Título: Questão é fazer o balanço entre ecologia e lucro
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 22/09/2006, Caderno Especial, p. F4

Educação ambiental ou para sustentabilidade? Enrique Leff, coordenador do programa de formação ambiental para a América Latina do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, que veio ao Brasil para participar da Ecolatina 2006, faz questão de diferenciar as expressões. Para ele, enquanto a primeira lida com valores fundamentais e trabalha o respeito à diversidade, a segunda embute a contradição que as empresas enfrentam hoje, de estabelecer um equilíbrio entre a racionalidade econômica e o atendimento às premências ecológicas.

Até algumas décadas atrás, diz ele, as companhias preocupavam-se exclusivamente em reduzir custos, ampliar ganhos e gerar empregos. Aos poucos, veio a conscientização de que produção gera poluição, levando à introdução de cuidados ambientais e sociais. Só que, em última instância, ainda predomina o ganho econômico. "Isto se reflete na opção pela educação para a sustentabilidade, que busca preparar as pessoas para a nova visão empresarial e tecnológica".

Hoje, no Brasil, uma miríade de projetos educativos ainda adotam a expressão "educação ambiental", mais popular. É o caso da Petrobras, que migrou nos últimos anos para a visão da sustentabilidade. "Todos os projetos sociais e ambientais, aprovados nas nossas seleções públicas, necessariamente têm de ter uma vertente de educação ambiental", explica o coordenador de tecnologias sociais, Leonart Nascimento. Para o público interno, diz ele, a capacitação para a sustentabilidade já vem embutida no treinamento que cada funcionário recebe ao ingressar na companhia. "É uma das funções da gerência de Responsabilidade Social Empresarial (RSE), trazer esta cultura para a empresa".

Anualmente, a elaboração do Balanço Social oferece uma oportunidade de avaliar o andamento dos programas e rever estratégias, raciocina Nascimento, para quem um dos desafios é envolver a cadeia de fornecedores. "Ao escolhê-los, consideramos a potencialidade de atuarem na mesma linha."

Também a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) considera que todas suas atividades têm impactos ambientais. Por isso, aposta em programas de educação ambiental para o público interno e externo, explica o superintendente de coordenação ambiental e da qualidade, Luiz Augusto Barcellos. Para o interno, diz ele, ela vem embutida no treinamento dos funcionários, que são orientados a executar suas tarefas de forma ecologicamente mais correta.

Para o público externo, são três as vertentes do trabalho. Escolas do entorno das unidades da empresa podem visitar as estações ambientais da Cemig, onde há atividades de valorização da biodiversidade. Em junho, mês do meio ambiente, a empresa recebe mais de 2000 crianças para uma programação especial, que muda anualmente. "Sustentabilidade - nave para o futuro" foi o tema de 2006.

A terceira vertente, programa de maior impacto nesta área, chama-se Terra da Gente e é operacionalizado pela Fundação Biodiversitas. Nos três primeiros anos, todas as escolas do Triângulo Mineiro foram convidadas a participar do programa, que incluiu a entrega de livros, fitas de vídeo e orientações para atividades nas quais os alunos aprendem a desvendar e valorizar o ambiente onde vivem. A segunda etapa, que começa em 2007, será na região das Vertentes, sul de Minas, onde predomina a rica Mata Atlântica.

Para Robson Melo, gerente corporativo de relações institucionais da Arcelor, incorporada pela Mittal em junho, a sociedade sustentável é ao mesmo tempo ecologicamente prudente, economicamente viável e politicamente atuante. Neste espírito, a capacitação para a sustentabilidade tornou-se componente de programas desenvolvidos para as comunidades do entorno das diferentes unidades.

Em São Francisco do Sul (SC), através da Vega-Arcelor Brasil, um programa desenvolvido em parceria com a Associação dos Maricultores do Paulas, busca alternativas sustentáveis para a retirada de "sementes" de mariscos dos costões pelos maricultores. Já o programa de educação e empregabilidade parte da identificação de áreas carentes de mão-de-obra, como camareira ou técnico de enfermagem, para oferecer formação técnica gratuita. Em 2005, 59% dos participantes conseguiram se empregar.

Para fornecedores e clientes, a proposta é disseminar práticas de negócios sustentáveis, através da formação de grupos, que participam de processos de auto-avaliação quanto à RSE. Em 2004, de 328 ações propostas pelos participantes, cerca de dois terços foram concretizados, garante Melo. No Espírito Santo, a CST também trabalha com o terceiro setor, oferecendo capacitação em gestão e sustentabilidade.