Título: Proibido, brinde político encalha na fábrica e vira sucata
Autor: Gómez, Natalia
Fonte: Valor Econômico, 22/09/2006, Empresas, p. B10

Com mais de um milhão de chaveiros, porta-títulos de eleitor e réguas em estoque, a fábrica da Unibrindes, de Diadema (SP), poderia estar prestes a fazer as maiores vendas do ano. No entanto, planeja destruir todas as peças de plástico rígido e aproveitar o material para fazer outros produtos. Os itens de plástico laminado, como os porta-títulos, serão vendidos para sucateiros. O que poderia à primeira vista parecer um contra-senso é na verdade um retrato da crise vivida pelas indústrias de brindes no Brasil depois que a Lei nº 11.300 proibiu a distribuição de brindes no período eleitoral.

Desde maio, quando a lei foi sancionada, os fabricantes de brindes já demitiram sete mil funcionários diretos, equivalente a 7% do número de empregados do setor, que agrega 3,5 mil empresas. Segundo o vice-presidente da Ampro (Associação de Maketing Promocional), Auli De Vitto, o segmento político representa cerca de 5% dos negócios destas empresas, que no ano passado movimentaram R$ 4,1 bilhões.

A Brindes Visão, que produz viseiras, chapéus e chaveiros no bairro do Tatuapé, em São Paulo, costumava aumentar sua equipe de 18 para 40 funcionários no período de eleição, responsável por 30% do seu ganho anual. O presidente Jerônimo Luis de Oliveira não contratou ninguém para atender os políticos. "Os negócios estão muito parados", afirma.

Na indústria de bonés a situação é parecida. O principal pólo nacional, em Apucarana (PR), demitiu 2 mil funcionários diretos e dispensou o trabalho de quase todas as 10 mil pessoas terceirizadas que trabalham em suas casas para as indústrias fazendo a costura e a estampa. Em Caicó (RN), segundo maior pólo de bonés do país, mais dois mil foram demitidos, informou Valdenilson Vado Domingos da Costa, presidente da Anibb, associação que reúne 150 fabricantes de bonés.

O setor, com mais de 500 fábricas, esperava produzir 20 milhões de bonés para os candidatos, com uma geração de 10 mil empregos em todo o país. "Deixamos de faturar R$ 50 milhões este ano", disse Costa. A retração do agronegócio e a derrota na Copa do Mundo aprofundam a crise, que deve reduzir as vendas em 15% em 2006.

A fabricante de bonés e camisetas Visual, de Apucarana, deu férias coletivas em agosto e pretende demitir 10% da sua equipe até o final do ano. "Se a legislação não mudar até as próximas eleições muitas empresas podem fechar", disse o gerente da empresa, Sandro Henrique Gonçalves. Sua concorrente Carametade, do mesmo município, esperava produzir 15 mil peças por dia de agosto a outubro, quantidade cinco vezes maior que o usual. A presidente da Carametade, Nereide de Souza Brandalise, afirma que este período impulsiona todas as empresas de Apucarana, que não costumam crescer fora das campanhas eleitorais. "Nos anos sem eleições os negócios ficam estáveis", afirma.

Assim como em Apucarana, as vendas da região de Brusque (SC), importante pólo produtor de camisetas, cresciam de 25% a 30% nas eleições, segundo Renato Roda, presidente da fabricante Marotos, instalada na cidade. A empresa suspendeu a preparação pré-eleitoral em março, quando teve notícias do projeto de lei. Graças a isso, não formou estoques e continua com as vendas estáveis.

A fabricante de camisetas Priscilla Malhas, do Mato Grosso do Sul, não teve a mesma sorte. Em 2005, ela formou um estoque de 200 mil camisetas, que hoje estão encalhadas, segundo o diretor da empresa, Edésio Depine. Nas últimas eleições, a empresa vendeu 500 mil camisetas para políticos, o triplo das vendas em outros períodos. "Pedimos para os outros clientes esperarem as eleições passarem e agora não temos nenhuma encomenda." A mineira Coteminas foi procurada mas não quis falar.

Conhecida como minireforma eleitoral, a lei também atingiu o segmento de outdoors e aumentou a ociosidade dos espaços disponíveis para 35%. Em média, 20% dos outdoors ficam vagos em São Paulo, número que costumava cair para 10% durante a campanha eleitoral, segundo Raul Nogueira Filho, presidente da Central de Outdoor, entidade do setor. Ele também atribui a crise à um projeto de lei para proibir qualquer publicidade nas ruas de São Paulo, que será votado após as eleições.

As vendas da Lidergraf, fabricante de cartazes para outdoors, caíram 20% em relação às últimas eleições para presidente, quando coordenou a produção gráfica da campanha de Lula, de acordo com o presidente Luiz Roberto Valente Filho. Segundo ele, a publicidade eleitoral representa um incremento de 12% a 15% nos negócios destas empresas no período de agosto a outubro.

Para o economista Sergio Vale, da MB Associados, a mudança pode ter influenciado na redução do ritmo de criação de empregos este ano. Na média de 1992, 1996, 2000 e 2004, o emprego avançou 2,3% em agosto e 2,9% em setembro. Este ano, o incremento na região metropolitana de São Paulo foi de 1,2%. (Com Roberta Campassi e Raquel Salgado, de São Paulo)