Título: Líder do PSDB anuncia apoio a Chinaglia e abre crise no partido
Autor: Costa, Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 12/01/2007, Política, p. A6

Num movimento surpreendente, o líder do PSDB na Câmara, Jutahy Jr., formalizou ontem o apoio da bancada de 66 deputados tucanos ao candidato do PT a presidente da Casa, Arlindo Chinaglia (SP). O anúncio, feito em Vitória (ES), onde Jutahy passa as férias, abriu uma crise no PSDB e abalou as relações do partido com seu principal aliado na oposição ao governo Lula, o PFL.

"É um despropósito total, o PSDB está se rebaixando", protestou o deputado José Aníbal (SP), que já presidiu a sigla e hoje integra a chamada "Terceira Via", grupo que discute a apresentação de um nome alternativo às candidaturas de Chinaglia e do atual presidente da Câmara, Aldo Rebelo. O grupo se reúne na terça-feira, em Brasília.

De início, Jutahy pretendia reunir a bancada na última semana de janeiro para decidir a posição do PSDB. A pauta tinha dois itens: apoio a Aldo ou "obedecer o critério da proporcionalidade", pelo qual o partido com maior bancada tem preferência na indicação do presidente da Câmara. Entre terça-feira e ontem mudou de idéia e fez uma consulta informal à bancada e à Executiva Nacional.

Sem revelar números, o líder anunciou que foi majoritária a posição de apoio a Chinaglia, sendo que houve votos também para Aldo e a "Terceira Via". Deputados reclamam que ao aprovarem "obedecer à proporcionalidade", não estavam necessariamente votando na candidatura do PT. Já na terça-feira, um grupo de dissidentes tucanos se reúne para tentar reverter a posição de apoio ao petista.

O deputado Sílvio Torres (PSDB-SP) divulgou nota na qual criticou a postura de Jutahy e propôs a antecipação da eleição para a escolha do novo líder do partido - que deverá ser Antonio Pannunzio (SP), ligado ao governador de São Paulo, José Serra, a exemplo de Jutahy.

"A bancada federal do PSDB não decidiu ainda qual candidato à presidência da Câmara apoiará. O anúncio feito pelo líder não reflete a decisão final de todos os deputados federais eleitos. Não houve consulta a todos os deputados que justifique um comunicado oficial", diz a nota divulgada pelo deputado.

Para José Aníbal, o critério da proporcionalidade é justo, mas foi "estilhaçado" no momento em que o PMDB abriu mão de seu direito de preferência. Dessa forma, o PSDB teria se precipitado ao anunciar apoio a um candidato escolhido com base "em um acordo político (do PT com o PMDB) que o partido desconhece". Segundo José Aníbal, "o PSDB é um partido que deveria estar ligado a causas, como a revitalização do Parlamento, e não a números".

O que Aníbal verbaliza, na realidade, é uma desconfiança que perpassa boa parte da bancada do PSDB: de que o apoio do líder se deu em troca do apoio do PT aos tucanos nas eleições para as presidências das Assembléias Legislativas de São Paulo e da Bahia. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso também teria manifestado contrariedade com o apoio.

O deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR) contestou a forma adotada por Jutahy. Na opinião de Fruet, o melhor seria reunir a bancada, em vez de consultas telefônicas conduzidas pelo líder. "Na bancada, haveria o debate que forma o contraditório e muitas pessoas poderiam mudar de opinião", disse.

Fruet avalia, no entanto, que "é difícil reverter a decisão tomada hoje, mesmo que ela vá para uma eleição na bancada" porque Jutahy ouviu grande parte dos deputados tucanos. "O PSDB se dividiu e isso não é bom para o partido. Temos que evitar que isso se repita", afirmou.

Chinaglia, que foi a Vitória para o anúncio de Jutahy, disse que o apoio do PSDB fortalece sua candidatura. Para ele, sua campanha deixa de ser exclusiva do PT e passa a ser institucional. "Agora a minha candidatura passa a ser não do PT, não da base ou da oposição, serei o presidente da Casa", disse. "Tenho agora o apoio do maior partido da oposição, que é o PSDB. Ficou claro que o PSDB optou pela proporcionalidade", afirmou. (Com agências noticiosas)