Título: PSDB adia decisão sobre disputa pela presidência da Câmara
Autor: Costa, Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 11/01/2007, Política, p. A6

Abalada com o apoio institucional do PMDB ao deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), a candidatura do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) à reeleição também enfrenta dificuldades para assegurar o apoio da oposição. O PFL já declarou voto no candidato do PCdoB, mas o PSDB deixou para tomar sua decisão na última semana de janeiro, a poucos dias antes da eleição, em 1º de fevereiro. A bancada de deputados decidirá entre duas posições: o apoio a Aldo e "obedecer o princípio da proporcionalidade", segundo o líder Jutahy Jr. (BA), o que, na prática, significa o voto em Chinaglia, o candidato do PT.

A segunda opção, se for adotada, seria a pá de cal na candidatura de Aldo Rebelo. Desde que o PMDB optou por Chinaglia, passou a ser fundamental o apoio dos tucanos, que junto com o PFL formaria uma base de 131 votos, o suficiente para viabilizar a candidatura do deputado comunista. Como Aldo já dispõe do apoio fechado do PCdoB (13 deputados) e do PSB (27 deputados), ele partiria na realidade de uma base teórica de 171 deputados. Precisaria pescar mais 86 no PMDB e demais partidos da base aliada. Mas assim como a candidatura Chinaglia deve ter defecções no PMDB (no mínimo de um terço, segundo estimativas de dirigentes), Aldo também não tem como assegurar que terá todos os votos do PSDB e do PFL.

Apesar de Jutahy haver marcado a reunião para a última semana de janeiro, há um movimento entre os tucanos para antecipar a manifestação do partido, principalmente porque o PMDB já anunciou sua decisão. O deputado Albano Franco (PSDB-SE), por exemplo, acha que a demora só contribui para acentuar a imagem de partido sempre em cima do muro dos tucanos. Ele defende o apoio a Aldo. "Acho mais interessante politicamente para o partido", diz, como a ressalva de que acompanhará a decisão que a bancada vier adotar.

A proposta de "obedecer o princípio da proporcionalidade" surpreendeu os aliados de Aldo. A Constituição diz que a presidência da Câmara será exercida, tanto quanto possível, pelo partido de maior bancada, que faz o que os deputados chamam "primeira pedida". Do maior para o menor, são preenchidos todos os cargos da Mesa. O PSDB fará a "terceira pedida", ou seja, a primeira vice-presidência para o deputado Nárcio Rodrigues (MG), aliado do governador mineiro Aécio Neves. O receio é que, ao apoiar o candidato de um partido pequeno, possa ver questionado o direito à primeira vice.

Outra explicação que circula entre os tucanos é que o líder Jutahy Jr. também estaria engajado na proposta, pois na Bahia está na aliança do governador Jaques Wagner, um dos principais cabos eleitorais de Chinaglia. Jutahy negou que esteja trabalhando pelo voto dos tucanos em Chinaglia em conversa com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Os governadores José Serra (SP) e Aécio Neves (MG) teriam assumido uma posição de neutralidade, até agora, em relação às duas propostas.

Na realidade, Aldo já obteve manifestações favoráveis de Serra e de FHC. Ex-presidente da Câmara dos Deputados, Aécio Neves) diz que apoios externos - mesmo do presidente da República - não decidem eleição na Casa. Para Aécio, faltam propostas no atual processo de sucessão. "Quando disputei a eleição, apresentamos um elenco de propostas, a criação do Conselho de Ética, que foi criado, a Ouvidoria da Casa, que foi criada, acabando com o sistema de medidas provisórias que não iam a voto, e acabamos." Segundo o governador, a sociedade está mais interessada em saber o que o novo presidente da Câmara vai fazer do que quem vai ser o novo presidente da Câmara.

Nos próximos dias, Aldo deve apresentar o balanço do que fez e a agenda do que pretende fazer na presidência da Câmara. Deve inclusive encampar medidas propostas pela chamada "Terceira Via", na qual, aliás, há pelo menos sete tucanos. Entre os quais José Aníbal, que admite o apoio do grupo a Aldo, pois ele tem demonstrado "coragem ao sustentar a posição, mesmo com o governo todo jogando contra". (Colaborou Ivana Moreira, de Belo Horizonte)