Título: PT decide hoje se lança candidato próprio à Prefeitura de Belo Horizonte
Autor: Moura , Marcos de
Fonte: Valor Econômico, 03/07/2012, Política, p. A7

A executiva nacional do PT se reúne hoje em São Paulo e deve selar a posição do partido nas eleições para prefeito de Belo Horizonte. Ontem, a direção estadual decidiu pela candidatura própria, reiterando o que a direção municipal já havia feito no sábado. Se isso for homologado hoje, estará encerrada a aliança que vigorou desde o início dos anos 90 na Prefeitura de Belo Horizonte entre o PT e o PSB. Com isso, o PSB, passará a ter como principal aliado na disputa mineira o PSDB.

Tudo caminhava para que o PT continuasse ao lado do prefeito Marcio Lacerda (PSB), que tenta a reeleição e que é apontado pelas pesquisas como o favorito. Os petistas haviam decidido em votações internas apoiá-lo e chegaram a aprovar o deputado federal Miguel Corrêa Júnior (PT) como candidato a vice. Mas vinham exigindo o cumprimento de um acordo que tinha sido assinado por lideranças do PSB local de que este fecharia uma chapa proporcional co os partidos aliados. Uma chapa proporcional daria ao PT condições de aumentar sua bancada na Câmara dos Vereadores, dos seis para talvez oito representantes.

Os tucanos - que assim como o PT também participam do governo Lacerda - bateram o pé e insistiram que uma chapa proporcional com o PT, que já teria o vice-prefeito - daria aos petistas uma vantagem injusta no jogo de forças num próximo mandato de Lacerda. O PSB acabou dando razão aos tucanos e no sábado anunciou que não haveria chapa proporcional com ninguém, que só iria trabalhar para eleger vereadores de seu partido.

Foi uma grita no PT local, que decidiu então romper com PSB e lançar candidato próprio. A executiva nacional, na reunião de hoje, vai examinar e referendar ou não a decisão. Dois nomes estão sendo cogitados como candidatos: o atual vice-prefeito, Roberto Carvalho, e o ex-prefeito e ex-ministro Patrus Ananias.

No PT mineiro, há quem ainda veja uma reconciliação na última hora. "Se o [presidente nacional do PSB] Eduardo Campos encaminhar uma posição à nossa executiva nacional de que o PSB vai fechar uma chapa proporcional com o PT e se isso tiver a anuência do Marcio Lacerda, a executiva do PT vai avaliar se devemos deixar de lado a candidatura própria", disse Miguel Corrêa.

O secretário -geral do PSB, Carlos Siqueira, que foi enviado de Brasília para Belo Horizonte no fim de semana, não afastou a hipótese de seu partido determinar que a legenda em Minas feche com o PT a chapa proporcional, uma questão que, segundo ele, era um detalhe mas que acabou se tornando a fonte de uma confusão. "A executiva nacional do PSB [que se reúne amanhã] tem o poder para determinar a chapa proporcional. O nosso esforço é pelo entendimento porque é importante o Marcio continuar com o PT. Para resolver esse detalhe é preciso flexibilidade de um lado e de outro. Quem sabe o bom senso pode prevalecer."

Lacerda também considera importante manter a aliança com o PT. Nas últimas três semanas, segundo apurou o Valor, ele pediu ao presidente estadual do PSB em Minas, Walfrido dos Mares Guia, que apelasse ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva; foi a Giles Azevedo, chefe de gabinete de Dilma, para pedir o apoio dela. Procurou Aécio e Ciro Gomes, a quem solicitou que convencesse o tucano a engolir a chapa com o PT.

A dificuldade de Lacerda era tentar conciliar os interesses e as demandas do PT com as do PSDB em torno de sua campanha. O PT exigia a chapa proporcional enquanto o senador Aécio Neves (PSDB) dizia a ele que se ele atendesse ao pleito petista, os tucanos não mais apoiariam sua reeleição.

E se os tucanos saíssem levariam junto a maioria dos partidos menores que toparam entrar na aliança de Lacerda - partidos que estão ligados aos tucanos no governo do Estado, de Antonio Anastasia (PSDB).

O PSB faz parte da base do governo Dilma e na hipótese de o PSB nacional achar que deve ficar com o PT - dando ao partido a chapa proporcional - porá em xeque a autoridade de Lacerda, que apoiou a decisão de não fechar uma chapa para eleger vereadores petistas. Contrariado, o prefeito poderia, no limite, renunciar à candidatura.

Os tucanos agora esperam o desfecho: se o quadro de separação entre PT e PSB se confirmar, eles passam a ser o principal aliado de Lacerda em Belo Horizonte. Lacerda, que além de ser o nome mais forte hoje nas eleições de outubro, é também um potencial candidato ao governo de Minas em 2014. Com o apoio do PSDB, que hoje não tem um sucessor para Anastasia.