Título: Lojas de conveniência viram âncoras
Autor: Cintra, Luiz Antonio
Fonte: Valor Econômico, 21/09/2006, Caderno Especial, p. F7

Apesar de algumas lojas-âncora abocanharem até mais da metade do espaço disponível, lojistas, administradoras e consultores concordam quanto à importância crescente de micro e pequenas empresas no ´mix´ de operações dos shopping centers.

Com um peso relativamente pequeno no faturamento total, em alguns casos inferior a 1%, os negócios de menor porte ganharam relevância à medida que começaram a se especializar na prestação de serviços. Ganharam um espaço próprio, as alamedas de serviços como são chamadas, onde oferecem mão-de-obra especializada e atendimento de qualidade, dois dos atributos mais valorizados nesse tipo de negócio. Do conserto de roupas à lavanderia, passando pela assistência técnica de eletrônicos, oferecer uma gama variada de serviços é cada vez mais questão central para as administradoras de shopping centers.

"É importantíssimo que o cliente do shopping consiga resolver sua vida lá, em uma única parada. Por isso, incluímos em nossos empreendimentos academias de ginástica e correios, mas também serviços de costureira, corte de cabelo, conserto de lap top e celular, entre outros itens", diz Jacqueline Lopes, diretora de marketing da Multiplan.

Administradora de 14 shopping centers espalhados pelo país, cinco dos quais de capital próprio, a Multiplan conta em sua carteira com empreendimentos como o BarraShopping, no Rio, e o Eldorado, em São Paulo, um dos primeiros a apostar no segmento de serviços, ainda hoje com a maior área específica para os prestadores de pequeno porte.

No Eldorado, como dizem especialistas em varejo, essas prestadoras funcionam como verdadeiras âncoras, tanto pelo espaço total que ocupam como pelo número de clientes que atraem.

A importância das pequenas empresas de serviço para os shopping centers foi um dos destaques de pesquisa divulgada em julho pelo Provar - Programa de Administração de Varejo, um centro de estudos de mercado vinculado à Faculdade de Economia e Administração da USP.

A pesquisa ouviu 500 consumidores de shopping centers em todas as regiões da cidade de São Paulo, para avaliar as qualidades consideradas mais importantes. O resultado é que os chamados serviços de conveniência apareceram em segundo lugar em grau de relevância, atrás apenas dos empreendimentos de lazer, como a quantidade e qualidade de restaurantes, cinemas e um ambiente agradável para circulação. "Os consumidores atribuíram nota 7,8 para esses serviços", afirma João Paulo Fávero, coordenador de pesquisas do Provar. "Isso explica por que muitos shopping centers estão se reorganizando, abrindo mais espaço para os serviços nas saídas dos estacionamentos, por exemplo, de olho no fluxo dos consumidores", considera.

A estratégia leva em conta o fato de os produtos serem cada vez mais uma ´commodity´, afirma Fávero. Ou seja, o consumidor tem a possibilidade de escolher onde comprar produtos cada vez mais parecidos, senão iguais, ao contrário do que acontece com os serviços. "A prestação de serviços lida com o intangível, com a qualidade do serviço prestado", considera.

De olho nesse potencial, o Iguatemi São Paulo planeja dobrar a área disponível para os prestadores de serviço no prazo de três anos. "Temos apenas 15 operações de serviços, em um universo de 330 operações em todo o shopping. Com a ampliação do número de vagas na garagem, poderemos aumentar também o número de lojas e a alameda de serviços", diz João Alberto Bazzon, gerente-geral do Iguatemi.

Do ponto de vista de micro e pequenas empresas, os principais atrativos de um shopping estão relacionados à segurança e à garantia de um fluxo de consumidores decididos a consumir, o que em alguns dos shopping centers de maior movimento pode chegar a centenas de milhares de consumidores mensalmente. Não por outro motivo, elas já representam a maior parcela de operações, ainda que ocupem uma área inferior à das grandes.

Administrador de dois shopping centers, o Santa Úrsula, em Ribeirão Preto, e o Neumarkt, em Blumenau, o Grupo Almeida Junior pretende destinar às lojas-satélite metade dos 24 mil metros quadrados do seu próximo empreendimento, o Balneário Camboriú, que construção na cidade catarinense de mesmo nome. Com investimento de R$ 100 milhões, contará com 18 operações de serviço e 17 de alimentação. "A intenção é ampliar o leque de possibilidades para os clientes. Ele poderá ir ao cinema, almoçar ou jantar, e deixar uma calça para costurar, tudo com comodidade", avalia Jaimes de Almeida Junior, presidente do grupo.