Título: Pimentel prevê crise prolongada nos EUA e Europa
Autor: Lorenzo , Francine De
Fonte: Valor Econômico, 27/06/2012, Brasil, p. A3

A crise que atinge a Europa e os Estados Unidos será prolongada, na avaliação do ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel. "Não há perspectivas otimistas. Não existe saída visível no horizonte", afirmou ele, durante a abertura do 5º Congresso Brasileiro de Pesquisa, realizado em São Paulo.

Para Pimentel, a solução para a crise exigiria uma união bancária que, em sua opinião, a Europa não tem condições políticas de realizar. "Constitucionalmente, os maiores países da região estão impedidos de comprar títulos de risco, como é o caso da Alemanha. Se isso não é possível, o país não pode ser parceiro de um futuro Banco Central Europeu como autoridade monetária. Esse é um problema seríssimo, que eles vão ter que resolver."

Essa crise, segundo o ministro, é a "manifestação aguda e palpável de um processo de transformação" pelo qual o mundo está passando. O resultado disso, afirma, será uma profunda mudança no mundo que conhecemos. Para ele, a indústria não será mais a mesma, o dólar deixará de ser a moeda-padrão internacional e os países emergentes serão as próximas potências, incluindo o Brasil.

"O mundo não chega à metade do século XXI com o dólar como moeda de troca internacional", enfatizou Pimentel, sem arriscar um palpite sobre uma possível moeda substituta. Mas provocou: "Quem poderia dizer na época do lançamento do euro que a moeda entraria em crise, colocando em risco todo o bloco? Quem diria, 15 anos atrás, que os títulos da dívida soberana do Brasil seriam avaliados como de menor risco que os da França, da Espanha, de Portal, da Inglaterra? Se isso não é uma mudança do padrão monetário internacional, não sei o que é."

Em seu exercício sobre as transformações no paradigma global, Pimentel ressaltou que as mudanças nos modelos industriais já estão em curso. Um exemplo, segundo ele, é a fabricação do iPhone.

"Não há mais uma indústria centralizada, localizada em um único local. Não há um componente do iPhone produzido nos Estados Unidos", observou. "Teremos que nos adaptar a essa nova realidade, que ainda não conhecemos. Será uma questão de tentativa e erro."

As mudanças, acrescenta Pimentel, não estão somente na produção. Atingem também o consumo. "Hoje olhamos consumidores que antes eram desprezados. Quem é esse consumidor da classe C? Ninguém sabe."

As novas potências mundiais, que emergirão desse processo de transformação, diz Pimentel, serão aquelas que apresentarem quatro características fundamentais: contingente populacional grande e forte o suficiente para formar um mercado consumidor dinâmico, recursos naturais abundantes, desenvolvimento tecnológico e democracia.

O Brasil, destaca o ministro do Desenvolvimento, conta com três dos quatro quesitos. "Ainda estamos devendo o avanço tecnológico, mas estamos progredindo." Já a China, comenta, tem um problema de difícil solução: a limitação em sua produção de alimentos e energia. "Os chineses sempre serão dependentes desses itens, o que os obriga a manter parceria com outros países", observa o ministro, lembrando que também há dúvidas sobre a política no país.

"O que me faz crer que o Brasil está no caminho certo para se tornar uma das novas nações líderes é o seu passado. Nos últimos 30 anos, acertamos mais do que erramos. Mas isso não significa que não seremos afetados pela crise", disse Pimentel.