Título: Rendimento na agropecuária registrou segunda maior alta
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Fonte: Valor Econômico, 26/06/2012, Brasil, p. A3

O salário de admissão no setor agropecuário foi o segundo que mais cresceu nos últimos anos. De acordo com o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), desde 2007 a valorização no setor foi de 65,8% - abaixo apenas dos 91,7% da indústria extrativa, mas à frente do ganho de 53% no setor de transformação no mesmo período. A mecanização do campo e a formalização dos trabalhadores explicam o avanço de sua remuneração.

A questão ambiental trouxe uma série de exigências às atividades no campo, como a proibição do corte da cana-de-açúcar pela força de trabalho humana, e sua substituição pela máquina. Esse processo reduz o número de trabalhadores menos especializados - e mais baratos - e aumenta a demanda pelos mais qualificados.

De janeiro maio, um trabalhador admitido no setor agropecuário foi contratado, em média, por R$ 778,14, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Em 2007, esse valor era de R$ 469,26. Contudo, sua remuneração ainda é a menor entre os oito setores da economia, segundo a divisão do Caged.

"Quem investe no setor agropecuário, hoje, investe é em mecanização. Há uma geração menor de empregos, mas com um nível salarial melhor. É muito claro que haverá cada vez menos gente nos campos e mais máquinas", diz José Carlos Hausknecht, sócio da consultoria MB Agro.

A formalização do mercado de trabalho no setor contribui diretamente para esse aumento da remuneração. Sem carteira assinada, muitos trabalhadores recebiam salários menores que o mínimo. Formalizados, seus rendimentos passaram a, pelo menos, acompanhar o piso nacional, que se valorizou na última década - somente em 2012 o reajuste foi de 14%.

"O setor agrícola passou por um forte processo de formalização durante o governo Lula. Muito disso se deve aos investimentos em tecnologia, que demanda mão de obra mais qualificada", afirma Guilherme Dias, professor da Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo (USP) e especialista em economia agrária e de recursos naturais.

Naercio Menezes de Aquino, coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper, reconhece a importância da formalização no aumento dos salários do setor, mas acredita que isso decorre, principalmente, do ganho de produtividade. "Houve um aumento importante da demanda por produtos agropecuários, que forçou maior mecanização e busca por profissionais qualificados num período de desemprego decrescente", diz.

O economista calcula, a partir de dados das contas nacionais e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), que a produtividade do setor agropecuário aumentou 52,9% entre 1996 e 2009. No mesmo período, os salários médio no setor cresceram 52,0%. Na indústria de transformação, um menor reajuste de salários (27,3%) decorre da estagnação do setor, cuja produtividade cresceu 5,7% no mesmo período, na avaliação de Menezes Filho. (CG)