a demanda por carros produzidos no México."

Newman aponta o renascimento em curso da indústria manufatureira mexicana, que têm retomado terreno no mercado americano depois de perder espaço por vários anos para os concorrentes chineses. Ao longo da última década, os salários na China subiram e a moeda do país asiático se apreciou um pouco, tornando os produtos mexicanos competitivos novamente, como nota o chefe de pesquisa de mercados emergentes da Nomura Securities, Tony Volpon. "O México está se tornando uma opção cada vez mais atrativa para produtores de manufaturados destinados ao mercado americano, intensivos em trabalho, por conta do aumento do custo do trabalho na China."

A indústria brasileira patina há vários trimestres, sofrendo com a concorrência externa e os custos elevados de produção, num quadro em que o câmbio ficou excessivamente valorizado por muito tempo. A recente desvalorização do real, se não for rapidamente revertida, pode dar algum alento à indústria brasileira, acreditam os analistas, embora eles façam coro sobre a necessidade de mudanças mais estruturais. Para este ano, Wood projeta expansão de 4% para a produção industrial mexicana e estabilidade para a brasileira.

Segundo o analista da EIU, a economia brasileira mostra um desempenho pior em parte porque os ventos externos têm sido mais desfavoráveis do que para o México. "O Brasil tem sido mais afetado pelo mau desempenho da Europa do que a economia mexicana", avalia ele, observando que o crescimento mais fraco do Brasil a partir do terceiro trimestre de 2011 decorre também do fato de que o país fez um aperto mais intenso de política monetária no período de janeiro a julho do ano passado, por causa do aquecimento excessivo da economia em 2010, quando o crescimento foi de 7,5%.

Wood destaca também o fato de que o México superou o ritmo de alta do PIB brasileiro no ano passado e deve fazer o mesmo neste ano em parte porque teve uma recessão muito profunda em 2009, seguida por uma recuperação bem mais suave no ano seguinte. Em 2009, refletindo o agravamento da crise global que se seguiu à quebra do Lehman Brothers, a economia mexicana encolheu 6,3%, enquanto a brasileiro recuou apenas 0,3%. Em 2010, o México cresceu 5,5% e o Brasil, 7,5%. Com isso, a base de comparação mexicana era muito mais fraca em 2011, quando o país avançou 4% e o Brasil, 2,7%. Segundo Wood, um ponto importante é que o México não usou estímulos fiscais e monetários fortes em reação à crise de 2008, como fez o Brasil, que ainda incentivou o crédito por meio dos bancos públicos.

Outro ponto é que o México tem tido inflação consideravelmente inferior à brasileira - em 2011, o índice de preços ao consumidor subiu 3,8%, abaixo dos 6,5% do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) brasileiro. Para Newman, um motivo importante é que o consumo no Brasil cresce a um ritmo bem superior ao mexicano nos últimos anos. A indexação mais forte por aqui também tem peso, diz ele.

Volpon e Newman acreditam que o México pode entrar num ciclo de reformas estruturais importantes daqui para frente, o que pode dar um fôlego para o país crescer a taxas mais fortes. A expectativa de vitória de Enrique Peña Nieto, do Partido Revolucionário Institucional (PRI), nas eleições, pode deslanchar um ciclo de mudanças na legislação de energia, com a abertura do setor de gás, e nas leis trabalhistas. "Parece haver um consenso na sociedade de que as reformas são necessárias", diz Volpon, que não vê perspectivas semelhantes no Brasil.

Os três analistas apontam sinais de esgotamento do modelo de crescimento brasileiro, um fator relevante para explicar as dificuldades para o país crescer mais rápido. Sem a perspectiva de fortes altas de preços de commodities, com um mercado de trabalho apertado, que eleva os custos trabalhistas, e uma infraestrutura dilapidada, o Brasil precisa de mais investimento e ganhos de produtividade, avalia Wood.