Título: Planalto contempla oposição com emendas
Autor: Costa, Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 11/01/2007, Política, p. A6

Deputados dos dois principais partidos da oposição foram alvo nos últimos 20 dias de uma situação inesperada no processo orçamentário brasileiro: foram contemplados pelo governo no empenho de emendas parlamentares individuais. Cerca de 36% do montante empenhado pela União entre os dias 16 de dezembro de 2006 e 5 de janeiro de 2007 foram destinados a parlamentares do PSDB (20,15%) e do PFL (16,38%). Em seguida, aparecem os dois principais partidos governistas, PT (13,85%) e PMDB (12,33%).

O levantamento, feito pela ONG Contas Abertas com base nos dados do Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (Siafi), reforça suspeitas sobre uma possível interferência do Palácio do Planalto na eleição para a presidência da Câmara, em que são candidatos os deputados Arlindo Chinaglia (PT-SP) e Aldo Rebelo (PCdoB-SP). Como tucanos e pefelistas tendem a apoiar Aldo, a liberação dessas emendas teria por objetivo atrair os votos dos oposicionistas para o candidato petista. Assim, a suposta investida do Planalto na oposição, por meio das emendas, teria como finalidade minar uma das principais bases de apoio a Aldo, que tem bom trânsito na oposição.

A suposta estratégia do Planalto foi acusada por aliados de Aldo anteontem, quando a maior bancada da nova legislatura, o PMDB, fechou apoio a Chinaglia. Até então, a legenda estava dividida entre os dois candidatos.

A assessoria do ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, informou que não há qualquer tentativa do Planalto de interferir nas eleições na Câmara e que a liberação de emendas para a oposição se trata de uma postura republicana do governo no tratamento da oposição. Os líderes do PFL, Rodrigo Maia (RJ), e do PSDB, Jutahy Jr. (BA), também não foram localizados para comentar o levantamento. O levantamento da ONG Contas Abertas considerou apenas as emendas individuais, sendo excluídas emendas coletivas.