Título: Disputa de 2014 entra no jogo dos aliados
Autor: Junqueira , Caio
Fonte: Valor Econômico, 20/06/2012, Brasil, p. A5

A saída de Luiza Erundina (PSB) da chapa de Fernando Haddad (PT) a prefeito de São Paulo é uma verdadeira denúncia do acordo entre Paulo Maluf (PP) e Luiz Inácio Lula da Silva, uma aliança política que até bem pouco tempo seria considerada esdrúxula - como de fato foi por grande parte da militância petista - na maior capital do país. Mas é também a ponta de um iceberg grande o bastante para ter efeitos já nas eleições presidenciais de 2014.

PT e PSB mal cabem já numa sucessão municipal, a de outubro. A relação é altamente conflituosa, só amenizada pelas boas relações pessoais entre o ex-presidente Lula e o governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos. Na pré-campanha em curso, as duas siglas já tiveram conflitos em Pernambuco, Sergipe e Ceará.

O curioso é que nesses três casos Lula sempre mediou em favor de Campos, deixando furioso o PT: a contradição é a matriz dessa relação partidária, como deixa exposto o episódio Erundina.

Recentemente, Campos e o senador Aécio Neves (PSDB-MG), nome presidenciável dos tucanos, tiveram uma longa conversa sobre a sucessão presidencial de 2014. Pelo pouco que vazou do encontro, e o Palácio do Planalto tomou conhecimento, Campos e Aécio teriam concluído que suas candidaturas, já nas próximas eleições, podem ser inevitáveis. Isso ocorreria, especialmente, num cenário de agravamento do qual quadro econômico.

Com Dilma, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 2,7% em 2011 e o primeiro trimestre de 2012 foi simplesmente lastimável, com 0,2% em relação ao último trimestre do ano anterior. Os dois jovens herdeiros políticos - Eduardo Campos é neto de Miguel Arraes, uma legenda em Pernambuco, e Aécio Neves, neto do mineiro Tancredo Neves - também analisaram a crise mundial e convergiram no sentimento de que ela pode atingir sim o país com a força maior que a de uma "marolinha".

Num cenário como esses, eles não apenas deveriam, mas teriam a obrigação de sair candidatos a presidente contra a reeleição de Dilma. Separadamente, cada qual por seu partido: Eduardo Campos pelo PSB e Aécio Neves pelo PSDB. Um cenário típico de segundo turno, quando então o que ficasse atrás apoiaria o candidato que saísse à frente. Como se observa, não tem a estrela do PT nesse caso. Na verdade, os petistas seriam os adversários a bater.

O PT, acredita-se tanto no PSB de Campos como no PSDB de Aécio, jamais abrirá mão do projeto de se tornar um partido hegemônico, capaz de qualquer acordo que lhe permita manter o poder real nas mãos. A oportunidade para abortar esse plano seria, portanto, as eleições de 2014.

Aécio já é mesmo o nome favorito do PSDB para disputar a Presidência da República em 2014, mas diante do sucesso da dupla Dilma-Lula parecia hesitar até com seus companheiros. Antes de tudo ele precisa manter sob controle o segundo maior colégio eleitoral do país, que também estará em jogo em 2014. O projeto do PSB para Campos é de mais longo prazo: nas próximas eleições o partido manteria o apoio a Dilma Rousseff e ainda tentaria deslocar o PMDB como partido preferencial da aliança governista. Campos poderia ser candidato a vice de Dilma ou de Lula. Em 2018, então, disputaria o Planalto.

Mas o que tanto um como o outro hoje sabem é que o PT, enquanto controlar a máquina pública federal vai trabalhar, nem que seja em três turnos, para fabricar outro candidato a fim de manter a hegemonia.