Título: Relatório do BC deve assumir projeção menor para PIB
Autor: Bittencourt , Angela
Fonte: Valor Econômico, 26/06/2012, Política, p. A7

O Banco Central (BC) deverá usar toda a habilidade disponível para evitar que o governo assista ao seu pior pesadelo nesta semana, quando a instituição divulgar o Relatório Trimestral de Inflação. A ideia de que o fundo do poço para a atividade ficou para trás, em 2011 - quando a economia avançou 2,7% - pode ser formalmente revista.

O Relatório de Inflação - importante instrumento de comunicação da autoridade monetária - refere-se ao segundo trimestre e, para ser fiel ao momento, deverá atualizar a projeção para o Produto Interno Bruto (PIB) deste ano. A indicação do BC, cravada em 3,5% em dezembro, aí permaneceu no relatório de março. Mas é hora de mudar, dado o cenário explícito de fraqueza da atividade.

Essa é a expectativa dos analistas, que reconhecem, contudo, a possibilidade de o BC temperar com algum senso político a sua postura técnica e assim evitar arrastar sua previsão de crescimento ao intervalo medíocre projetado pelo mercado - de 1,5% a 2%. Na semana passada, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, ao considerar "piada" uma revisão de projeção para o PIB feita pelo Credit Suisse, indicou que o governo não quer lidar com uma perspectiva sombria, trabalha com cenário melhor e continuará batalhando por resultado bem mais animador.

Se um novo balizamento para a expansão da economia neste ano é visto como uma pedra no sapato do BC, o mesmo não ocorre com a inflação. Nessa seara os ventos sopram a favor, até porque a atividade é frustrante. O Relatório de Inflação não deve trazer indicações muito diferentes das apresentadas na ata do Comitê de Política Monetária (Copom), arriscam alguns analistas, que veem a situação propícia para o Banco Central capitalizar o declínio das expectativas com os preços.

No cenário de mercado, explicou o Copom no início de junho, a projeção para a inflação de 2012 diminuiu e se encontra em torno do valor central da meta para a inflação. Para 2013, a projeção se manteve estável no cenário de referência e recuou no de mercado, mas ainda se posiciona, nos dois casos, acima do valor central da meta.

Ontem, a pesquisa Focus confirmou nova melhora nas expectativas. A inflação esperada para este ano caiu pela sexta semana seguida e rompeu o suporte de 5%, para 4,95%. Para 2013, a variação esperada para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) recuou pela segunda semana, para 5,5%. A inflação apontada para os próximos 12 meses também cedeu, confirmando o discurso do BC na ata divulgada no início de junho, em que as expectativas que conspiram a favor da instituição ganharam particular destaque.

"A inversão na tendência da inflação contribuirá para melhorar as expectativas dos agentes econômicos, em especial as dos formadores de preços, sobre a dinâmica da inflação neste e nos próximos trimestres. Adicionalmente, o comitê entende que essa melhora no sentimento tende a ser potencializada pela moderação observada nos últimos trimestres na dinâmica dos preços ao produtor", afirmou o Copom.

Outro dado que prepara terreno positivo para o Relatório de Inflação de junho é o IGP-M que sai na manhã de quinta-feira. Esse índice pode cair praticamente à metade em um mês, confirmando forte desaceleração dos preços no atacado - agrícola e industrial.