Título: Chuva causou rompimento, diz mineradora
Autor: Barros, Bettina
Fonte: Valor Econômico, 12/01/2007, Especial, p. A12

O governo mineiro exigiu ontem que a mineradora Rio Pomba Cataguases tome providências imediatas para evitar que novas chuvas provoquem o deslizamento do restante da lama da barragem em Miraí. Cerca de 40% dos rejeitos do processo de lavagem da bauxita ainda estão na cava de contenção. Na madrugada da quarta-feira, a barragem rompeu, vazando 2 milhões de metros cúbicos de lama para o Rio Fubá.

A empresa, que já foi multada em R$ 75 milhões, terá de apresentar hoje uma proposta para avaliação dos técnicos dos órgãos envolvidos na operação de emergência. O mais provável é que seja feito o desvio do curso do córrego Bom Jardim que passa pela barragem.

A Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam) já encaminhou cópia do auto de fiscalização à mineradora, notificando a interdição definitiva das atividades no município. A direção da Rio Pomba Cataguases divulgou nota informando que não deixará de assumir suas responsabilidades.

Esse foi o segundo acidente ambiental provocado por vazamento da barragem em Miraí em menos de um ano. O primeiro ocorreu em março de 2006. Na nota, a mineradora garante que o acidente desta semana foi provocado pelo excesso de chuvas e não tem nenhuma relação com o anterior, conseqüência de um deslocamento de placas do vertedouro.

A empresa não comentou a interdição definitiva das atividades e informou apenas que seu departamento jurídico vai avaliar as providências cabíveis. Por ser reincidente, a Rio Pomba recebeu multa ampliada, superior aos R$ 50 milhões de multa máxima estabelecida pela legislação ambiental de Minas Gerais. De acordo com a lei estadual, a mineradora terá de ressarcir as despesas do poder público.

O vazamento de lama afetou municípios da Zona da Mata e também do Rio de Janeiro. Promotores de Justiça dos dois Estados vão trabalhar em conjunto para apurar as causas do rompimento da barragem. Segundo o secretário de Meio Ambiente de Minas, José Carlos Carvalho, o governo espera que os empreendedores sejam responsabilizados civil e criminalmente pelos danos ambientais.

Para o governador em exercício do Minas, Antônio Anastasia, a prioridade é prestar assistência à população atingida. Ontem, ele reuniu representantes de todos os orgãos envolvidos na operação de emergência na região para definir ações que garantam mais agilidade no atendimento.

Em Miraí, a lama atingiu mais de um metro de altura, causando perdas ainda não calculadas. Mais de 4 mil moradores estão desalojados, recebendo ajuda da Defesa Civil. A população está sendo orientada por funcionários da Secretaria de Saúde para prevenir doenças decorrentes de enchentes.

O Departamento de Estrada de Rodagem (DER) levou para Miraí máquinas e caminhões basculantes para ajudar na limpeza da cidade. A Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) já disponibilizou 38 caminhões-pipas e 140 mil com copos de água potável para atendimento das cidades atingidas, inclusive as do Rio de Janeiro.

O monitoramento da qualidade das águas está sendo feito pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) nos rios Fubá e Muriaé e os primeiros resultados dos exames devem ser divulgados hoje. Devido ao excesso de lama nos rios, a captação de água teve de ser suspensa em alguns pontos, comprometendo o abastecimento de vários municípios.