Título: Carestia até na internet
Autor: Hessel, Rosana
Fonte: Correio Braziliense, 16/10/2010, Economia, p. 16

Com preço médio de R$ 199 pelo acesso de alta velocidade, país figura no topo da lista dos que cobram cifras elevadas pelo serviço

A forte valorização do real, aliada à pesada tributação de até 40% sobre a banda larga móvel no Brasil, faz com que o país divida com o Zimbábue o topo da lista das nações com a internet mais cara do planeta. Nos dois países, o preço médio cobrado pelo serviço de terceira geração (3G), com velocidade de 2,1 megabytes por segundo (Mpbs), é de R$ 199. Com isso, os brasileiros pagam muito mais pelo acesso à rede que usuários de nações sem muita expressão no cenário mundial, como Congo, Haiti e Bangladesh. Levantamento da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad) mostra que o valor médio mundial registrado para planos semelhantes é de R$ 77,48.

"Notamos uma enorme variação, com alguns países oferecendo esse serviço por menos de R$ 33,30 por mês, enquanto outros cobram mais de R$ 166,50", afirma o estudo da Unctad, produzido sobre países considerados emergentes. Os números fazem parte de um trabalho global sobre como o uso da tecnologia da informação pode contribuir para combater a pobreza ao redor do mundo. Na visão do organismo internacional, os governos de nações em desenvolvimento deveriam dar mais importância ao setor de tecnologia e comunicação a fim de reduzir a desigualdade social.

Caso houvesse mais estímulos para a criação de empresas de pequena escala, sugere a pesquisa, mais benefícios poderiam ser divididos pelas populações dessas regiões. "Microempresas estão crescendo rapidamente em países de baixa renda e podem oferecer empregos, o que gera um valor real aos cidadãos que dispõem de menos recursos e educação. Essas atividades incluem a compra e venda de computadores, a manutenção e conserto de PCs (personal computers) e o gerenciamento de lan houses", detalha o estudo.

Salto A Unctad lembra, contudo, que poucos países em desenvolvimento mostram-se envolvidos na criação de serviços para a área da tecnologia da informação (TI). "As exportações estão geograficamente muito concentradas. Na China, de longe o maior exportador do ramo, pudemos notar uma contribuição significativa da fabricação desses produtos, que acabou atingindo positivamente a renda dos mais pobres." Todavia, mesmo com preços tão altos quando comparados aos de países desenvolvidos, o Brasil continua registrando um vertiginoso crescimento no número de acessos à internet móvel. Somente no primeiro semestre de 2010, foram 11,9 milhões de conexões via 3G, ultrapassando o volume de 11,8 milhões de usuários de serviços de banda larga fixa (cabo, fibra óptica e rede de telefonia).

Os dados divulgados pela fabricante de equipamentos de rede Huawei e pela consultoria Teleco apontam que nos três primeiros meses de 2010 houve 4,9 milhões de novos acessos móveis. Segundo a pesquisa, o crescimento da internet móvel brasileira está relacionado à baixa cobertura oferecida por serviços fixos e pelo aumento do interesse dos consumidores por celulares compatíveis com a tecnologia 3G. Em um ano, esses produtos venderam quase seis vezes mais.