Título: GE quer produtos ecoeficientes que atendam a desafios globais
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 22/09/2006, Caderno Especial, p. F4

Contando com mais de 300 mil funcionários em 100 países, e com fábricas em mais de 40, a GE, que lançou a lâmpada elétrica em 1879, decidiu repetir a ousadia em maio de 2005, ao apresentar o Ecoimagination, compromisso global para transformar ameaças globais em oportunidades de negócios.

Ante o aumento do efeito-estufa, por exemplo, causador das mudanças climáticas, ou da perspectiva de carência de água tratada para três bilhões de pessoas no planeta em 2020, é possível desenvolver produtos ecoeficientes, que incorporem avanços tecnológicos e respondam aos desafios globais.

"Podemos buscar soluções que protegem nosso mundo e atendem igualmente a meta da empresa de crescimento econômico. Com a nova estratégia, até 2010, devemos dobrar nossa receita anual, que foi de US$ 10 bilhões em 2005", explicou Mark Stoler, diretor-executivo da GE Ecoimagination - EUA, para os participantes do 3º Fórum Líderes Empresariais para o Desenvolvimento Sustentável, promovido em Belo Horizonte no último dia 19. Após os debates, concedeu esta entrevista exclusiva para o Valor.

Valor: Um ano e três meses após o lançamento, já dá para avaliar resultados do Ecoimagination?

Mark Stoler: Um de nossos compromissos neste processo é manter informações sobre o andamento do Ecoimagination. Por isso, lançamos o relatório "Taking big challenges" (assumindo grandes desafios), em linguagem acessível, que traz os progressos em relação às metas apresentadas em 2005. Uma delas refere-se aos gases-estufa. Se mantivéssemos nossa taxa de crescimento, sem tomar atitude alguma, aumentaríamos nossas emissões em 25% até 2012. Mas comprometemo-nos a reduzi-las em 1% no período. No primeiro ano, garantimos uma taxa estável. Na área de P&D, investimos US$ 700 milhões. Chegaremos a US$ 1,5 bilhão, em 2010. Também apresentamos os primeiros 30 produtos certificados pela Ecoimagination. Em breve lançaremos mais dez.

Valor: Que produtos são estes?

Stoler: São produtos ou serviços que respondem aos critérios de melhorar a performance operacional e ambiental do cliente. Por exemplo, equipamentos para a extração de sal da água que operem de forma ecoeficiente, ou de geração de energia a partir de fontes renováveis, como energia eólica, ou ainda produtos da linha energy star, que consomem menos energia, e motores mais ecoeficientes para aviação. Um desafio é que, além de ecoeficientes, sejam mais baratos, para atender também clientes de menor poder aquisitivo.

Valor: O senhor mencionou apenas os investimentos em P&D. Há um orçamento total de implantação do Ecoimagination?

Stoler: É difícil quantificar. Além do desenvolvimento de tecnologias que atendam as demandas do Ecoimagination, trabalhamos a criação de um novo conceito, desde o planejamento, passando pela produção, até alcançar os compromissos de venda. É uma atuação orgânica, que envolve a mudança cultural da empresa, não sendo possível definir um orçamento especifico, já que tem outros custos por trás disso.

Valor: Como implementar uma nova cultura empresarial em países com culturas tão diferentes entre si?

Stoler: Durante vários meses por ano, visito nossas subsidiárias no mundo todo. No Brasil, por exemplo, costumo ficar em torno de uma semana por ano. Não importa aonde vá, sinto uma convergência em torno de nossa proposta, que tem sido trabalhada da mesma forma em todos os países, respeitando-se as especificidades e demandas de cada um.

Valor: O senhor poderia dar exemplos dessas demandas?

Stoler: No Brasil, atendemos uma necessidade da Petrobras de desenvolver uma nova turbina, movida a etanol, fonte de energia renovável com vantagens quanto às emissões de gases-estufa. E criamos geradores a biodiesel, para alugar. Na China, por uma demanda governamental, concebemos um dispersor agrícola, com o qual pequenos agricultores reduzirão o uso de pesticidas e o consumo de água. Na Índia, através de um programa com a agência americana para o desenvolvimento internacional (Usaid), até 2012, teremos implantado programa de geração de 100 gigawats de nova energia, utilizando fontes alternativas, como o biogás gerado pelo lixo.

Valor: Como vocês medem a redução das emissões dos gases-estufa?

Stoler: Oferecemos pela internet o cálculo de redução de emissões para cada equipamento certificado pela Ecoimagination. Além disso, fazemos medições em nossas plantas e processos industriais, de quanto poluem ou deixam de poluir. Cerca de 80% de nossas operações estão nos Estados Unidos, que não assinaram o Protocolo de Kyoto. Mas pretendemos cumprir nossas metas em todos os países, não importa se tenham ou não subscrito este documento. (S.C.)