Título: PMDB retira candidatura para apoiar PSB no Recife
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Fonte: Valor Econômico, 26/06/2012, Política, p. A12

Pouco tempo depois de confirmada a reconciliação entre o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB) e o governador Eduardo Campos (PSB), o PMDB de Pernambuco anunciou ontem a retirada de seu pré-candidato à Prefeitura do Recife, o deputado federal Raul Henry. A decisão reflete o entusiasmo dos pemedebistas com o rompimento da aliança entre PSB e PT, oficializado pela entrada do ex-secretário estadual de Desenvolvimento Econômico Geraldo Júlio (PSB) na corrida municipal.

O PMDB de Pernambuco pertence à ala rebelde do partido. Dois meses atrás, a legenda era a principal força de oposição a Campos.

Em nota, o PMDB justificou sua decisão de apoiar o PSB com elogios a Campos e críticas à gestão petista: "É inaceitável que o Recife tenha uma educação situada entre as piores do Brasil, um sistema público de saúde sucateado, a total ausência de políticas para a juventude e a inexistência de ações voltadas ao transporte público."

"Em contrapartida, é adequado reconhecer que o governador Eduardo Campos tem realizado um trabalho para melhorar a vida da população com elevada aprovação dos pernambucanos", segue a carta.

Informações de bastidores ainda dão conta de que o PPS local, liderado pelo ex-deputado federal Raul Jungmann, também poderá anunciar nos próximos dias apoio ao PSB. Mesmo se isso não acontecer, Geraldo Júlio já terá garantido grande vantagem no tempo do programa eleitoral de rádio e televisão.

Nas entrevistas que antecederam o acordo de paz com Campos, o senador pemedebista insistia que o voo nacional pretendido pelo governador só seria possível no momento em que Campos desvinculasse sua figura à do PT.

No comando da capital pernambucana desde 2001, o PT fica em situação delicadíssima. Se não quiser marchar sozinho, o partido terá que se engajar nas negociações com aliados caninos de outrora, caso do PCdoB, que tendem a seguir com o grupo de Campos.

O diretório nacional do PT rejeitou ontem o recurso do prefeito de Recife, João da Costa, que pediu a revisão da decisão da executiva nacional de impor a candidatura do senador Humberto Costa (PT-PE) contra a dele nas eleições municipais deste ano. Foram 49 votos contra o recurso, 19 a favor e 3 abstenções.

Diante da decisão, o prefeito poderá optar por três caminhos. Um, mais radical, de recorrer à Justiça Eleitoral, em um claro enfrentamento a Costa e à cúpula partidária. Outro, intermediário, de licenciar-se do partido, o que o desobrigaria de fazer campanha para o senador. E um terceiro, mais adesista, de apoiar Costa. O PT, em troca, lhe garantiria a indicação da vice.

À exceção da primeira saída, as outras duas acenam para o afastamento do PT e do PSB local e nacionalmente. Isso era perceptível ontem, com o incômodo dos dois lados deste embate interno petista com o governador Eduardo Campos, que também preside o PSB nacional. No fim da reunião, ele virou o alvo preferencial.

O presidente do PT, Rui Falcão, foi dos mais enfáticos. "Eles [PSB] querem se firmar em cima do PT em alguns lugares, principalmente no Nordeste", disse. Ao falar da aliança do PMDB e do PSB no Recife, se disse surpreso: "Fiquei surpreso porque parecia que havia outra intenção".

Questionado se o PT, em retaliação, retiraria o apoio à reeleição do prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda (PSB), a resposta foi dura. "Não vamos reconsiderar o apoio a Lacerda porque temos palavra e compromisso político", em alusão não só a Recife, mas também a Fortaleza, onde o PSB não vai apoiar o PT. O governador justificou a decisão com o argumento de que a luta interna do PT iria prejudicar a candidatura. Sobre isso, Falcão também se defendeu. "Tenho outra opinião. Sobre a dinâmica do PT decidimos nós, não o governador Eduardo Campos. Não fomos nós que menosprezamos a aliança, quem não quis aliança foi ele."

As eleições presidenciais de 2014 também foram lembradas como possível fator de influência nessas decisões de Campos que o afastaram do PT em algumas capitais.

Um dos principais apoiadores do prefeito João da Costa, o deputado federal Fernando Ferro (PT-PE), colocou a tentativa de Campos de ser hegemônico. "O PSB está disputando a hegemonia nacional e o governador está fazendo a hegemonia local. 2014 já começou. Só não vê quem não quer", declarou.

Integrante do diretório nacional, o ex-deputado Paulo Rocha disse que o afastamento de Campos "pode dar problema lá na frente". Ele sugeriu ter havido um lance proposital na estratégia do governador de dividir o PT em Pernambuco. "Quem quiser dividir o PT é só se meter nas suas divergências internas."