Título: Academias do Sul fazem a maior ginástica para fidelizar os clientes
Autor: Bueno, Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 21/09/2006, Caderno Especial, p. F2

Há cerca de dez anos, o desejo de ter um corpo com músculos bem definidos era a principal motivação dos alunos que suavam nas academias de ginástica e musculação. Agora, a preocupação já não é mais apenas estética. Como muita gente quer ter mais saúde e disposição, o negócio da "malhação" vive fase de forte expansão, com crescimento acelerado do número de empresas em operação.

"Há quatro anos havia menos de 100 academias registradas em Porto Alegre; hoje são 600", revela a presidente do Conselho Regional de Educação Física (Cref2/RS) do Rio Grande do Sul, Jeane Marques Cazelato. Em todo o Estado, o número já chega a 1 mil, mas para cada empresa fiscalizada pelo conselho há pelo menos mais uma ou duas "informais", que não operam com profissionais formados e instalações adequadas nem pagam impostos, calcula Jeane.

Com a concorrência, o setor está abandonando o amadorismo e passa por um surto de profissionalização, com métodos estruturados de administração e com mais atenção às necessidades dos clientes, explica o presidente da Associação das Academias de Ginástica do Estado (Acad/RS), Rogério Menegassi. Ao mesmo tempo, há um esforço para promover a idéia de que a atividade física é um "plano de saúde" para preservar a qualidade de vida, relata.

As empresas também procuram oferecer cada vez mais serviços, como fisioterapia e acompanhamento nutricional, e modalidades, como "jump", Pilates, bicicleta "indoor" e danças de salão. "Buscamos novidades para a atividade não ficar maçante", diz Menegassi. Segundo ele, as estimativas são de que 2% da população brasileira freqüentem academias. "Temos que buscar parte dos 98% que estão fora", afirma. "Nos EUA, o percentual chega a 14%, mas se conseguirmos alcançar 4% todo o setor ficaria bem".

Segundo Menegassi, 80% dos empresários são formados em educação física. Como em outros cursos, as universidades não oferecem disciplinas relacionadas à administração e por isso muitos profissionais estão buscando - além de pós-graduações na atividade de origem - especializações em áreas como gestão empresarial, marketing e qualidade.

O nível mais elevado de organização reflete no número de filiadas à Acad/RS, que triplicou nos últimos dois anos, para 100 academias. O Conselho Regional de Educação Física também já constituiu uma comissão para desenvolver um "selo que qualidade" para o setor, com indicadores como formação dos professores, equipamentos e instalações.

Uma academia média em Porto Alegre tem de 300 a 400 alunos e fatura de R$ 20 mil a R$ 30 mil por mês. Isso requer boa dose de planejamento, pois as empresas precisam investir na manutenção e na renovação de equipamentos caros. Uma boa esteira para corrida, por exemplo, pode variar de R$ 6 mil até R$ 25 mil no caso das importadas, conta Menegassi.

Não há estatísticas sobre a longevidade das academias. O presidente da Acad/RS acredita que o setor se encaixe na realidade apontada pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), de que 60% das microempresas não conseguem completar cinco anos de vida. Por isso, o esforço do setor é para tornar-se mais longevo.

Um exemplo é a Tentos, do grego Nicolas Copsachilis, ex-campeão nacional de boxe na categoria meio-pesado e integrante da equipe do país nas Olimpíadas de Munique (1972). Ele montou a academia em 1983, com a professora de balé gaúcha Sandra Sachs, e mantém a empresa até hoje - com uma média de 500 a 600 alunos. Consegue isso graças a constantes inovações nos programas de treinamento, nos equipamentos e no cardápio de modalidades oferecidas para garantir a fidelidade dos clientes.

"O desafio é manter o público, que tende a seguir a academia, o bar ou o restaurante da moda", afirma Copsachilis. Aos 54 anos, mas aparentando pouco mais de 40 devido à longa dedicação aos esportes, ele se orgulha de nunca ter sido "atingido" pelas concorrentes que nasceram e morreram ao longo dos anos e também da relação duradoura de trabalho com os professores.

Outra estratégia da Tentos é não se render à guerra de preços praticada por academias menos estruturadas - que, segundo Menegassi, da Acad/RS, chegam a cobrar irrisórios R$ 30 por mês - e mantém mensalidades entre R$ 115 a R$ 140. É um valor padrão para empresas do mesmo porte, mas abaixo do praticado pela recém-inaugurada Body One, que tem entre os sócios o empresário Paulo Afonso Feijó, ex-presidente da Federação das Associações Empresariais do Estado (Federasul). Ali, a mensalidade vai de R$ 172 a R$ 240.

Reconhecida pelos concorrentes como a maior e mais sofisticada academia da cidade, a Body One pretende conquistar pelo menos mil clientes nos três primeiros meses de operação. Espaço não falta. Em 3,4 mil metros quadrados de área construída, distribuem-se salões para musculação, ginástica, esteiras (com TV a cabo), Pilates, massagem, alongamento, bicicleta, dança, yoga e serviços de apoio. "Nossa intenção é montar uma rede com o reinvestimento dos resultados no próprio negócio", diz Feijó.