Título: Peña Nieto promete novo PRI no México
Autor: Totti , Paulo
Fonte: Valor Econômico, 03/07/2012, Internacional, p. A13

Somos uma nova geração, não há regresso ao passado", disse Enrique Peña Nieto, ao comemorar no final da noite de domingo sua eleição à Presidência do México, um poder que seu Partido Revolucionário Institucional (PRI) exerceu por 70 anos e perdeu em 2000 para o conservador Partido da Ação Nacional (PAN). Foi um discurso de cinco minutos em que o eleito fez a tradicional convocação dos opositores à união nacional, pois "não há vencedores nem vencidos", mas tratou de acalmar os receios da opinião mundial de que não voltará o morador do Palácio de los Pinos, a residência presidencial, à prática de perseguição política, intervenção na economia, corrupção e mandonismo, que os próprios priistas do século passado definiam como "ditadura perfeita".

"Hoje, os mexicanos deram a nosso partido uma segunda oportunidade. Vamos honrá-la com resultados, com uma nova forma de governar, de acordo com as exigências do século 21", disse Peña Nieto. A posse na Presidência será no dia 1º de dezembro e até lá Peña terá de convencer também os quase dois terços dos mexicanos que não votaram nele que sua postura no cargo não será apenas a de um rapaz simpático, atlético e folgazão (aos 45 anos, seis filhos, era assim que ele aparecia na TV, e brasileiros assustados chegaram a compará-lo com Fernando Collor), mas a de um político preparado para vestir a cara de um novo PRI.

Nessa fase de transição, por exemplo, terá de fazer o que nunca fez o PRI em sua história: negociar com o Congresso, pois sua maioria não será absoluta nas duas casas. O PRI elegeu 232 deputados, o esquerdista Partido da Revolução Democrática (PRD) chegou aos 140, e o PAN, derrubado da segunda posição, a 118. No Senado, o PRI ocupará 57 cadeiras, o PAN, 41 e o PRD, 29.

Nos Estados, Peña terá de mostrar como será sua política de combate ao narcotráfico. Ouvidos pela televisão e perguntados sobre quais os principais problemas de seu Estado, os governadores eleitos respondiam ontem da mesma maneira. Os problemas são muitos, mas sempre encabeçados pela "segurança pública" - um eufemismo para a perigosa presença dos cartéis.

"Não haverá tréguas nem pacto" com o crime organizado, anunciou o presidente eleito. Qualquer atitude que tomar, porém, para a mudança da atual política de guerra ao tráfico terá de contar com a concordância dos Estados Unidos, onde a imprensa lhe é intransigentemente antipática e as autoridades desconfiam de sua real intenção de acabar com o contrabando de drogas pela fronteira. O velho PRI era, no mínimo, tolerante com o tráfico. Como será o PRI do século XXI?

Os resultados da eleição foram um pouco mais apertados do que previam as pesquisas. Até o fim da tarde de ontem, com mais de 90% dos votos apurados - os resultados não são os oficiais, pois precisam ser revisados a partir de amanhã -, davam a Peña 38%; a Andrés Manuel López Obrador (PRD), 31,8%; a Josefina Vázquez Mota (PAN), 25,5% e a Gabriel Quadri (Panal), 2,3%.

A candidata do PAN reconheceu a derrota no domingo à noite, e o próprio presidente Felipe Calderón foi à TV cumprimentar Peña Nieto. López Obrador disse que iria esperar os resultados oficiais, mas não falou em fraude eleitoral, numa aparente aceitação dos resultados. Em 2006, com apenas 0,56% de desvantagem, ele não aceitou a derrota e armou uma tremenda confusão no centro da Cidade do México, com um acampamento em pleno Paseo de la Reforma que prejudicou o trânsito durante três meses. Agora o candidato esquerdista aumentou em um milhão os seus votos, e passou definitivamente a comandar a segunda força política do país.

Dos seis Estados que elegeram governador, o PRD conquistou dois dos mais importantes, Morelos e Tabasco, que o PRI governava havia 83 anos. E arrasou pela quarta vez consecutiva no Distrito Federal, onde seu candidato teve mais de 60% e as candidatas do PRI e do PAN não passaram dos 20% cada uma. Com tais avanços, López Obrador terá dificuldades para argumentar que houve fraude na eleição a que concorreu, mas não nos Estados onde a esquerda ganhou. Mesmo assim, anunciou ontem que vai pedir a anulação da eleição presidencial, por suposta compra de votos parte do PRI.

Melancólico foi o desempenho do PAN, partido do presidente da República. Perdeu a Presidência, a posição majoritária no Senado, passou a terceiro na Câmara e já não mais governará todos os Estados que fazem fronteira com os Estados Unidos, que agora passam para o PRI.

Restou Guanajuato ao PAN, no centro do país, e uma pequena faixa de Estados a leste, no golfo do México, como Vera Cruz. Com tão poucos votos, não restou ânimo ao PAN para recorrer da decisão do Instituto Federal Eleitoral (IFE), que julgou improcedente, por falta de provas, a denúncia feita pelo partido sobre o uso de cartões de débito do banco Monex para a compra de votos pelo PRI.