Título: Avaliação de desempenho do professor é fundamental
Autor: Wilner, Adriana
Fonte: Valor Econômico, 22/09/2006, Caderno Especial, p. F3

Os especialistas envolvidos no Compromisso Todos pela Educação chegaram, a partir de estudos aprimorados nos últimos anos, a um consenso do que funciona e o que não funciona para melhorar a qualidade de ensino. Em primeiro lugar: dinheiro ajuda, mas não resolve. "Caso apenas se coloque mais dinheiro no mesmo sistema, é improvável que algo mude", diz Eric Hanushek, professor da Universidade Stanford e um dos grandes especialistas em educação no mundo. Por exemplo, aumentar salário de professores, sem contrapartida de desempenho, não é considerada boa alternativa.

"Municípios com menos recursos conseguem muitas vezes atingir um padrão de ensino melhor do que municípios ricos", diz Naércio Aquino Menezes Filho, professor da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo, Ibmec-SP e diretor de pesquisas do Instituto Futuro Brasil.

Os gastos, diz, devem ser vinculados a um mecanismo de controle e estímulo para os professores e diretores de escolas. "Existem várias experiências na Índia indicando que o monitoramento de professores para saber se eles estão efetivamente lecionando todos os dias, através de máquinas fotográficas, por exemplo, gerou um aumento da freqüência dos professores e da qualidade do ensino", afirma Menezes.

"Deve-se promover e demitir de acordo com uma avaliação de desempenho", defende o professor Creso Franco, da PUC-RJ. Tal controle, enfatiza Franco, precisa ser filtrado de acordo com a situação econômica, social e cultural dos alunos da escola. Não se pode comparar a evolução de uma escola localizada numa área em que as crianças têm maiores carências com outra, em região nobre.

Segundo estudos de Menezes Filho, a escola responde por apenas 20% do desempenho dos alunos. "Entre os fatores que explicam os outros 80% estão principalmente o background familiar - ou seja, a educação dos pais, a renda, o acesso a livros - e as aptidões do aluno", diz o diretor do Instituto Futuro Brasil. Os 20% de peso da escola, porém, têm capacidade de modificação razoável: equivalem a levar o aluno da 4ª para a 8ª série do ensino fundamental.

Além disso, diz Menezes Filho, o efeito da escola sobre os alunos de hoje se transformará no background familiar para as gerações futuras.

Para melhorar o potencial da escola, diz Maria Helena Guimarães de Castro, secretária de Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo, é preciso que se monte uma estrutura para ajudar as crianças que estejam passando por problemas particulares. "Há muitos problemas internos à família, como a violência, que interferem na aprendizagem." Os alunos com maior nível de repetência, geralmente os mais frágeis socialmente, precisam de um apoio paralelo, com práticas pedagógicas flexíveis, acreditam os educadores, de forma a recuperar o atraso. Repetir ano a ano só desestimula a seguir em frente e piora a qualidade educação, argumenta Franco. "A idéia que escola é uma peneira deveria ser enterrada há tempos. Ela foi abandonada desde o século XIX na Europa", afirma o professor da PUC-RJ.

Com base nas avaliações de desempenho, que passaram a ser freqüentes nos últimos anos, dá para afirmar que a pré-escola é mais importante do que se imaginava antes: alunos que cursaram a pré-escola tiveram notas 13% melhores do que os que não a cursaram, segundo dados do exame nacional de leitura aplicado em 2003 a alunos da 4ª série. Indicadores demonstram que alunos que fazem lição de casa saem na frente: 65,7% daqueles que nunca fazem lição tiveram nota insuficiente ou abaixo do insuficiente em exame de leitura aplicado a estudantes no Estado de São Paulo em 2004, enquanto o percentual caiu para 34,3% entre aqueles que fazem as suas lições apenas vez ou outra. "O problema é que muitos professores não corrigem lição de casa, não sabem preparar e corrigir prova, faltam muito e não ficam na escola", diz Ilona Becskeházy, diretora-executiva da Fundação Lehman.

Quanto ao método de ensino, diz Becskeházy, sabe-se que as crianças aprendem mais quando há bibliotecas e materiais que trabalhem o conteúdo. "Mas, na maioria das escolas, o professor ainda faz ditado ou escreve na lousa e o aluno copia", critica a diretora da fundação.

Mesmo sem muitos recursos, defende a diretora-executiva da Fundação Lehman, dá para trabalhar de forma criativa. Ela conhece experiências em que a comunidade ajuda, por exemplo, fornecendo jornais para leitura em classe de aula.

As falhas não estão apenas entre os professores. É comum os diretores estarem desestimulados, alunos faltam e dilapidam a escola, pais acham que vaga e merenda são suficientes. "Os professores têm que cobrar dos alunos e vice-versa, os pais devem acompanhar a escola e os filhos devem cobrar dos pais. Se todos não trabalharem juntos, não dará certo", diz Denise Aguiar Alvarez Valente, diretora da Fundação Bradesco.

"Para interferir na qualidade de ensino, é preciso mexer com a família e a comunidade", afirma Maria do Carmo Brant de Carvalho, diretora-geral do Cenpec. (A.W.)