Título: Cidades prometem ação, mas cumpre quem quiser
Autor: Nogueira , Marta
Fonte: Valor Econômico, 20/06/2012, Especial, p. A11

Prefeitos de grandes cidades reunidos na C40, evento paralelo à Rio+20, se comprometeram a reduzir emissões de dióxido de carbono em 5,8% até 2020

Prefeitos das 58 maiores cidades do planeta prometem reduzir suas emissões de dióxido de carbono em 5,8% até 2020. As cidades, reunidas no C-40, divulgaram ontem que emitem 1,7 bilhão de toneladas de dióxido de carbono equivalente (GHG, na sigla em inglês para "greenhouse gas emission"). E destacaram que buscam a meta de, em 18 anos, chegar 1,6 bilhão. Como? Não se sabe.

Depois de anunciar as metas ambiciosas na reunião Rio+C40, fórum paralelo à Rio+20, que pretendia mostrar que as cidades podem mais que os governos centrais, o presidente do grupo, o prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, pediu, no discurso de encerramento, que a Organização das Nações Unidas (ONU) e Organização para Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) criem metodologia universal para medir a emissão de carbono no mundo.

O próprio grupo havia anunciado, na segunda-feira, um acordo para discutir as normas que vão padronizar a medição das emissões nas 58 cidades que fazem parte do grupo. Mesmo assim, os prefeitos anunciaram que farão um grande esforço, já que as projeções do grupo mostram que, se continuarem no ritmo atual de crescimento, as cidades estarão emitindo 2,9 bilhões de toneladas até 2020. A redução de emissões projetada seria de 45%.

Os prefeitos alegam que, para chegar a esse nível no ano de 2020, a queda deveria ser de 248 milhões de toneladas. A quantidade, segundo a entidade, equivaleria ao total emitido por Argentina e Portugal juntos no ano de 2008 ou às emissões da extração de 523 milhões de barris de petróleo, ou ainda ao desmatamento de 2,2, milhões de acres de florestas - ou 8.900 quilômetros quadrados.

O prefeito do Rio, Eduardo Paes - que participou do encontro no espaço Humanidade 2012, no Forte de Copacabana - disse que não será necessário esperar "grandes acordos" dos chefes de Estado para tomar atitudes para a preservação do planeta. "A gente pode pensar no mundo inteiro, mas é nas cidades que as decisões são tomadas, que os cidadãos são afetados diretamente", disse Paes.

As 58 cidades são responsáveis por 20% do PIB mundial, num total de US$ 13 trilhões, e onde vive 8% da população do planeta. No entanto, apesar disso, não podem abrir mão das verbas que vêm dos governos centrais. Paes reiterou que, ao combinar metas, as grandes cidades esperam, sim, que os governos federais entendam que os recursos têm que chegar.

Apesar das metas ambiciosas, e ao contrário dos que pedem a maior parte dos ambientalistas que desejam uma corte que regule e até puna quem não cumprir o combinado, não haverá punição para as cidades do C-40 que não obedeçam as metas traçadas. "É um compromisso público, com metas muito claras. Compete à opinião pública e à imprensa cobrar para que de fato as metas sejam cumpridas", concluiu Paes.

Michael Bloomberg lembrou, porém, que muitas das metas acertadas na Rio92 não foram concretizadas. Segundo ele, questões como poluição e emissões de gases que causam o efeito estufa foram tratadas na época, mas pouco foi feito. E acrescentou que questões do meio ambiente devem ser decididas localmente, assim como educação e saúde. "Se existe uma usina de lixo, que incomoda a população por causa do vento ou outro motivo, somos nós, os prefeitos, que vamos resolver, porque estamos lá, conhecemos a geografia", declarou o Bloomberg.

Ele lembrou, no entanto, que todo prefeito precisa do dinheiro do governo central e estadual para implementar suas políticas. "Queremos que eles nos deem dinheiro, mas não queremos que deem opinião sobre o que fazemos."

Eduardo Paes fez coro. O prefeito do Rio afirmou que as discussões de cúpula no Riocentro são muito lentas. "São 200 pessoas discutindo cada vírgula de um grande documento. Sinceramente, como prefeito, eu não gostaria de participar dessa discussão. Quando se governa uma cidade com milhões de pessoas, é preciso ter agilidade", afirmou Paes.

Mais tímido e concreto, o prefeito de Seul Park Won-soon, mostrou como a mudança pode começar pelas cidades. Na capital da Coreia do Sul, foi implementado um programa de voluntários que se comprometeram a reduzir suas emissões em casa.

"Já são 500 mil que, atualmente, economizam a quantidade de energia produzida por uma usina nuclear", afirmou. "Esse programa avançou para cidades vizinhas e está sendo incluído na agenda nacional do governo central."

Paes também fez propaganda também de seus feitos e levou o Bloomberg às favelas do Chapéu Mangueira e da Babilônia, ambas no Leme, para mostrar o projeto das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) e o Morar Verde Carioca que está construindo 117 habitações nas comunidades.