Título: Contagem regressiva
Autor: Fariello, Danilo e Camba, Daniele
Fonte: Valor Econômico, 22/09/2006, EU & Investimentos, p. D1

Falta apenas uma semana para que todo o dinheiro aplicado antes da criação da conta-investimento - em outubro de 2004 - deixe de pagar a CPMF de 0,38% quando for transferido entre bancos para nova aplicação ou reinvestido na mesma instituição. A partir de 1º de outubro, os recursos resgatados dessas aplicações serão creditados na conta-investimento, e não mais na conta corrente. Portanto, esse dinheiro poderá ir direto para outras aplicações sem pagar a contribuição. Desde 2004, os recursos novos aplicados em qualquer ativo financeiro já passam pela conta-investimento. Segundo dados do Banco Central, em junho, já havia 931.977 contas-investimento, com saldo de R$ 1,113 bilhão.

A maioria dos bancos diz não esperar grande movimentação dos investidores a partir do próximo mês, apesar da isenção total da CPMF. E citam a calmaria nos fundos de investimento em 2004, quando a conta foi lançada. A explicação é que, quase na mesma época, foi instituída a taxa regressiva de imposto de renda, que beneficia quem permanece nas aplicações por mais tempo e, portanto, inibe a migração entre ativos, explica Marcos Villanova, superintendente-executivo de Investimentos do Bradesco. Pela tabela regressiva, os aplicadores que agora terão direito a transferir recursos sem pagar a CPMF já recolheriam IR de 15%, pois mantêm a aplicação por mais de 24 meses. Na reaplicação, o prazo para cálculo do imposto - 22,5% até seis meses, 20% de seis meses a um ano, 17,5% de um ano a dois e de 15% após dois anos - seria reiniciado.

Os bancos acreditam que é essa salgada diferença do que se paga para o leão que irá estimular grande parte dos investidores a ficar onde está. "O benefício de não ter a CPMF é inquestionável, mas não é suficiente para perder a vantagem do imposto bem menor, a nova aplicação precisa oferecer um retorno muito maior para valer a pena", diz o presidente da BB DTVM, Nelson Rocha Augusto.

A queda da CPMF nas aplicações novas a partir de 2004 deu maior flexibilidade aos investidores, diz o consultor e sócio da LLA Investimentos José Hugo Laloni. "A isenção facilitou o planejamento financeiro pessoal e a diversificação de aplicações em diferentes instituições", diz ele. Para quem pensa em uma reaplicação que dure mais de dois anos, prazo em que voltaria a recolher alíquota de IR de 15% sobre o ganho, cairá uma importante barreira à migração.

E uma boa parte das pessoas se encaixa nessa categoria. Números da Associação dos Bancos de Investimento (Anbid) mostram que os investidores de fundos têm um perfil de longo prazo e ficam mais de dois anos em um fundo, exatamente o tempo mínimo exigido para o imposto menor. "Quem tem investimento antigo, vale a pena esperar o fim do mês para transferir", diz Laloni. Alguns investidores indicam que adotarão a estratégia, comenta José Eduardo Araújo, coordenador comercial da gestora independente GAP. Para ele, agora será possível notar maior movimentação dos aplicadores.

A mudança também pode fazer sentido para quem busca diversificar e pretende migrar de carteiras mais conservadoras, como os DI, para as de maior risco, como os multimercados, cujo retorno maior poderá compensar o imposto. Para o superintendente de investimentos do ABN Amro Real, Eduardo Jurcevic, a conta-investimento deve estimular ainda mais a migração para os multimercados, que já vem ocorrendo com a queda dos juros. Os clientes ainda têm dúvidas sobre a conta-investimento, por isso o banco fará um chat (sala de bate-papo na internet) sobre o assunto na segunda-feira.

O Bradesco também instituiu programa especial para explicar os benefícios da conta-investimento. "Neste momento de queda de juros muitos investidores estão buscando aplicações com risco ligeiramente maior, procurando manter seus ganhos", diz Villanova, do Bradesco.

A universalização da isenção da CPMF em transferências entre aplicações também poderá ser uma excelente oportunidade para quem está em fundos com taxas de administração muito salgadas, enfim, trocar de carteira ou até de banco. Há fundos DI que cobram até 5% ao ano.

A ampliação da conta-investimento deverá aumentar a competitividade entre os bancos, já que pode ser o empurrão que faltava para o aplicador sair em busca de fundos mais rentáveis. E os grandes bancos usavam a CPMF para atrair clientes, reembolsando o valor aos aplicadores, o que lhes dava vantagem na competição, diz Araújo, da GAP. "Com a conta-investimento, isso deixa de existir nas transferências entre fundos."

Pequenas movimentações poderão ocorrer na virada do mês, admite o superintendente de distribuição da Unibanco Asset Management (UAM), Bruno Stein. Mas o movimento deve se concentrar entre investidores mais sofisticados de alta renda, que estão insatisfeitos e encontraram uma opção melhor nos últimos dias. "Mas ninguém espera meses para aproveitar uma boa oportunidade só por causa da CPMF", completa.