Título: Dilma quer aproximar Petrobras e Pemex
Autor: Leo , Sergio
Fonte: Valor Econômico, 03/07/2012, Internacional, p. A13

Cautelosa na reação do governo brasileiro, para não melindrar o candidato da esquerda, Andrés Manuel López Obrador, que ontem à tarde criticava a pressa em anunciar o resultado das eleições no México, a presidente Dilma Rousseff telefonará até amanhã ao candidato vitorioso, Enrique Peña Nieto, com uma mensagem amistosa e propostas pragmáticas. Dilma quer retomar as relações com o governo mexicano, que esfriaram nos últimos meses, e apoia uma aproximação entre as estatais Petrobras e Pemex, para projetos conjuntos no exterior.

Foram bem recebidas no Palácio do Planalto as constantes referências de Peña Nieto, durante a campanha eleitoral, aos planos de modernizar a Pemex para adotar um modelo semelhante ao da Petrobras, com abertura ao capital privado. Já na presidência de Luiz Inácio Lula da Silva, na qual Dilma foi ministra de Minas e Energia e da Casa Civil, o governo brasileiro acalentava ideias de associar a Petrobras à Pemex, para atuação conjunta no exterior. Dilma acredita ser possível uma associação das duas empresas para, por exemplo, obter condições mais vantajosas dos fornecedores do setor.

Um assessor de Dilma lembra que a empresa brasileira tem enfrentado atrasos nas entregas de sondas, por exemplo. Com atuação associada à Pemex, as duas empresas teriam maior escala e poder de pressão para cobrar o cumprimento de prazos e menores preços em equipamentos e serviços, acredita-se, no Planalto. Peña Nieto, em suas referências à Petrobras, não chegou a se manifestar sobre essas propostas do governo, até porque terá pela frente uma batalha política para abrir a estatal mexicana ao capital privado, tema que incomoda os nacionalistas mexicanos.

Os dois governos devem ter outro tema delicado a tratar, o acordo automotivo, revisto neste ano por exigência da presidente Dilma Rousseff, que estabeleceu cotas de importação, administradas pelos mexicanos, para as compras brasileiras de carros fabricados naquele país. Segundo apurou o Valor no ministério do Desenvolvimento, pelo menos uma montadora instalada no Brasil já excedeu a cota fixada de importação e deve começar, neste mês, a pagar imposto de importação de 35% e imposto sobre produtos industrializados sobre automóveis comprados das fábricas mexicanas para o mercado brasileiro.

Nos últimos meses, Brasil, e México têm ficado em lados opostos nas instituições multilaterais em que atuam, como o G-20, grupo das economias mais influentes do mundo, e a Organização Mundial do Comércio. Nas discussões sobre comércio para a cúpula do G-20, sob a presidência mexicana, diplomatas brasileiros chegaram a acusar o México de forçar um documento "desequilibrado" em favor dos interesses dos países ricos. O governo brasileiro, agora, quer aproveitar a mudança de poder no México para buscar maior coordenação de posições, na expectativa de que o candidato do PRI busque reatar os laços com outros países da América Latina.