Título: Desistência de Erundina pode tirar PSB da vice de Haddad
Autor: Junqueira , Caio
Fonte: Valor Econômico, 20/06/2012, Brasil, p. A5

Em apenas quatro dias, a aliança entre o PT e o PSB para a eleição à Prefeitura de São Paulo saiu da celebração para o anticlímax, com a desistência da deputada federal Luiz Erundina (PSB) de ser a vice do pré-candidato petista Fernando Haddad. Numa reunião com a cúpula nacional do seu partido, ontem à tarde, em Brasília, Erundina comunicou sua decisão "irredutível" de deixar a chapa - mas não a campanha - depois que seu adversário histórico, o ex-prefeito Paulo Maluf (PP), aderiu à candidatura Haddad.

A confusão expõe mais uma vez as dificuldades de relacionamento entre PSB e PT nestas eleições. Sem querer se comprometer a indicar um novo nome, o presidente nacional do PSB, o governador de Pernambuco Eduardo Campos afirmou que a escolha agora cabe exclusivamente ao PT e a Fernando Haddad. Por sua vez, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, disse que os pessebistas é que devem apontar qual o melhor nome para substituir Erundina - o que desafia a capacidade do PSB em fornecer alguém à altura da ex-prefeita.

Erundina abandona o posto de vice depois de reagir com fortes declarações à aliança entre o PT e o PP, selada anteontem com a visita de Haddad e do padrinho de sua candidatura, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, à mansão de Paulo Maluf. O tom de revolta com a presença de Maluf não foi bem recebido pela direção nacional do PSB, que prefere agora abrir mão da vaga de vice a indicar um nome que cause mais problemas à candidatura do PT. Eduardo Campos, no entanto, aproveitou a entrevista em que anunciou a desistência de Erundina para dizer que o apoio do PSB ocorreu num momento em que os petistas estavam numa situação de isolamento.

Campos deixou a entender que ficou contrariado com a aliança com Maluf. Declarou que o PSB foi o primeiro a fechar apoio a Haddad e que, àquele momento, não era possível saber quais outras alianças poderiam ser fechadas. "Eram possíveis outras alianças, mas não se sabia ao certo que alianças ele [Haddad] ia ter", disse.

O presidente do PSB disse que o isolamento da candidatura levou o PT a buscar vários partidos para aumentar o tempo de propaganda no horário eleitoral gratuito. O PP de Maluf acrescentará cerca de um minuto e meio ao programa do PT.

No entanto, Campos disse que "essas questões não foram tratadas dentro de um processo que permitiram haver uma decisão entre a opção...". Não terminou a frase e deu continuidade a ela para declarar que, nesses processos de formação de alianças, nem sempre há concordância. "Tem que entender quem é o comando. Ora tem alianças que você concorda e outras que não concorda. Mas quando entra na aliança você entra sabendo que não tem controle sobre toda a campanha", disse.

Ele contou que decidiu se encontrar com Erundina ontem mesmo, no dia seguinte à entrevista que a deputada deu à "Veja" em que condenou a aliança do PT com Maluf. "A direção nacional quis resolver hoje [ontem] a questão e ouvindo ela [Erundina]. Não iríamos participar do processo para ter um problema amanhã e outro depois de amanhã. O que queremos é dar força ao candidato e sair desse episódio fortalecendo a relação [com o PT]", afirmou.

Campos assegurou que a decisão de sair da chapa foi "de comum acordo" entre Erundina e a cúpula do PSB. "A permanência dela com essa discussão posta passaria a fazer mal à candidatura porque, mesmo se ela ficasse, seria um fato permanente de instabilidade em uma campanha que precisaria ter unidade política para vencer."

No encontro, Erundina relatou o desconforto por ter sempre polarizado com Maluf e disse que sua condição de vice iria alimentar questionamentos. A ex-prefeita comentou que se sentiria constrangida ao participar de eventos com a presença do adversário do PP. Erundina também teria ficado magoada porque Lula, na sexta-feira, não foi ao evento em que ela foi anunciada como vice de Haddad, mas o ex-presidente selou o acordo com o PP numa visita à casa de Maluf, anteontem, três dias depois.

Após o anúncio da desistência de Erundina, o governador de Pernambuco entregou a decisão da vice para o PT, deixando claro que ela pode ser ocupada por qualquer partido da aliança. O PSB municipal se apressou para indicar nomes, como os da deputada federal Keiko Ota, do vereador Eliseu Gabriel e do ex-jogador Marcelinho Carioca. A coordenação de campanha de Haddad, porém, já trabalham com a possibilidade de usar a vaga de vice para convencer outras siglas a aderir à coligação. A cantora e deputada estadual Leci Brandão (PCdoB), é cotada.

Segundo um integrante da coordenação, houve uma sondagem ao PTB, com o oferecimento de aliança na chapa proporcional, mas as conversas ainda são preliminares. O PSDB também tem interesse em contar em sua chapa com o PTB, que lançou Luiz Flávio Borges D"Urso, ex-presidente estadual da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SP) como pré-candidato à Prefeitura de São Paulo. A coligação na chapa de vereadores foi, aliás, uma arma de convencimento do PT para agregar partidos à aliança. Tanto o PSB quanto o PP estarão na proporcional.

Os tucanos reagem ao assédio dos petistas a partidos que circulam em sua órbita em São Paulo. O pré-candidato do PSDB à prefeitura, José Serra, descartou ontem o "vale tudo" na disputa para conseguir mais espaço na propaganda eleitoral de TV durante as eleições municipais deste ano.

"Não vale tudo, sem dúvida nenhuma", respondeu Serra, presente ao World Summit of States and Regions, na Rio+20. O ex-governador afirmou ainda que os cinco partidos que compõem sua chapa são suficientes para a disputa municipal. "O que nós temos é razoável". (Colaboraram Paola de Moura e Marta Nogueira, do Rio)