Título: Boca de urna indica vitória de Peña Nieto no México
Autor: Totti , Paulo
Fonte: Valor Econômico, 02/07/2012, Internacional, p. A11

Pesquisas de boca de urna indicavam às 20 horas de ontem (22 no Brasil) que Enrique Peña Nieto, candidato do Partido Revolucionário Institucional (PRI) será o presidente da república do México no próximo sexênio.

Com margem de erro de 2% a 3%, as aqui chamadas "encuestas de salida" registravam 42% dos votos para Peña Nieto, 31% para Andrés Manuel López Obrador, candidato de uma coalizão de esquerda liderada pelo Partido da Revolução Democrática (PRD); 23% para Josefina Vázquez Mota, do Partido da Ação Nacional (PAN), atualmente no governo, e 4% para Gabriel Quadri, do Partido da Aliança Nacional (Panal).

Derrotado no plano nacional, o PRD manteve sua hegemonia na Cidade do México com os 61% dos votos que seu candidato, Miguel Ángel Mancera, teria alcançado. Confirmadas estas previsões, o PRI volta a governar o México depois de 12 anos. De 2000 até agora, o PAN esteve no poder.

Em sua sede, prédio de sete andares que ocupa quase um quarteirão no bairro de Cuauhtémoc, construído durante os anos em que esteve no poder, o PRI iria fazer a festa da vitória. Desde sexta-feira o auditório de 1.200 lugares, não utilizado desde o ano 2000, passou por uma faxina completa e se preparava o parque de estacionamento para receber a multidão de seguidores. As unidades móveis das televisões estavam no cal a partir de sábado, e a polícia passou a interromper o trânsito nas proximidades já no fim da tarde de domingo.

A festa, porém, só começaria a partir das 23h45 (1h45 no Brasil), para quando estava prevista a divulgação dos primeiros resultados oficiais, com dados de 7.000 urnas abertas em todo o país, num processo chamado de "conteo rápido". As urnas são selecionadas de acordo com seu peso relativo ante o total do eleitorado nacional, 79 milhões inscritos e uma abstenção prevista da ordem de 30%. As autoridades eleitorais asseguram que essa primeira entrega permitirá projeções muito próximas da realidade ao final das apurações.

Até o fechamento desta edição não se havia registrado, ontem, incidentes graves em todo o país, nem mesmo nas regiões em que o narcotráfico constitui um poder quase paralelo ao das autoridades municipais, estaduais e federais.

A explosão, sexta-feira, de um carro-bomba em Nuevo Laredo, Estado de Tamaulipas, com sete feridos, e a morte, sábado, de dez pessoas por fuzileiros navais da Marinha em Xalapa, Vera Cruz, foram consideradas episódios isolados e até normais da guerra que, desde sua posse em 2006, o governo do presidente Felipe Calderón move contra o crime organizado.

De gravidade ocorreu o assassinato de um dirigente municipal do PRD no Estado de Guanajuato, governado pelo PAN. No dia da eleição, os incidentes registrados eram relativos às grandes filas nos Estados do norte do país, em consequência da chegada de eleitores vindos dos Estados Unidos e atraso na instalação das mesas em todos os Estados.

O candidato do PRD, o sociólogo Andrés Manuel López Obrador, 59 anos, esperou 50 minutos na fila pela abertura dos trabalhos de votação, no bairro Coyoacán, ao sul da capital. Proibido pela legislação de fazer declarações que pudessem ser enquadradas como proselitismo, ele só respondia, "nos vemos mais tarde, depois da eleição", e acabou discutindo com um deles a qualidade dos poetas de Tabasco, terra de ambos.

A candidata do PAN, Josefina Vázquez Mota, 35, infringiu a lei ao pedir votos na pequena e pacata cidade de Huixquilucan, no Estado do México, e cometeu outro deslize: manchou o dedo esquerdo com a tinta rosa indelével a que todos os eleitores têm obrigação de submeter-se. A lei, detalhista, determina que a marca seja no polegar direito. Derrotada, certamente não sofrerá punição.

Também econômico com as palavras, Peña votou em sua cidade natal, Atlacomulco, interior do Estado do México, de que foi governador por seis anos, como sucessor de seu tio Montiel. A família Peña faz parte do priismo histórico e o advogado Peña Nieto, de 45 anos, destacou-se nacionalmente quando integrou o grupo que, em 2010, levou os priistas a abandonarem a política de "oposição responsável", que deputados e senadores até aí adotavam no Congresso, com a aprovação de todas as propostas vindas do presidente Calderón.

A candidatura de Peña foi preparada pela família e pelo partido desde então. De suas ideias de política econômica só se sabe que lastimou ser "neoliberalista" a conduta dos governos nos "últimos tempos", situação em que estariam incluídos os mandatos dos correligionários Carlos Salinas de Gortari e Ernesto Zedillo. Seus seguidores dizem que foi um bom administrador do Estado do México, mas não são elogiados os seus dotes intelectuais.

No ano passado, em pré-campanha, visitou a feira do Livro de Guadalajara, famosa em todo o país. Jornalistas lhe perguntaram quais os livros de autores nacionais que o influenciaram. Depois de alguma hesitação respondeu: "a Bíblia". Tentou corrigir-se e citou Carlos Fuentes, associado a um livro que o escritor patrício nunca escreveu. [Pesquisa nacional do jornal "Reforma" deu a López Obrador a preferência de 36% entre os eleitores com nível de escolaridade superior; a Peña, 21%].

Casado recentemente com a atriz de televisão Angélica Vieira, o candidato do PRI foi considerado o "candidato da Televisa" pelo "Wall Street Journal". Segundo o jornal, o diretor de marketing da emissora de televisão mais influente do país, Alejandro Quintero, "alardeia ter criado Peña Nieto".

Graças a Peña, porém, surgiu um novo protagonista: o movimento estudantil, ou o "Yo soy 132", jovens que se apresentaram pelas redes sociais como solidários com os 131 que vaiaram Peña numa faculdade, e a quem o candidato chamou de arruaceiros infiltrados entre os estudantes.