Título: Corrente de comércio cresce 113% em 4 anos
Autor: Lamucci, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 01/03/2007, Brasil, p. A4

A soma de exportações e importações do Brasil mais do que dobrou nos últimos quatro anos, aumentando de US$ 107,6 bilhões em 2002 para US$ 228,9 bilhões em 2006. O crescimento da chamada corrente de comércio mostra a intensificação da abertura da economia brasileira, um dos fatores mais importantes para explicar a maior estabilidade do câmbio.

O grau de abertura, porém, ainda é baixo se comparado a outros emergentes. Segundo estimativas do diretor de pesquisa macroeconômica do Bradesco, a soma de exportações e importações fechou 2006 equivalendo a 23,9% do Produto Interno Bruto (PIB), bem abaixo dos 34,7% da Índia, dos 41% da Rússia e dos 65,2% da China.

Ainda que a corrente de comércio brasileira não deva atingir níveis asiáticos nesta década, Barros prevê que ela pode superar o equivalente a 30% do PIB em cinco anos. É um patamar bastante elevado para os padrões do país, que em 1996 tinha exportações e importações de apenas 13% do PIB.

Barros estima um aumento de 11% da corrente neste ano, para US$ 254,7 bilhões, com as exportações crescendo cerca de 8% e as importações, o dobro disso. O saldo deve ficar em torno de US$ 40 bilhões, diz. Em 2006, o superávit foi de US$ 46 bilhões.

Ele considera o aumento da corrente uma notícia muito favorável. Para Barros, uma moeda que oscila pouco - ele prevê um dólar de R$ 2,20 no fim do ano - é positiva também para os exportadores. Com um câmbio mais previsível, é mais fácil para as empresas se planejarem, avalia. "Isso também diminui o custo de hedge", diz, referindo-se às operações de proteção contra a volatilidade da moeda.

"Há muito exportador que prefere um câmbio mais valorizado e estável a uma taxa desvalorizada, mas que oscila muito", afirma o economista Caio Megale, sócio da Mauá Investimentos. "O empresário consegue se programar melhor com um dólar menos volátil."

Para este ano, a maior parte dos analistas espera alguma desaceleração da economia global, mas não um desaquecimento abrupto. As exportações tendem a continuar em alta, ainda que a um ritmo inferior à elevação de 16,2% de 2006. O diretor de pesquisa para a América Latina do WestLB, Ricardo Amorim, diz que a queda recente dos preços das commodities é um ajuste temporário. Ele projeta um aumento das exportações de 12,7%, de US$ 118,3 bilhões para US$ 155 bilhões. As importações devem crescer a um ritmo bem mais forte - Amorim estima alta de 21%, de US$ 91,4 bilhões para US$ 110,6 bilhões, resultando num saldo de US$ 44,4 bilhões. O câmbio valorizado favorece as compras externas, que também devem ser impulsionadas pela crescimento mais forte do PIB.

Com a expectativa de um dólar mais estável, a corrente de comércio deve crescer em 2007 como proporção do PIB. Barros estima uma corrente de 24,8% do PIB, acima dos 23,9% de 2006, mas ainda inferior aos 26,4% de 2004 e 24,1% de 2005. Nesses dois anos, a soma de exportações e importações recuou em relação ao PIB devido à valorização do câmbio, que inflou o valor do PIB em dólar.

Barros vê como saudável o forte aumento das compras externas, apontando a "forte correlação entre exportações e importações". Importar mais ajuda a exportar mais, diz. "As importações são fundamentais na redução de custos e no aumento da eficiência das empresas." Barros afirma que o momento é de fato doloroso para alguns setores que sofrem com a concorrência de produtos estrangeiros, mas que, do ponto de vista "sistêmico", o processo é saudável para a economia. Ele lembra que o crescimento das importações eleva a produtividade das empresas e ajuda no controle da inflação.

Amorim dá um exemplo de como uma corrente elevada contribui para a estabilidade do câmbio: se for necessário aumentar o saldo comercial em US$ 25 bilhões - por conta de uma contração da liquidez internacional, por exemplo -, a desvalorização da moeda requerida para conseguir esse objetivo será bem menor com uma corrente de US$ 250 bilhões do que de US$ 125 bilhões - no primeiro caso, os US$ 25 bilhões equivalem a 10% da soma de exportações e importações, e no segundo, a 20%.

José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), reconhece a importância de um câmbio menos volátil para o planejamento das empresas, mas diz que a estabilidade seria positiva se o dólar estivesse num nível mais desvalorizado que o atual. A atual cotação do dólar, de cerca de R$ 2,15, prejudica a competitividade de muitos exportadores.

Por acreditar num cenário externo mais adverso, com perspectivas piores para commodities, Castro aposta numa expansão de apenas 0,5% das exportações neste ano. As importações, por sua vez, devem crescer 11%, estima a AEB. Com isso, a corrente de comércio ficaria um pouco menor que US$ 240 bilhões neste ano.