Título: Construtoras expandem atuação para acelerar ritmo de crescimento
Autor: Boechat, Yan
Fonte: Valor Econômico, 21/09/2006, Empresas, p. B1

Passada a euforia das bem sucedidas captações com a abertura de capital no mercado de ações, as empresas do setor imobiliário estão adotando medidas agressivas para crescer de forma rápida e consistente afim de não frustrar as expectativas dos investidores. Com projeções de expansão da receita e dos lucros que não raro ultrapassam a casa dos 100% a curto prazo, Cyrela, Rossi e Gafisa, as três maiores do país, estão em uma corrida contra o tempo para conseguir ampliar seus resultados e mostrar que a aposta em suas ações não foi em vão. "Há uma expectativa alta de retorno por parte do mercado e por isso essas empresas estão investindo para expandir suas operações", afirma Eduardo Roche, analista que acompanha o setor no Banco Modal.

A Rossi, por exemplo, espera fechar 2007 com uma receita líquida próxima de R$ 1 bilhão, um crescimento superior a 100% daquele registrado em 2005. A Cyrela, por sua vez, estima uma expansão média anual da receita de 20%, pelos próximos cinco anos. Já a Gafisa não divulga suas estimativas de resultado, mas um relatório divulgado pelo Deutsche Bank esse mês dá uma idéia das expectativas do mercado.

De acordo com o documento distribuído aos investidores, o banco alemão acredita que em 2008 a empresa deva ter um faturamento de R$ 1 bilhão, mais de 100% superior ao de 2005. A Company e a Abyara, que também abriram o capital recentemente, preferem adotar um estilo mais lento de expansão.

Com um horizonte - ainda virtual, é verdade - tão bom, o mercado tem respondido de forma positiva. A Cyrela ON registra uma alta de 94,96% desde que chegou ao Novo Mercado da Bovespa, há exatamente um ano. No período o Ibovespa subiu apenas 14,14%. A Gafisa também teve um bom desempenho. Desde o dia 17 de fevereiro, quando estreou no pregão, suas ações subiram 48,65%, ante uma queda do Ibovespa de 8% no mesmo período. Já a Rossi vem acompanhando o índice da Bolsa de Valores paulista. Entre os dias 21 de janeiro e ontem as ações da companhia caíram 6,65%, enquanto o Ibovespa recuou 6,94% .

Para atender expectativas tão altas, as três maiores empresas do setor no país estão adotando a mesma receita: ampliar o número de lançamentos e aliar-se a pequenas construtoras locais fora do eixo Rio-São Paulo para entrar em mercados historicamente ignorados pelas grandes incorporadoras brasileiras. A estratégia atende a dois objetivos. O primeiro, e mais importante, seria a expansão em áreas onde a concorrência não é tão acirrada como em São Paulo, que concentra cerca de 40% do mercado imobiliário brasileiro. A capital paulista é tão disputada que, hoje, as dez maiores empresas do setor têm apenas 22% do mercado. No Rio, por exemplo, as dez maiores companhias do setor dominam cerca de 75% do mercado.

Por conta dessa disputa apertada, atingir as mesmas margens de retorno do passado está ficando cada vez mais difícil. "Os terrenos estão mais caros, a oferta é grande e, por conseqüência, os preços estão caindo", diz Antônio Fernando Guedes, diretor de novos negócios da Cyrela.

O segundo objetivo dessa estratégia é reduzir os riscos de uma operação tão concentrada, como ocorre hoje. Até o ano passado, as três grandes do setor centralizavam seus lançamentos na cidade de São Paulo e, em menor escala, no Rio. "Ampliando nossa área de atuação nós mitigamos esses riscos e conseguimos ter uma proteção para problemas regionalizados", diz Antônio Ferreira, diretor de novos negócios da Gafisa.

Além dessa segurança no que tange à operação em si, a expansão geográfica é, também, uma resposta aos investidores, que demonstram, ainda que não explicitamente, temor com essa concentração excessiva. "Estamos expandindo a área de atuação para reduzir os riscos e dar mais segurança aos acionistas", afirma Sérgio Rossi, diretor de relações com investidores da Rossi Residencial.

Todas as três empresas estão atacando regiões com um nível de desenvolvimento maior, que possam absorver projetos de médio e alto padrão, que dominam o mercado hoje. Nesse primeiro momento da expansão o foco são os estados da região Sul, Minas Gerais e Espírito Santo. A estratégia é replicar uma experiência que vem dando certo nos mercados paulista e carioca. Lançar imóveis voltados para a classe média alta, não tão impactada pelo, ainda, reduzido volume de crédito imobiliário no Brasil.

O movimento de expansão ainda não por ser considerado como uma nacionalização do setor, mas vem consumindo uma boa parte do capital das empresas. Na Gafisa, por exemplo, 32% de todos os lançamentos ocorridos no primeiro semestre foram em cidades fora do eixo Rio-São Paulo. Na Cyrela essa taxa superou os 10%. "Mas nosso objetivo é chegar a uma média de 20% de novos imóveis em outras regiões do país", afirma Guedes. Na Rossi não é diferente. De todos os projetos lançados esse ano, 42% também estão localizados fora das duas maiores cidades do país.

O resultado dessas estratégias e, principalmente, o impacto que elas terão no balanço dessas companhias, deve pautar os próximos passos desse mercado. No momento três empresas do setor estão em processo avançado para abrir o capital na Bolsa. A Klabin Segall, que deve fazer sua oferta pública no início de outubro, é a mais adiantada. Mas no seu encalço seguem a Tecnisa e a Brascan Imobiliária. "Ainda há espaço para novas aberturas de capital", afirma Rodrigo Lowndes, presidente do Morgan Stanley no Brasil. Mas, para ele, esse espaço não é assim tão grande. "No ritmo que a coisa está andando é provável que haja uma saturação de ofertas a médio prazo; não creio que os investidores terão apetite para tantas empresas desse mesmo setor.