Título: Depois de três anos, Volkswagen troca comando no Brasil
Autor: Olmos, Marli
Fonte: Valor Econômico, 22/09/2006, Empresas, p. B6

Nos próximos dias, a direção mundial da Volkswagen divulgará o nome do executivo que assumirá o comando da filial brasileira no final deste ano, quando o engenheiro Hans-Christian Maergner deixará a empresa para se aposentar.

O alemão Maegner assumiu a presidência da Volkswagen do Brasil em janeiro de 2004. Ele substituiu o inglês Paul Fleming, que teve uma rápida passagem pelo cargo. Fleming, homem de vendas, comandou a operação brasileira da maior montadora do país durante 14 meses, assumindo o posto deixado por Herbert Demel, um engenheiro que saiu da companhia, por vontade de Peter Hartz, ex-presidente mundial de recursos humanos, que também deixou a montadora recentemente.

Durante a gestão de Fleming, houve troca de executivos de diversas áreas, como compras e vendas. Durante a gestão do Maergner, a principal mudança ocorreu na área de recursos humanos, a que enfrentou mais dificuldades nos últimos tempos.

Resolver um problema trabalhista que se arrastava há mais de cinco anos foi o principal desafio de Maergner. Quando ele assumiu o cargo, espalhou-se no mercado, principalmente entre os meios sindicais, a notícia de que chegara na montadora um executivo que ganhou a fama de "durão" ao demitir 1,3 mil trabalhadores na África do Sul, depois uma greve julgada ilegal.

Por outro lado, também na África do Sul Maergner fez a filial da montadora voltar ao lucro em apenas dois anos. E é exatamente para este país que Maergner seguirá depois que deixar o Brasil. O executivo confidenciou mais de uma vez a amigos a vontade de viver na África do Sul. Por isso, decidiu desfrutar a aposentadoria em Port Elizabeth, cidade africana onde possui uma casa.

Uma declaração publicada no jornal alemão "Handelsblatt" poucos meses depois de assumir o comando da Volks no Brasil ficou famosa. Ao referir-se à operação brasileira, na entrevista, Maergner afirmou: "Garantia de emprego não haverá mais - só sobre o meu cadáver."

De fato, o acordo de estabilidade no emprego, que beneficiou os 12 mil empregados de São Bernardo do Campo (SP) e os cinco mil de Taubaté (SP) durante cinco anos não foi renovado. Ao contrário, Maergner fechou há poucos dias o que seus antecessores não conseguiram: um acordo com os próprios trabalhadores que dá aval para a Volks enxugar o quadro de funcionários até 2008.

Outra declaração que o executivo deu ao "Handelsblatt" também está se confirmando. Na ocasião ele disse que não via o país no longo prazo assumindo uma posição estratégica como plataforma de exportação. Maior exportadora da indústria automobilística, a Volks está reduzindo a participação das vendas externas na sua produção de 42% para menos de 30%.

Durante o lançamento do novo Polo, há pouco mais de uma semana, Maergner reclamou da falta de uma política de longo prazo para a indústria automotiva no Brasil. Conclamou o governo a atuar com mais força nesse sentido e previu que regiões como Leste Europeu e China, passarão à frente do Brasil porque oferecem maior competitividade.

Natural de Luthorst, Baixa Saxônia, Maergner foi efetivado na Volkswagen em 1969, após cinco anos de trabalho como aprendiz de ferramentaria na companhia. Depois de trabalhar como técnico e passar por vários cargos gerenciais, ele ocupou a direção geral da fábrica de Kassel. Em 1998 assumiu o comando da África do Sul.

Nos próximos dias, a Volkswagen deverá anunciar também mais mudanças na América do Sul. A imprensa alemã já divulgou que Viktor Klima, ex-premiê austríaco e hoje presidente da Volkswagen na Argentina, assumirá a representação do Mercosul dentro da companhia. A empresa ainda não confirma nenhuma mudança.