Título: Fast-food entra no menu dos investidores
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Fonte: Valor Econômico, 22/09/2006, Empresas, p. B6

Até a menor cidade nos Estados Unidos tem lá a sua rua comercial: uma trilha de luminosos que leva ao centro. Há postos de gasolina, motéis e, principalmente, restaurantes. E a variedade é assombrosa. Há 20 anos, o cenário era dominado pelos suspeitos de sempre: McDonald´s, Burger King, Kentucky Fried Chicken e mais alguns poucos nomes. Hambúrgueres e tacos ainda predominam, mas atualmente os motoristas famintos têm muitas outras opções, que vão desde o Whataburger e Taco Cabana até o Quizno´s Subs.

Do total desembolsado nos Estados Unidos com alimentação, 48% são gastos em restaurantes. Em 1995, esse percentual era de apenas 15%. Os investidores também mostram um apetite voraz pelos lanches rápidos, a julgar pela rapidez com que as redes de fast-food trocam de mãos.

O analista Mark Saltzgaber, especializado no setor, em San Francisco, diz que 2005 e 2006 representaram "sem dúvida o cenário mais ativo de fusões e aquisições de restaurantes já visto". Os grupos especializados em aquisições vêm comprando redes de lanchonetes aos montes e lançando-as nos mercados acionários.

A rede Chiplote, de burritos, comida típica mexicana, que foi desmembrada do McDonald´s, abriu o capital em janeiro; a Wendy´s lançou ações da rede canadense de cafés e doces Tim Hortons, em março, e completará o desmembramento da empresa na próxima semana; Os bancos de investimentos Goldman Sachs, Bain Capital e Texas Pacific Group abriram o capital do Burger King em maio, quatro anos depois de adquiri-lo em uma operação alavancada.

Nesta primavera boreal, três grupos especializados em aquisição completaram a compra da Dunkin´ Brands, dona da Dunkin´ Donuts e da Baskin-Robbin.

Há mais por vir. El Pollo Loco, uma rede de frango do sul da Califórnia, entrou com registro para uma oferta pública inicial de ações em maio, menos de um ano depois de ter sido comprada pela Trimaran Capital, um grupo nova-iorquino de private equity.

A Wendy´s explora "alternativas estratégicas" para a rede de comida mexicana Baja Fresh, comprada em 2002. E neste mês, a Krystal, que reivindica ser a "rede de fast-food mais antiga do Sul" dos Estados Unidos e possui mais de 400 lanchonetes, colocou-se à venda. "Os últimos dois anos foram melhores do que nunca para vender restaurantes", comenta Saltzgaber.

Os fundos especializados em aquisições compram avidamente e seu apetite é avivado pelas rentáveis operações de abertura de capital feitas neste ano. São atraídas pelo sólido fluxo de caixa das redes, relativa imunidade aos altos e baixos dos ciclos econômicos e sistema de franquias, que exige menos necessidade de capital.

-------------------------------------------------------------------------------- Depois da Dunkin´ Donuts e da Baskin-Robbin, outras redes devem lançar ações, como a El Pollo Loco --------------------------------------------------------------------------------

Os compradores do Burger King, que pagaram US$ 1,5 bilhão pela rede em 2002, ganharam dividendos de US$ 367 milhões poucos meses antes da abertura de capital, além de manter participações de US$ 1,8 bilhão na empresa.

Por que as redes estão sendo vendidas? Muitas decidiram centrar-se em suas marcas principais. Outros estão aproveitando os altos preços para saldar as dívidas e outros porque os restaurantes não se encaixam em suas estratégias. A Wendy´s optou por desmembrar a Tim Hortons, que vinha apresentando grande crescimento, depois de perceber que a "divisão começava a concorrer diretamente com a Wendy´s.

O Burger King, por exemplo, foi vendido em 2002 pela Diageo, fabricante européia de bebidas. A história da rede, no entanto, traz cautela aos investidores, já que as altas quantias extraídas pelos fundos de private equity a deixaram com grandes dívidas. Em 2002, eles compraram a rede por uma pechincha, pagando US$ 800 milhões a menos do que a Diageo queria. Sua administração era um caos - desde 1989 até agora a empresa teve 11 executivos-chefes.

Os novos donos elevaram as vendas, lançaram novos produtos e melhoraram as relações com as franquias. Mas, no anúncio de seus primeiros resultados como empresa de capital aberto, no mês passado, o Burger King revelou prejuízo no quarto trimestre, atribuído ao pagamento de US$ 30 milhões aos seus controladores. As ações caíram 13% e, agora, são negociadas bem abaixo do preço da oferta inicial.

Analistas acreditam que os acordos no setor seguirão em alta enquanto as redes de fast-food continuarem prosperando. Seu crescimento chega às custas dos restaurantes mais caros, de refeições mais formais. No mês passado, as vendas da Wendy´s subiram 4,7% e as do McDonald´s, 3,5%, o que levou sua ação ao maior patamar em seis anos.

As redes de fast-food também estão ampliando a oferta. Como há um grande potencial de crescimento com o café da manhã, o Burger King e Dunkin´Donuts agregaram omeletes em seus cardápios. Até a obsessão com alimentos sem aditivos vem sendo atendida. O Chipotle vende burritos com feijões orgânicos.

Ao combinar uma concorrência ácida, transações frenéticas e gratificações instantâneas, as redes de fast-food parecem estar se tornando mais típicas dos EUA do que a torta de maçã.