Título: Sobreviventes cresceram mais que o PIB
Autor: Moreira, Ivana
Fonte: Valor Econômico, 22/09/2006, Empresas, p. B2

Das 500 maiores empresas em operação no Brasil em 1973, apenas 117, ou 23,4% delas, conseguiram se manter no mesmo ranking em 2005. Um dos traços comuns nestas empresas "sobreviventes" foi o crescimento muito superior ao Produto Interno Bruto (PIB). Entre 1973 e 2005, o PIB subiu 209,43%. No mesmo período, o crescimento médio destas 117 empresas foi de 501%.

A informação está na pesquisa divulgada ontem pela Fundação Dom Cabral (FDC), sobre longevidade e performance das empresas brasileiras. A comparação feita pela instituição de treinamento de executivos mostrou que grande parte das maiores empresas de 1973 - 383 delas - não conseguiram sobreviver no mercado em que atuavam.

Entre as 383 empresas que deixaram o ranking das 500 maiores, 37% delas passaram a ser parte de outra, adquiridas por empresas nacionais ou internacionais. No grupo, 12% foram fechadas e 10% faliram. Outros fatores que provocaram a saída das empresas da lista das maiores foram as privatizações (10%) e as fusões (9%).

Os pesquisadores da FDC tomaram por base o levantamento da década de 1970 realizado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Na sua pesquisa, a instituição considerou sobreviventes as empresas que mantiveram a mesma razão social, atuando no mesmo segmento, mesmo que hoje sejam controladas por outros acionistas.

De acordo com o trabalho da Dom Cabral, as companhias que deixaram de existir foram derrubadas pela incapacidade de reverter decisões prejudiciais à organização, pela falta de transparência na alta gestão e por lideranças voltadas para o passado, sem visão de futuro. Para definir os fatores de sucesso e longevidade das empresas, os pesquisadores da FDC entrevistaram dirigentes de 14 companhias da lista de 1973. Fazem parte do grupo empresas como Natura, Klabin, Editora Abril, Instituto Ibope e Cedro Cachoeira.

Segundo o coordenador da pesquisa, professor Carlos Arruda, as empresas longevas têm valores internos muito arraigados. No que diz respeito ao mercado, porém, apresentam uma capacidade infinita de fazer adaptações nas práticas das operações e nas estratégias de negócios. Além de uma grande flexibilidade para transferir conhecimentos e partilhar experiências em processos decisórios.

A sobrevivência das companhias, constata ele, depende da forma como lida com os fatores externos: mudanças tecnológicas, novos sistemas regulatórios, abertura de mercado e mudanças de hábitos do consumidor. A longevidade tem ainda relação direta com a capacidade de realizar a sucessão dos seus líderes fundadores.

"As companhias que morreram também tinham fortes valores (internos)", observa o coordenador da pesquisa. Mas não souberam enfrentar as mudanças no cenário externo. "Muitas das empresas que não sobreviveram negavam as crises, uma conseqüência até da falta de visão de futuro", diz Arruda.

O trabalho mostrou que, nas últimas três décadas, alguns segmentos foram mais vulneráveis à mortalidade de empresas. No setor de alimentos, bebidas e fumo, por exemplo, das 60 empresas listadas no ranking em 1973 apenas sete se mantiveram no ranking em 2005, uma descontinuidade de quase 90%.

No grupo das companhias que foram adquiridas ou simplesmente deixaram de existir estão nomes como a Sanbra (9ª) no ranking de 1973), Matarazzo Alimentos (22ª), Anderson Clayton (24ª), Lojas Mesbla (41ª), Olivetti (45ª) e Cica (96ª).

O estudo da Dom Cabral mostrou também a expansão das empresas internacionais no ranking das 500 maiores. Em 1973, elas eram 22,2% da mostra. Em 2005 já eram quase o dobro, 43% da mostra. A pesquisa foi apresentada ontem no campus da FDC, em Nova Lima (MG), para cerca de 80 executivos e presidentes de empresas que discutiram o tema. Os depoimentos mais relevantes sobre os fatores que garantem a longevidade dos negócios, feitos durante o debate, serão incluídos no trabalho.