Título: Aquisição da Inco poderá ter atraso
Autor: Durão, Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 22/09/2006, Empresas, p. B6

Dia 28, é a data fixada para os acionistas da mineradora canadense Inco decidirem sobre a oferta de compra feita pela Vale do Rio Doce, mas o fechamento pode atrasar. Para confirmar a proposta da Vale, basta que 66% dos acionistas aceitem o negócio. Apesar de otimista sobre as chances de levar a empresa, a Vale acredita que o atraso se dará porque a operação tem de ser submetida a Investiment in Canada Act, legislação que regula os investimentos estrangeiros no país.

Relatório de Marcelo Aranha e José Alberto Baltieri, analistas de mineração da Fator Corretora, que se reuniram com o diretor de relações com investidores da Vale, Roberto Castello Branco, informa que órgãos de regulação canadenses, do governo federal e das províncias onde se situam os ativos da Inco, vêm solicitando que a mineradora brasileira lhes envie uma série de esclarecimentos sobre seus planos de investimentos no país e sua gestão de riscos ambientais. O que na avaliação da mineradora, pode atrasar os trâmites de confirmação da aquisição da Inco pelo governo canadense.

A maioria das solicitações diz respeito a práticas ambientais. A Vale está tranquila, porque tem uma boa gestão nesta área, principalmente de manuseio de estéril (resíduo de minério) em suas minas de ferro. Por outro lado, sabe que a Investment in Canada Act não tem histórico de rejeitar investimento estrangeiro. Outro motivo: como foi divulgado no site do Global Mine, órgão de concorrência da Comissão Européia, a consulta das autoridades canadenses sobre se a Vale tem alguma concentração de investimento em níquel na região só deverá ter resposta no dia 5 de outubro.

Enquanto isso, a Vale estuda a melhor maneira para amortizar a dívida de US$ 18 bilhões que fará com bancos europeus para comprar a Inco sem perder sua classificação de risco de 'grau de investimento'. Segundo o relatório da Fator, a Vale pretende pagar a dívida em dois anos. Até o final de 2007, a relação dívida líquida/geração de caixa da mineradora poderá alcançar o índice de duas vezes, limite máximo de endividamento tolerado pelas agências de risco. "A empresa será cautelosa em relação à estrutura de capital, para não ter o rating reduzido pelas agências de risco", relatam os analistas.

Para reduzir seu nível de endividamento após a compra da Inco, a Vale pretende usar sua geração de caixa e outras fontes de recursos para financiar essa operação, como cita o relatório. Nesse caso, a companhia cogita de vender ativos no segmento de caulim, como a Pará Pigmentos e ofertar antigas participações na indústria siderúrgica, como ações da Usiminas.

Outra medida será redimensionar seus investimentos, postergando alguns, como o projeto de níquel do Vermelho, que pode ser substituído no curto prazo por projetos em andamento na Inco.

O Valor apurou que outras inversões podem ser "congeladas", como a oitava pelotizadora do Espírito Santo e o projeto de produção de alumina com a chinesa Chalco, no Pará. Também está estudando a venda de ações em tesouraria. A empresa não pretende alterar sua política de dividendos, mas está considerando "payout" menos "agressivo" no futuro.

O relatório destaca ainda que a Vale estima um retorno sobre o capital investido na Inco de 10% a 12%, inferior ao retorno dos negócios em minério de ferro - 20% a 25%, e de alumínio, 45%.