Título: Interesse por cursos faz mercado se diversificar
Autor: Torres, Carmen Lígia
Fonte: Valor Econômico, 21/09/2006, Caderno Especial, p. F4

Embora a educação continuada e a atualização dos conhecimentos sejam práticas necessárias em todas as áreas de atuação profissional, nas micro e pequenas empresas a formação e a continuidade do processo de aprendizagem ganha destaque central.

Para uma população que, até há pouco tempo, tinha o vínculo trabalhista como padrão, lançar-se no universo do empreendedorismo e ter sucesso nele é uma transformação que só será bem-sucedida se houver disposição para aprender e aprender sempre.

"A gente não pode parar de fazer cursos, porque vão aparecendo as necessidades, conforme o negócio vai evoluindo", diz Teresinha de Jesus, proprietária do Teras Buffet, localizado na Vila dos Remédios, zona sul de São Paulo. O buffet de Teresinha existe formalmente há 15 anos, apesar de ela estar no ramo há 25 anos. Começou fazendo salgados e doces em casa e foi avançando. Primeiro para um barracão cedido pelo sogro, depois para uma loja equipada com ampla cozinha industrial e, agora, está prestes a ter seu próprio salão para os eventos, além de já manter uma rotisserie na mesma região. Apenas na cozinha, administra 10 funcionários.

Teresinha não entendia nada de fluxo de caixa, gestão ou administração de pessoas. O que sabia era pilotar o fogão. "Fui aconselhada por amigos a partir para os cursos e já fiz vários no Sebrae-SP, todos muito bons", diz.

Com o aprendizado que teve, ela conseguiu organizar e planejar sua atividade, manter as receitas financeiras e despesas em ordem e, ainda, gerir as relações familiares em seu empreendimento, já que seu marido e uma das três filhas trabalham no Teras.

O Sebrae oferece uma infinidade de cursos, para todos os segmentos de micro e pequenos empresários. Há desde os tradicionais cursos práticos e instrumentais, sobre contabilidade e fluxos de caixa, por exemplo, até outros mais recentes e que foram agregados devido às novas demandas do mercado. Exemplos desses são os cursos sobre sucessão empresarial, estratégia de informatização e preparação para concorrência pública. "As compras públicas começam a ser dirigidas às micro e pequenas no Brasil somente agora, diferentemente dos EUA, onde o segmento já está incorporado há muitos anos como fornecedor do Estado", diz Emerson Morais Vieira, gerente de educação do Sebrae-SP.

Escolas de prestígio de São Paulo também começam a voltar-se para o segmento, lançando cursos que agregam conhecimentos de grande valia para esse público.

"Existe grande carência de informações na área de direito, desde planejamento jurídico, passando por práticas de governança corporativa e até questões básicas de direito societário e tributário", diz Roberta Mioac Prado, coordenadora do núcleo de negócios e planejamento da Faculdade de Direito da Fundação Getúlio Vargas São Paulo.

Há um ano e meio, o núcleo criou um curso de governança coorporativa e organização jurídica para auxiliar as empresas a entenderem o que são essas práticas e, utilizando o conhecimento adquirido, aproveitarem melhor o potencial do negócio. "As grandes empresas em geral têm um escritório de advocacia responsável pelas questões legais, mas as pequenas precisam do conhecimento para seu dia-a-dia", diz. Ela esclarece que governança corporativa, diferentemente do que muitos acreditam, não é um conceito válido apenas para as grandes empresas, de capital aberto. "As micro e pequenas podem aproveitar muito dessas práticas", diz.

Na Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV-EAESP), há uma pós-graduação específica para micro e pequenos empresários. O curso, com duração de dois semestres, utiliza métodos de aprendizado a distância em conjunto com aulas presenciais.

A Fundação Instituto de Administração/USP (FIA) e a Federação da Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) também criaram, recentemente, um curso de pós-graduação dirigido especialmente a micro e pequenos industriais, para mantê-los atualizados em relação às mudanças tecnológicas aceleradas que vivem as indústrias.

Com o apoio da Fundação Euvaldo Lodi e da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o curso se propõe a transmitir novas metodologias e conceitos de gestão, incluindo desde planejamento estratégico até elaboração de projetos de investimentos. "A prática é enfatizada, com o desenvolvimento de um trabalho de mercado em uma empresa real, orientado por professores do curso", diz Luciene Soares, assistente da coordenação.

Na Brazilian Business School (BBS), o MBA executivo também adotou a visão do empreendedorismo para formar o aluno. "Nossa preocupação é desenvolver a visão empresarial que capacite o executivo a tomar decisões, com base em variáveis diversas", diz Eraldo Fiori, coordenador acadêmico. Para conseguir isso, a BBS organizou, em seu curso de 480 horas/aula, as disciplinas que fazem parte dos negócios de maneira interrelacionada.

Como método para atingir essa meta, a BBS procura aliar, a exemplo das outras escolas, as noções conceituais com a prática, ministrando aulas teóricas e abordando analiticamente casos de todos os portes de empresas.