Título: Rentabilidade sobe, mas crise externa faz exportação recuar no semestre
Autor: Leo , Sergio
Fonte: Valor Econômico, 03/07/2012, Brasil, p. A4

O fraco desempenho do comércio exterior em junho ficou abaixo das expectativas conservadoras do governo e levou o país a uma queda de 1,7% no valor das exportações do primeiro semestre em comparação com o mesmo período do ano passado. O resultado indica ser pior do que se pensava o efeito da crise internacional. Acendeu "uma luz amarela" no Ministério do Desenvolvimento, segundo o secretário-executivo, Alessandro Teixeira, e a secretária de Comércio Exterior, Tatiana Prazeres.

De acordo com dados divulgados ontem pela Fundação Centro de Estudos do Comércio exterior (Funcex), o impacto do dólar mais alto sobre a rentabilidade dos exportadores brasileiros aumentou 6,1% no mês de maio, em relação a abril deste ano. O resultado veio, principalmente, da desvalorização de 7,6% do real em relação ao dólar e ao aumento de 0,3% nos preços de exportação. Comparada com a situação de junho de 2011, a rentabilidade teve recuperação ainda maior, de 12,7%.

A importação segue crescendo, 1,1% em junho, comparado com o mesmo mês do ano passado, e 3,7% no primeiro semestre em relação ao mesmo período de 2011. O crescimento só não foi maior devido à queda de 30% (junho de 2012 sobre junho de 2011) nas compras de automóveis e alimentos. Comparadas ao resultado de junho de 2011, aumentaram, no mês passado, as importações de equipamentos móveis de transporte (34%, em vagões, principalmente), confecções (28%), móveis e outros equipamentos domésticos (16%), produtos de toucador (15%) e máquinas para escritório, como computadores (6%). Especialistas creem, porém, em redução de ritmo, no segundo semestre.

"Tínhamos uma expectativa de que o segundo semestre melhorasse o desempenho da economia internacional e, consequentemente, das exportações brasileiras", disse Teixeira. "Se continuar dessa forma, não vai melhorar no segundo semestre; estará mais aprofundado ainda esse momento de crise", acrescentou.

As exportações de junho ficaram abaixo da média desejada pelo governo, de pelo menos US$ 1 bilhão por dia útil. "É com muita preocupação que acompanhamos os dados da balança comercial em um mês como o de junho, que no ano passado trouxe dados positivos", disse Tatiana Prazeres.

Embora especialistas tenham indícios de que a desvalorização do real aumentou a rentabilidade dos exportadores desde maio, a retração dos mercados externos reduziu as vendas de produtos semimanufaturados, manufaturados e básicos, na avaliação dos técnicos do governo. As exportações, que haviam ficado acima de US$ 23 bilhões em junho de 2011 e em maio deste ano, caíram para pouco mais de US$ 19 bilhões, especialmente devido à queda nos preços de commodities como minério de ferro, café, carnes e açúcar, e nas vendas de petróleo, óleo combustível e veículos.

Teixeira minimizou os efeitos da greve na Receita Federal, que tradicionalmente afeta o desempenho exportador e tem provocado queixas de dificuldades nos embarques, ou nos registros de exportação, por parte de grandes empresas de comércio exterior. Ele afirma também que, embora tenham afetado vendas brasileiras àquele país, as barreiras comerciais da Argentina não podem ser responsabilizadas pelo mau desempenho do comércio externo, provocado, principalmente, pela crise internacional.

O diagnóstico sobre os efeitos da crise é compartilhado por especialistas em comércio exterior. Para o economista Rodrigo Branco, da Funcex, a retração dos principais mercados compradores do Brasil deve reduzir em até 10% o saldo comercial brasileiro, para algo em torno de US$ 16 bilhões. A Argentina, que reduziu compras de produtos brasileiros em 31% em junho, comparadas às de junho de 2011, é, no entanto, um dos principais fatores de redução do desempenho exportador brasileiro. "Ainda há produtos com bom desempenho; as exportações de bens de capital têm valores expressivos", ressalvou.

Para o vice-presidente executivo da Associação de Comércio Exterior Brasileiro, José Augusto de Castro, é preocupante a queda nas quantidades exportadas, em junho, especialmente petróleo, óleo combustível e laminados planos de aço, e o menor valor exportado em carne. "As exportações, se conseguirem a média de US$ 1 bilhão diário, já chegariam ao fim do ano com queda de 5%", calcula. "Essa queda pode chegar a 9% ou mais".

Os economistas não acreditam em estouro das importações e creditam o crescimento verificado em junho aos contratos firmados por importadores de manufaturados, que tendem a perder o fôlego, com a desvalorização do câmbio, até o fim do ano.

Alessandro Teixeira disse haver ainda muita incerteza sobre o quadro internacional para permitir ao governo reavaliar suas metas de exportação. "O resultado do mês de julho vai ser determinante", disse.