Título: Fran's prepara-se para enfrentar Starbucks
Autor: Wilner, Adriana
Fonte: Valor Econômico, 21/09/2006, Caderno Especial, p. F8

As redes de cafeterias brasileiras afirmam que a chegada da americana Starbucks ao Brasil, prevista para este ano, vem para somar, pois ajuda a divulgar um mercado que começou a marcar presença há não mais que uma década. Nos bastidores, porém, preparam-se para uma verdadeira guerra. O Fran's Café, por exemplo, quer inaugurar 12 lojas até dezembro (e atingir 110 unidades). E concentra esforços no seu calcanhar de Aquiles: o atendimento - quesito em que a Starbucks se destaca.

"Nosso grande sonho é conseguir melhorar radicalmente o atendimento", diz José Henrique Ribeiro, sócio de Francisco Antônio Conte (o Fran), na rede de cafeterias. Desde sua primeira loja em São Paulo, inaugurada há 18 anos no Edifício Itália, o Fran's cresceu rapidamente pelo sistema de franquias (fatura R$ 40 milhões/ano) e passou a introduzir massas, tortas e sanduíches no cardápio.

Servir pratos e sanduíches aos seus 3,5 milhões de clientes mensais passou a ser um desafio. Ribeiro e Conte recebem 30 reclamações por mês, principalmente relacionadas à demora no atendimento. "É muito pouco para nosso tamanho, mas ficamos preocupados", diz Ribeiro.

Ao reforçar a área de recursos humanos, com a contratação de duas pessoas e a ajuda de uma consultoria, o Fran's deseja aprimorar a seleção de funcionários. A escolaridade mínima exigida atualmente é o segundo grau completo. "Antes, contava simpatia e vontade", diz Ribeiro. Melhores condições de trabalho, com a introdução de ticket-refeição, vale-transporte e, em alguns casos, planos de saúde, também estão em estudo.

"O desafio do Fran's é selecionar profissionais com o perfil adequado e desenvolver treinamento de excelência", reforça a professora Flávia Flamínio, diretora da Escola Superior de Propaganda e Marketing. "A Starbucks investe profundamente nos funcionários, que compartilham os valores da empresa e atuam como embaixadores da marca."

Além de ser considerada, em diversos rankings, uma das melhores empresas para se trabalhar, a Starbucks é tida como uma das marcas mais valiosas nos EUA. Isso porque o café é apenas um detalhe na estratégia da empresa. As lojas Starbucks tornaram-se ponto de encontro e de trabalho. A marca é estampada em tantos produtos que virou fenômeno de venda de CDs.

Não por acaso, o Fran's está preparando o lançamento de quatro CDs, pelo selo Lua Nova. Também vende canecas e outros apetrechos com a sua marca. Aberta 24 horas, a rede também pretende dobrar para oito o número de pratos oferecidos em algumas lojas. "Queremos atender melhor o público que almoça no Fran's, com um prato para cada dia da semana", diz Ribeiro.

Não é só a Starbucks que vem agitar o mercado. A italiana illycafè pretende inaugurar a sua primeira cafeteria da marca Espressamente no Brasil em 2007, provavelmente no Shopping Cidade Jardim, em São Paulo. Não será um negócio de massa. No mundo, há 105 unidades Espressamente. A idéia é abrir três ou quatro unidades em São Paulo, duas no Rio, e mais um punhado em outras capitais, informa Lauro Bastos, distribuidor exclusivo da marca illy no Brasil. A idéia não é ser o negócio principal do grupo e sim tornar a marca mais próxima do consumidor final.

Bastos acha que a chegada da Starbucks irá sacudir o mercado. "Acredito que vai haver uma seleção natural, porque o negócio de cafeteria não é tão simples quanto se imagina: envolve contato com o consumidor, consistência de qualidade, ambientação, atendimento", diz Bastos. "São pequenos fatores que fazem alguém andar mais 10 metros ou tirar 50 centavos adicionais do bolso."

O distribuidor da illy conversou com a Starbucks antes de esta fechar negócio com Maria Luisa e Peter Rodenbeck, responsáveis pela vinda do Mc Donald's e do Outback ao Brasil. "Eles estão apostando em volumes razoáveis e preços elevados: é uma equação difícil de fechar", avalia Bastos. "Mas não subestimo a capacidade dos operadores". Sócio de Bastos, Alberto Carneiro Neto, da rede Casa do Pão de Queijo, aponta para as diferenças culturais entre Brasil e EUA. "Não estamos acostumados a caminhar na rua e, nos shoppings centers, não há a exclusividade na venda de café com que a Starbucks está acostumada a lidar nos EUA", afirma o empresário. Há shoppings com 150 pontos que servem café, exemplifica.

Para Alberto Serrentino diretor da consultoria de varejo Gouvêa de Souza & MD, há espaço para todos. "Não é um mercado saturado", diz. Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), o consumo de café cresceu até meados de 2006, 2,93% em relação ao ano passado - contra uma média mundial de 1,5% ao ano - e o nicho de café expresso cresce à taxa de dois dígitos. "Há lugar para quem inova e não fica num modelo estático", avalia.