Título: Despreparo e tributos são armadilhas mortais
Autor: Cintra, Luiz Antonio
Fonte: Valor Econômico, 21/09/2006, Caderno Especial, p. F7

Observe bem aquela pequena academia de ginástica recém-aberta na rua da sua casa ou a nova lanchonete instalada perto do seu escritório. Em menos de cinco anos ambas devem baixar as portas. Esse é o destino de 56% das 500 mil novas empresas que abrem anualmente as portas no Brasil. Desse total, 99% são micro e pequenas empresas (MPEs) e um terço situa-se no Estado de São Paulo. Ao mesmo tempo em que são as principais responsáveis pela alta taxa de natalidade dos novos negócios gerados, os erros dos seus donos as levam a ocupar também o primeiro lugar na lista de mortalidade.

Negócios provenientes do setor de serviços, um dos mais visados pelos pequenos empreendedores, estão entre as principais vítimas de abertura e fechamento de empresas. O problema também afeta a indústria e o comércio. Segundo Marco Aurélio Bedê, gerente de pesquisas econômicas do Sebrae-SP, em 2001, a taxa de mortalidade das empresas de até cinco anos era de 71%. Em 2003, o índice baixou para 65% e atingiu 56% no ano passado.

A taxa está caindo, o que é positivo. Segundo Bedê, essa melhoria é resultado de ações governamentais variadas, que têm surgido desde a metade da década passada, a favor das MPEs. Entre elas: o estatuto das micro empresas e das empresas de pequeno porte (de 1999), a criação do Simples Federal (em 1996) e do Programa de Recuperação Fiscal (de 1999 a 2000) e o surgimento de programas de microcrédito. Além disso, as pequenas têm buscado se capacitar mais. "Há cinco anos, somente 5% dos pequenos empreendedores procuravam o Sebrae para cursos, palestras e consultoria. Hoje, 17% fazem isso", conta Bedê.

O problema é que embora o índice esteja caindo, ele ainda é o mais alto do mundo. Segundo a Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a taxa de mortalidade entre as MPEs alemãs é de 37% e as americanas, 50% (ver tabela). Se o Brasil registra 56%, a culpa deve ser atribuída principalmente à falta de preparo administrativo e técnico do pequeno empreendedor.

Por falta de emprego, Gesner Oliveira, professor da FGV-EAESP e sócio da Tendências, diz que muitos brasileiros se arriscam na abertura de um negócio. "Geralmente, no setor de serviços é fácil começar uma empresa. O difícil é mantê-la", diz Oliveira. De forma geral, faltam recursos e planejamento.

Segundo Jaison Vieira, gerente-geral da Associação Comercial de São Paulo, essa ausência leva à falta de capital de giro e de clientes, a problemas financeiros e à inadimplência. Resultado: o empreendedor fracassa.

O governo também leva culpa por oferecer políticas insuficientes de apoio, o que inclui impostos altos, burocracia e dificuldade de acesso ao crédito. Para piorar, a conjuntura econômica atrapalha. O baixo crescimento do PIB sinaliza tempos difíceis aos pequenos empresários. De forma geral, Bedê diz que fatores externos unidos a uma série de outros erros do empreendedor levam ao fechamento maciço de muitas MPEs no Brasil.

Para suprir essa falta de preparo, Bedê sugere a definição de metas, perseverança e a antecipação aos fatos, monitorando-se as etapas dos processos e a eficiência do serviço.