Título: Merck alemã paga 10,6 bilhões de euros pela Serono e luta para virar gigante
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 22/09/2006, Empresas, p. B9

O grupo farmacêutico alemão Merck anunciou ontem que vai pagar 16,6 bilhões de francos suíços (10,6 bilhões de euros) pela aquisição da companhia suíça Serono, número 1º da biotecnologia na Europa, sinalizando uma consolidação entre laboratórios de médio porte no velho continente. Ao mesmo tempo, a alemã Altana vendeu sua unidade de remédios para a dinamarquesa Nycomed por 4,5 bilhões de euros, inferior à expectativa de mercado.

A família Merck abriu o cofre para adquirir a parte da família Bertarelli na Serono, que representava 64,5% do capital e 75,5% do controle. Com isso, o grupo alemão estima dispor agora de tamanho suficiente para competir no mercado farmacêutico global.

A família Merck, que detém 73% do grupo, vai pagar 1.100 francos suíços por ação, 20% a mais do que a cotação da Serono ontem e que teve alta de 17,6% em um dia. Mais tarde, o grupo alemão vai lançar uma oferta pública de aquisição para as ações do mercado.

A reação do mercado foi diferente. A ação da Serono teve enorme procura pouco antes da abertura da bolsa de Zurique, o que deverá provocar uma investigação por desrespeito as regras de divulgação desse tipo de operação. Já a cotação de Merck caiu 3,6% em Frankfurt, porque analistas acham que a empresa pagou caro demais.

A Merck alemã não tem nada a ver com a americana Merck & Co, que opera como Merck Sharp & Dohme no Brasil. Um de seus principais medicamentos é um tratamento para câncer, Erbitux. Mas vinha procurando aumentar seu portfólio, sobretudo depois que suspendeu o desenvolvimento de Sarizotan, um tratamento para doença de Parkinson, sobre o qual esperava obter altos ganhos.

Este ano, a Merck sofrera um duro golpe em seus planos de expansão, quando teve que abandonar a disputa pela rival alemã Schering, afinal comprada pela Bayer por 16,5 bilhões de euros.

A nova companhia, Merck Serono Biopharmaceuticals, terá orçamento para pesquisa e desenvolvimento estimado em 1 bilhão de euros. Deve impulsionar as vendas de Erbitux, da Merck, e Rebif (droga para o tratamento de esclerose múltipla), da Serono, que juntos renderão 3,6 bilhões de euros, metade dos negócios do novo grupo. Com base nas contas de 2005, Merck-Serono terá volume de negócios de 7,7 bilhões de euros, 35 mil funcionários. A sede será em Genebra.

Ernesto Bertarelli, que herdara Serono de seu pai, tentou desesperadamente vender a empresa no começo do ano. Curiosamente, Merck foi um dos poucos não mencionados. Outros grandes grupos farmacêuticos, como Novartis, GlaxoSmithKline (GSK) e Pfizer, ignoraram o negócio, considerando o preço salgado, cerca de US$ 15 bilhões. Primeiro, porque a principal fonte de ganhos da companhia suíça, o Rebif, terá sua patente expirada dentro de dois anos e meio. A Novartis, por exemplo, já prepara um novo tratamento.

Além disso, o "pipeline" de novos remédios de Serono é considerado fraco. Os resultados não estão a altura dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento, da ordem de 20% a 30% do volume de negócios, comparado a 15% em média no setor. Daí a preocupação a longo prazo de Bertarelli.

Em abril, o executivo anunciou publicamente que desistira da venda e, ao contrário, queria passar a fazer aquisições. Sobre a pertinência da aquisição por Merck, as opiniões divergem. "As duas empresas têm mais complementaridade do que sinergia a realizar", estima o analista de biotecnologia Hervé de Korgrohen. Já outros não vêem uma aliança forçosamente ideal, mas que pode fazer o grupo alemão jogar na primeira liga, com esperanças de conquistar fatias de mercado nos Estados Unidos.

Tanto a Merck como a Serono atuam no Brasil. A alemã, que possui duas unidades fabris, uma no Rio e outra em São Luís (MA), faturou R$ 344 milhões nos últimos 12 meses até agosto, segundo segundo empresa de auditoria que mede as vendas nas farmácias. A Serono, que está presente desde 1982 no país importando medicamentos, faturou R$ 42,4 milhões nos mesmos canais de vendas. No entanto, a receita da empresa suíça ultrapassa mais de R$ 130 milhões se contabilizadas as vendas hospitalares. (Colaborou André Vieira, de São Paulo)