Título: PCdoB cobra neutralidade de Lula
Autor: Costa, Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 11/01/2007, Política, p. A6

O PCdoB quer neutralidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na disputa entre Aldo Rebelo (PCdoB-SP) e Arlindo Chinaglia (PT-SP) pela presidência da Câmara. O pedido foi feito ontem, durante reunião do presidente do partido, Renato Rabelo, com o presidente do PT, Ricardo Berzoini. No encontro, realizado na sede do PT em Brasília, Rabelo lembrou que, quando Aldo era candidato único à reeleição, o PT decidiu lançar Chinaglia sem consultar os aliados da base aliada. Mesmo assim, o PCdoB, alegou Rabelo, confiando na preferência de Lula por Aldo, não pediu que o presidente interviesse junto aos petistas.

Agora, com o crescimento da candidatura Chinaglia, sobretudo depois do apoio do PMDB, os comunistas não querem que o PT pressione o Planalto a tomar posição. "Nem acho que isso vá acontecer. O presidente Lula tem deixado os partidos e as candidaturas se comportarem de maneira autônoma", lamentou Rabelo. Mas aliados de Aldo vêm reclamando de interferências do governo no processo, envolvendo, especialmente, liberação de emendas parlamentares e até propostas de distribuição de cargos.

Um desses cargos, inclusive, teria sido discutido no encontro de ontem entre Rabelo e Berzoini - uma possível nomeação de Aldo ou Chinaglia para o Ministério da Defesa. Um ministro ouvido pelo Valor afirmou que a hipótese só seria viável se a desistência da candidatura ocorresse antes da disputa em plenário. Na segunda-feira, o ministro da coordenação política, Tarso Genro, chegou a sondar aliados de Aldo para saber se ele concordaria em trocar a presidência da Câmara por um ministério.

Ontem, a Pasta da Defesa foi novamente trazida à baila, mas por um caminho tortuoso, para não ferir suscetibilidades. "Avaliou-se que seria uma Pasta estratégica, de peso, que estaria à altura da presidência da Câmara", confirmou uma fonte próxima dos dois presidentes.

Em conversa com o ministro Tarso Genro, Rabelo cobrou a liberação, no apagar das luzes de 2006, de emendas parlamentares para aliados de Chinaglia. O ministro negou que o governo tenha feito isso.

A situação, no entanto, prossegue indefinida. Durante os 40 minutos da reunião, tanto Rabelo quanto Berzoini reconheceram que um recuo, nas atuais circunstâncias, é praticamente inviável. Para ambos, as candidaturas de Aldo e Chinaglia extrapolaram os limites das próprias bancadas. "Seria bobagem de qualquer uma das partes desistir de concorrer agora", reconheceu Rabelo.

Para o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), não está totalmente descartada a possibilidade de uma candidatura única até o dia 1º de fevereiro - data da eleição para a Mesa Diretora da Câmara. Mas, no momento, essa hipótese é considerada improvável. "Se antes era muito difícil um recuo, agora com o apoio do PMDB à candidatura do Arlindo, essa chance não existe", disse Berzoini.

Aldo, por sua vez, deixou de lado o tom ameno que caracterizava a sua candidatura à reeleição e criticou ontem a postura de aliados de Chinaglia, que pressionam o presidente Lula a tirar o comunista da disputa à presidência da Câmara: "Eu creio que meus adversários querem ganhar por WO, querem dar a volta olímpica sem jogo. Eu creio que isso não vai acontecer, a eleição será disputada no plenário". Com agências noticiosas)