Título: Candidatura de Chinaglia é revanche de 2004
Autor: Lyra, Paulo
Fonte: Valor Econômico, 11/01/2007, Política, p. A5

A candidatura de Arlindo Chinaglia (PT-SP) à presidência da Câmara começou a ser articulada logo depois da vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de outubro. Fruto de um movimento do antigo Campo Majoritário, tendência que perdeu espaço no PT desde que estourou o escândalo do mensalão. Petistas como os deputados João Paulo Cunha (SP), Paulo Rocha (SP), Luiz Sérgio (RJ), Devanir Ribeiro, além do ex-ministro José Dirceu, uniram-se a deputados recém-eleitos, como Jilmar Tatto (SP) e Cândido Vacarezza (SP) - pertencentes ao grupo da ex-prefeita Marta Suplicy (SP) -, vislumbrando uma maneira de manter o poder no partido e na bancada da Câmara.

Dentro desse movimento existe também a intenção de lançar o nome de Luiz Sérgio (RJ) para a sucessão de Henrique Fontana (RS) na liderança do partido na Câmara. "Para ter poder no PT, é preciso ter cargos. Por isso, o esforço para viabilizar o nome de Chinaglia", confirmou um petista independente. O grupo começou a se consolidar bem antes. Quando Dirceu deixou o governo, abandonou a pregação de que Aloizio Mercadante (SP) seria o melhor nome para o governo de São Paulo e ligou-se à Marta Suplicy. De uma maneira discreta, mas intensa. "Se ele quer ajudar a Marta e a qualquer outro petista, é melhor não colar", brincou um petista muito próximo à ex-prefeita.

O grupo encontrou um Chinaglia disposto a devolver ao Planalto a derrota imposta a ele no fim de 2004. Na época, o parlamentar paulista era líder da bancada e concorreu com outros três nomes - Walter Pinheiro (BA), Virgílio Guimarães (MG) e Luiz Eduardo Greenhalgh (SP) - a indicação à sucessão de João Paulo Cunha. "Ele tinha apoio de boa parte da bancada e de vários líderes da bancada governista. Mas teve que abrir mão em nome de Luiz Eduardo Greenhalgh. Foi um gesto de grandeza do Arlindo", elogiou Tatto.

Grandeza que magoou o então líder da bancada. Nos bastidores, Chinaglia reclamou que foi atropelado pelo então presidente do PT, José Genoino (SP) e pelo Planalto, que impuseram à bancada o nome de Greenhalgh. Chinaglia aceitou a decisão, Virgílio não, lançou-se candidato avulso e, no final, o eleito foi Severino Cavalcanti (PP-PE).

Chinaglia acabou sendo recompensado e foi indicado líder do governo na Câmara em substituição ao também petista Professor Luizinho (PT-SP). Quando Severino foi acusado de cobrar mensalinho do dono de um restaurante que funcionava no Legislativo, Chinaglia vislumbrou a possibilidade de concorrer à nova eleição. Mas o escândalo do mensalão já estava ardendo o governo e o PT e não havia clima para que um petista pensasse em disputar a presidência da Câmara. Por consenso da bancada governista, Aldo Rebelo (PCdoB-SP) deixou o ministério, onde cuidava da coordenação política, e tornou-se presidente da Casa.

Chinaglia acabou aceitando os argumentos dos aliados. Mas deixou claro, em entrevista ao Valor, que agora é a vez dele. "Eu já abri mão da minha candidatura duas vezes, a última para o próprio Aldo. Agora, chegou a hora de ele me apoiar". O mecanismo utilizado pelo ex-campo majoritário foi o mesmo da escolha de Greenhalgh. Uniu as forças e atropelou qualquer chance de debate na bancada. "Não houve sequer discussão interna. Levaram o nome do Chinaglia e pronto", reclamou um petista. "Não precisou de votação. Ele foi escolhido por aclamação", ponderou Tatto.

Chinaglia é médico radiologista, formado pela Universidade de Brasília (UnB). Integrante do grupo Movimento PT, ele está na legenda desde 1980, mas seu primeiro mandato como deputado federal só veio em 1995. Desde então, vem sendo reeleito para a Câmara - na última disputa, foi eleito com 170 mil votos. Entre 2001 e 2002, foi secretário das administrações regionais da Prefeitura de São Paulo. Em 2002, chegou a ser cogitado para o Ministério da Saúde, mas Lula teve que indicar Humberto Costa para compensar a ausência de pernambucanos na Esplanada.