Título: Mundial investe em beleza com produtos feitos na Ásia e EUA
Autor: Bueno, Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 21/09/2006, Empresas, p. B4

A Mundial, tradicional marca gaúcha de artigos de cutelaria, está reforçando a sua linha de produtos de beleza e utensílios domésticos com importações de China, Taiwan, Coréia, Índia e Estados Unidos.

Depois de investir cerca de R$ 40 milhões nos dois últimos anos no aumento da produção de artigos de cutelaria e de componentes de fixação para a indústria do vestuário nas unidades de Gravataí e Caxias do Sul, a Mundial está complementando suas linhas com itens desenvolvidos e fabricados sob encomenda por fornecedores internacionais. Comprados principalmente na China, mas também em Taiwan, na Coréia, na Índia e até nos Estados Unidos, os novos produtos reforçam a atuação da empresa nos segmentos de beleza pessoal e de utensílios domésticos e comerciais, disse ao Valor o presidente do conselho de administração e diretor superintendente, Michael Ceitlin.

Os produtos mais recentes colocados no mercado com a marca Mundial são secadores com controles digitais de temperatura e "chapinhas" para alisar cabelos fabricados na China, onde os custos de produção são pelo menos 50% inferiores aos do Brasil, afirma Ceitlin. Esses aparelhos complementam os artigos da linha de beleza pessoal, que incluem tesouras, alicates de cutículas e cortadores de unhas, e estão sendo distribuídos ainda em pequenas quantidades nos últimos seis meses. A partir de 2007, a empresa fará um esforço concentrado de vendas desses itens.

No mesmo segmento, a Mundial também iniciou a importação de barbeadores fabricados nos EUA e vendidos com a marca Kyos. Os produtos estão no mercado há seis meses e vão ganhando espaço "progressivamente" em função da qualidade, afirma Ceitlin. A linha inclui ainda loções, espumas e gel para barbear, além de desodorantes e sabonetes produzidos por fornecedores terceirizados no Brasil.

"Buscamos produtos para complementar nossas linhas, mas que tenham qualidade e sejam competitivos", comenta Ceitlin. A Mundial já produz na China panelas e baixelas de alumínio vendidas com a marca Hércules e há um ano e meio começou a trazer da Ásia pequenas ferramentas manuais, como alicates, chaves de fenda e tesouras mais simples da linha Eberle Crafts.

No próximo ano também chegará ao mercado a linha Eberle Solutions, formada por materiais para uso em escritórios e atividades escolares fabricados pelos fornecedores asiáticos.

A empresa também está implantando, neste mês, um escritório próprio em Hong Kong que será encarregado de prospectar novos fornecedores de produtos acabados. De acordo com o superintendente, cerca de 5% do faturamento da Mundial, que chegou a R$ 331,2 milhões brutos em 2005 e a R$ 159,3 milhões no primeiro semestre de 2006, já corresponde à venda de itens fabricados fora do Brasil. Mas, em cinco anos, esta participação deve alcançar um terço dos negócios, estima o executivo.

A base em Hong Kong também servirá de ponto de apoio para a exportação direta dos produtos fabricados na região para os demais mercados em que a Mundial atua, como Estados Unidos, América do Sul e Central, Europa, Austrália e o próprio sudeste da Ásia.

Hoje a empresa exporta, em média, US$ 22 milhões por ano em artigos produzidos no Brasil, em especial tesouras, facas estampadas e forjadas para uso profissional (que chegam a ser vendidas a US$ 100 ao consumidor final no exterior) e componentes de fixação de vestuário, como botões de pressão e ilhoses.

Com o aumento da produção na Ásia, o volume de exportações também deve crescer bastante, estima o superintendente da Mundial. Ele ainda não tem projeções definitivas, mas só neste ano os produtos feitos na região podem render pelo menos US$ 1 milhão. "Temos presença forte em muitos mercados, mas nos faltava maior amplitude de linhas com competitividade", comenta. Segundo Ceitlin, só as matérias-primas empregadas no processo de fabricação na China custam de 15% a 20% a menos do que no Brasil em função dos grandes volumes adquiridos pelas indústrias locais.

No Brasil, as fábricas da Mundial receberam, nos últimos dois anos, investimentos de R$ 40 milhões que aumentaram entre 30% e até 100% a capacidade de produção de algumas linhas.

Só em componentes de fixação (os botões e os ilhoses, por exemplo), os volumes atuais chegam a 2 bilhões de unidades por ano. Nas linhas de cutelaria (facas, tesouras e alicates de cutícula), são fabricadas cerca de 25 milhões de peças anuais.