Título: Juros convergem para o cenário do Banco Central
Autor: Oliveira, João José
Fonte: Valor Econômico, 02/07/2012, Finanças, p. C2

As taxas de juros negociadas na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F) recuaram na semana passada, consolidando a tendência construída ao longo do semestre. Para parte cada vez maior do mercado, o Banco Central (BC) vem vencendo a batalha de expectativas com relação à taxa neutra de juros - aquela que gera crescimento sem inflação.

Na sexta-feira, as projeções de juros para janeiro de 2017, medidas no contrato DI, cederam para 9,32%, ante 9,46% apurados no fim da semana anterior. No contrato de janeiro de 2013, a taxa recuou de 7,72% para 7,64%.

Quando o semestre começou, era dominante nos mercados - em análises e no comportamento dos preços dos ativos - a tese de que o BC estava guiando a política monetária por um viés mais político que técnico. Fazia então cinco meses que o processo de afrouxamento monetário havia começado. Entre o encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) de agosto e o fim de dezembro, o BC reduzira a taxa básica de juros, a Selic, de 12,50% para 11%.

O afrouxamento monetário era justificado pelo Banco Central como resposta à piora do cenário econômico internacional e à consequente contaminação da atividade doméstica pelos eventos externos. O desconforto dos agentes de mercado com a redução do juro nominal era refletido nas projeções feitas na BM&F, onde são negociados os contratos futuros de juros. O contrato com vencimento em janeiro de 2017 apontava taxa de 10,87% ao ano. E o contrato das taxas para janeiro de 2013 registrava 9,52%.

Os investidores enxergavam riscos de pressões inflacionárias por trás do afrouxamento monetário. O boletim Focus da primeira semana de janeiro mostrava que as estimativas para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) - a referência do BC para conduzir a política monetária - sinalizava uma inflação de 5,38% para 12 meses.

O ex-diretor do Banco Central, Alexandre Schwartsman, chegou a afirmar que o presidente do BC, Alexandre Tombini, havia abandonado o sistema de metas - entre o fim de 2008 e este ano a taxa real de juros medida pela diferença entre a Selic e a projeção de inflação para doze meses havia cedido de 8% para perto de 2%.

O BC seguiu cortando juros, até os atuais 8,5% ao ano. Economistas como Marco Maciel, do Pine, afirmavam que o BC precisava trazer o PIB efetivo para mais perto do PIB potencial. Assim, o juro neutro tinha que ficar abaixo do juro de equilíbrio.

A partir de maio, as taxas de juros projetadas na BM&F perderam fôlego. E virou dominante o grupo que projeta Selic de 7,5% neste ano. Para economistas, o nível do chamado juro neutro pode ser de fato menor que aquilo que o mercado vinha trabalhando. "Por tudo o que estamos vendo, acho que não se pode desconsiderar a possibilidade de o juro neutro estar perto de 2,5%", afirmou o economista-chefe do J.Safra, Carlos Kawall.