Título: Linhas alternativas já são 17% do total
Autor: Moreira, Talita
Fonte: Valor Econômico, 22/09/2006, Empresas, p. B3

Há apenas dois anos, comprar um telefone fixo no Brasil era sinônimo, obrigatoriamente, de adquirir o binômio assinatura básica e franquia de cem pulsos. As coisas mudaram. Agora, 6,5 milhões de linhas em serviço no país já têm características diferentes daquelas previstas nos contratos de concessão da Telemar, Telefônica e Brasil Telecom.

O número foi calculado pelo Valor com base em dados fornecidos pelas três operadoras e já equivale a 17% das linhas fixas em uso no mercado brasileiro. Ele revela uma inédita transformação num setor que passou décadas sem concorrência e sempre ofereceu um único produto a qualquer tipo de cliente residencial.

As operadoras são unânimes em apontar a renda apertada dos brasileiros e a recente competição com os telefones móveis como os maiores responsáveis por essa mudança. "As pessoas se acostumaram a ter uma infinidade de planos disponíveis no celular e querem ter a mesma possibilidade no fixo", avalia o diretor de negócios da área residencial da Telefônica, Eduardo Bernstein.

Mais recentemente, a estréia das empresas de TV por assinatura no negócio de telefonia deu um empurrão extra para que as operadoras diversificassem o portfólio. A Net, por exemplo, lançou no final de março um serviço de voz sobre protocolo de internet, em parceria com a Embratel, e havia vendido 49,3 mil linhas até o fim de junho (último dado disponível). "Pela primeira vez na história as operadoras estão sendo pressionadas a rever sua oferta", observa o diretor de produtos e serviços da Net, Márcio Carvalho.

O movimento começou com produtos voltados para o público de baixa renda, numa tentativa das operadoras de vender telefone a quem não tinha condições de pagar a assinatura básica (que hoje está em cerca de R$ 40).

A Telefônica, que atua no Estado de São Paulo, foi a primeira a entrar com força nesse segmento ao lançar, em meados de 2004, linhas mais populares. A taxa básica é menor e o assinante precisa adquirir um cartão pré-pago para fazer ligações interurbanas e para celulares. A operadora tem hoje 3,5 milhões de seus 12,4 milhões de assinantes em diversos planos alternativos - entre novas vendas e clientes que tinham um telefone convencional e preferiram mudar.

Entretanto, as teles estão acelerando essa estratégia e, nos últimos meses, começaram a levá-la às classes mais altas, que têm sido alvo de ataques de ofertas atraentes das empresas de TV por assinatura.

Desde abril, quando lançou uma série de pacotes alternativos, a Telemar conquistou 650 mil assinantes. A operadora não revela quantos desses são, de fato, novos clientes e quantos são clientes antigos que migraram do plano tradicional. Porém, a diretora de marketing de varejo do grupo, Flávia Bittencourt, diz que 65% das vendas já são desses planos.

Em geral, os novos pacotes oferecem alguma vantagem econômica - assinatura e tarifa menores ou algum desconto, por exemplo, na mensalidade de internet em banda larga.

Cada vez mais, esses planos são denominados em minutos e não em pulsos - um sistema muito mais complexo em que a tarifa é cobrada aleatoriamente entre zero e quatro minutos de conversa. Bernstein, da Telefônica, destaca que a contagem em minutos é mais fácil para o assinante e permite que ele compare melhor quanto gasta no telefone fixo e no celular, que já adota essa unidade. "Ele percebe que, na maioria das vezes, o telefone móvel é mais caro."

A tendência está, de certa forma, atropelando as regras. As operadoras estão fazendo na prática a conversão do sistema de pulsos para o de minutos, que estava prevista para acontecer no início deste ano, porém foi adiada pelo governo.

A única que ainda não lançou planos em minutos é a Brasil Telecom, mas deverá fazê-lo ainda em 2006, afirma o diretor de negócios da área residencial, Eugênio Pimenta. "O grande objetivo desses pacotes alternativos é mitigar a migração da telefonia fixa para a celular", diz o executivo.

Com essa estratégia, as operadoras têm procurado reduzir a ociosidade em sua planta. Até agora, contudo, não conseguiram reverter a estagnação no número de linhas fixas em serviço. O total de acessos era de 39,6 milhões no fim do ano passado, igual ao de 2004. Na primeira metade deste ano, as três concessionárias mostraram queda nesse volume.

"Mas nos últimos dois meses sentimos um aumento no número de linhas em serviço e no tráfego. O cliente está voltando a falar mais no telefone fixo, o que é muito bom", diz Flávia, da Telemar. Segundo ela, esses dados só poderão ser apresentados junto com as demonstrações financeiras do terceiro trimestre.