Título: Demóstenes pede desculpas a colegas
Autor: Peres , Bruno
Fonte: Valor Econômico, 03/07/2012, Política, p. A5

O senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) ocupou a tribuna na tarde de ontem para voltar a negar as acusações que motivaram um pedido de cassação de mandato pelo Conselho de Ética, anunciar que provará sua inocência e desculpar-se com os colegas por "possível constrangimento causado" em meio à série de denúncias feitas contra ele. O último pronunciamento de Demóstenes aconteceu há quase quatro meses, logo depois do surgimento das denúncias.

O senador reafirmou ter mantido relações de amizade com o empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, preso pela Polícia Federal (PF) sob a acusação de comandar uma rede de corrupção. Alegou, entretanto, nunca ter realizado negócios "legais ou ilegais" com Cachoeira. "O que disse naquele discurso repito agora, porque se trata da verdade", disse Demóstenes, em referência ao pronunciamento de 6 de março.

Na ocasião, o senador rebateu as denúncias e obteve apoio de 44 senadores presentes ao discurso. Aos colegas que o apartearam, Demóstenes fez pedidos nominais de desculpas. "Não foram em vão [os apartes], não mais lhes causarão decepção ou qualquer constrangimento", disse o senador a um plenário esvaziado. "Provarei que minha honradez e retidão são dignas daquele apoio".

Demóstenes também negou ter recebido vantagem indevida de Cachoeira, atuado para a legalização dos jogos, mantido servidores "fantasmas" em seu gabinete e solicitado a terceiros que custeassem despesas com voos privados. O discurso do senador faz parte da nova estratégia de defesa contra o processo de cassação de mandato, decorrente de pedido aprovado por unanimidade no Conselho de Ética na última semana.

Especificamente sobre uma gravação na qual comenta com Cachoeira a tramitação de uma proposta referente à legalização dos jogos, Demóstenes classificou como "desproporcional" a acusação feita de utilizar o mandato em benefício de Cachoeira. "[A gravação] Nada mais é que fragmento de informação de projeto de interesse legitimo de diversos segmentos", declarou Demóstenes. "Não coloquei meu mandato a serviço de Cachoeira, mas tão somente às forças produtivas do meu Estado".

Demóstenes se disse vítima do que chamou de ataques promovidos por meio da imprensa, criticou o isolamento vivido nos últimos meses e voltou a questionar a legalidade das escutas telefônicas obtidas pela PF que o associam a Cachoeira e acusou as gravações de terem sido "editadas" e "descontextualizadas".

"Não há honra que resista a tão grande turbilhão", discursou. "Não tenho sociedade nem nada a ver com os delitos investigados pelas operações Vegas e Monte Carlo", acrescentou, em referência às operações da PF que investigaram a suposta rede de corrupção de Cachoeira. "Não me pesa a consciência, ela continua limpa", disse o senador. "Estou aqui de consciência tranquila, de peito aberto, lutando pelo meu mandato. Nessa reta final conseguirei mostrar a todos a injustiça e a impertinência das acusações".