Título: Crise política afeta avaliação da economia
Autor: Felício, César
Fonte: Valor Econômico, 21/09/2006, Especial, p. A16

O escândalo da compra por petistas de dossiê contra o candidato tucano ao governo paulista, José Serra, já contamina a avaliação positiva do eleitorado sobre a situação econômica do país, um dos principais pilares da candidatura à reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo a pesquisa sobre a eleição presidencial do Ipespe, feita com mil entrevistas telefônicas no dia 19, com margem de erro de 3,2 pontos percentuais, interrompeu-se a curva ascendente dos eleitores que avaliavam a situação da economia brasileira no governo Lula como superior a da administração do seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso.

Entre 25 de julho a 12 de setembro, este percentual evoluiu de 45% para 59%. Na pesquisa de ontem, caiu para 57%, sem que qualquer fato econômico relevante tenha acontecido nestes sete últimos dias. A hipótese provável é a de contaminação da avaliação pelo noticiário. Segundo o levantamento, pela primeira vez o percentual de eleitores que considera o noticiário desfavorável ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (29%) é superior aos que o vêem favorável (27%). Há uma semana, o noticiário favorável predominava por três pontos percentuais. "A influência do noticiário azedou a percepção do eleitor em relação a todos os itens da pesquisa", afirmou Antonio Lavareda, presidente do conselho científico do Ipespe.

Lula também perdeu intenção de votos: oscilou de 48% para 46%, enquanto a soma de seus adversários passou de 38% a 40% em uma semana. Seu principal adversário, o tucano Geraldo Alckmin, oscilou de 30% para 31%. "Tecnicamente, seria arriscado afirmar que a tendência de a eleição se resolver no primeiro turno mudou. Mas avança-se claramente em uma zona de risco para Lula, já que a margem se estreita em um momento em que a percepção do eleitor sobre a sua candidatura piora", disse Lavareda. Na simulação de segundo turno, Alckmin consegue absorver todo o eleitorado dos outros candidatos: obtém 40% das intenções de voto, ante 51% de Lula.

A avaliação dos programas eleitorais também mudou, contra o presidente. Na sondagem de terça-feira, 32% dos pesquisados consideram que a propaganda de Alckmin é a melhor, ante 28% que fazem esta afirmação em relação á de Lula. Antes, Alckmin ganhava neste item por 31% a 30%. Lula também caiu de 32% para 30% entre os eleitores que o consideram com as melhores propostas, ao passo que Alckmin subiu neste quesito de 33% para 35%. Mesmo entre os eleitores lulistas, 17% afirmam que as propostas do tucano são mais interessantes. Apenas 2% dos eleitores de Alckmin dizem que as propostas de Lula são melhores.

O levantamento do Ipespe procurou ainda medir a preferência partidária espontânea do eleitor. Nada menos que 82% dos entrevistados dizem não ter preferência por partido algum. Dos 18% que declinaram alguma predileção, metade o fez pelo PT. O PMDB e o PSDB conseguiram 3% cada. "São resultados previsíveis, em um levantamento espontâneo, e não estimulado, da preferência partidária", opinou Lavareda.

A pesquisa indica ainda que o eleitor não está relacionando a escolha do candidato a governador com a sua decisão de voto para a eleição ao Senado e à Câmara. Dos pesquisados, 34% afirmam que irão escolher um candidato a senador dentro da mesma coligação do candidato a governador, ante 17% que afirmam que não irão fazê-lo e 49% que não sabem em quem votar. A pesquisa confirma ainda a definição tardia do voto para deputado federal e estadual: respectivamente 56% e 53% dos pesquisados afirmaram que ainda não escolheram seus candidatos.