Título: Voto de confiança
Autor: Cotias, Adriana
Fonte: Valor Econômico, 16/01/2007, Eu & Investimentos, p. D1

Com a inédita emissão de papéis prefixados com vencimento em dez anos, o Tesouro reitera o seu compromisso de alongar o perfil da dívida pública e, nesse processo, o pequeno aplicador é cada vez mais empurrado para o longo prazo. No meio da "sopa de letrinhas" do Tesouro Direto - o sistema de negociações de títulos públicos pela internet - uma nova sigla começa a fazer parte do vocabulário dos investidores: as Notas do Tesouro Nacional série F (NTN-F), que garantem um retorno previamente definido, mais juros pagos semestralmente.

O ciclo de corte de juros iniciado em setembro de 2005 - que trouxe a Selic de 19,75% para 13,25% ao ano e que tem tudo para avançar por 2007 - reforça a ladainha dos analistas de que os prefixados ainda são a melhor opção para se aproveitar parte desse movimento. A crença de que lá na frente as taxas estarão mais baixas do que hoje justifica a forte demanda entre as pessoas físicas - que detinham 32,5% em Letras do Tesouro Nacional (LTN), de um estoque total de R$ 1,1 bilhão em títulos vendidos pelo Tesouro Direto até dezembro.

Só que novas opções surgiram do ano passado para cá, com a venda das NTN-F, papéis que têm uma rentabilidade prefixada, definida no momento da compra, e com pagamentos periódicos dos juros (chamados de cupom). Os rendimentos são pagos semestralmente, enquanto o principal é devolvido no vencimento.

O cupom, de 10% ao ano ou 4,88% por semestre no caso das NTN-Fs, é calculado sobre o valor original do papel. Mas como o investidor normalmente compra o título com desconto, o retorno final acaba sendo maior. Embora o Tesouro tenha oferecido no mercado títulos de dez anos, o prefixado mais longo disponível no Tesouro Direto é a NTN-F com resgate em janeiro de 2014 e retorno de 12,77% ao ano.

Mas essa rentabilidade acaba sendo fictícia, dado que o cálculo do retorno total da aplicação prevê o reinvestimento dos juros semestrais à mesma taxa acertada no momento da compra, ressalva o chefe do departamento de análise da CMA, Luiz Francisco Rogê Ferreira. "Num cenário otimista, a cada semestre o investidor estaria reaplicando os recursos a um percentual inferior", diz. Pela simulação feita pela calculadora do Tesouro Direto, a rentabilidade líquida da NTN-F de 2014 após o imposto e a taxa de custódia (e considerando corretagem zero) é de 10,27% ao ano, considerando-se o reinvestimento dos cupons.

Isso é pouco mais do que os 10% que o investidor obteria aplicando em uma LTN com vencimento em janeiro de 2009 e por um prazo relativamente mais curto e, portanto, de risco menor - embora a possibilidade de a Selic estar ainda mais baixa em 2014 possa servir como justificativa para o investimento em NTN-F.

Para quem não quer usar os pagamentos semestrais como caixa, os papéis com cupom são um mau negócio, alerta Stelio Belchior, da Ágora. Isso porque nas três primeiras amortizações, esses recursos são tributados nas alíquotas mais elevadas de imposto de renda, de 22,5% e 20%.

Já travar juros com os prefixados por sete anos pode ser um grande risco porque se houver algum tipo de mal-estar na economia o investidor fica preso àquela taxa. Por isso, o melhor a fazer é sempre compor as aplicações com uma parcela de 20% em papéis pós-fixados, as Letras Financeiras do Tesouro (LFT), atreladas à Selic, sugere o operador de mercados da corretora do Banco Real Marcelo Giorgi.

Entre os prefixados, ele indica a LTN com resgate em janeiro de 2009. Com a volatilidade recente do mercado, o preço do título caiu e seu retorno que estava em 12,23% no começo do mês ontem era de 12,51% ao ano. "As oportunidades surgem justamente nesses momentos em que há pequenas mudanças nas expectativas", diz Giorgi.

Para aplicações por um horizonte mais longo, para a aposentadoria ou para garantir a educação dos filhos, Belchior, da Ágora, considera as Notas do Tesouro Nacional série B (NTN-B) atreladas ao IPCA como alternativa. As melhores opções são aquelas com vencimento a partir de maio de 2009, que já se beneficiam da alíquota menor de imposto, de 15%. Os prazos avançam por 2010, 2024, 2035 e até 2045.

"O investidor garante uma taxa de juros e ainda corrige a inflação, e pode assim ter algum conforto porque é impossível prever qualquer índice de preços por dez anos", diz Belchior. Para quem não quer receber os cupons semestrais - de 6% ao ano nos papéis indexados à inflação -, há as NTN-B principal, com resgate em 2015 ou 2024 e que têm garantido retornos reais de 7,88% e 7,56% ao ano.

Não basta, porém, apenas escolher qual o melhor papel. Com os juros mais baixos, os custos têm cada vez impacto maior sobre a rentabilidade da aplicação. "A própria taxa cobrada pela CBLC, de 0,40% ao ano, hoje, com a Selic a 13,25%, tem um peso diferente de quando a taxa estava na casa dos 20%", diz o diretor da Socopa Marcos Monteiro de Barros. Como os títulos públicos são na sua maior parte usados pelos clientes como garantia para as operações de renda variável, a corretora tem como política não cobrar pelo serviço. Dependendo do agente de custódia escolhido é preferível deixar o dinheiro na poupança.