Título: DF registra 19,31% de abstenção
Autor: Filgueira, Ary; Sacramento, Mariana; Trindad,Naira
Fonte: Correio Braziliense, 01/11/2010, Cidades, p. 38

Pela primeira vez, número de brasilienses que deixam de votar supera 300 mil. Para TRE, ausência ficou dentro do esperado

O feriado prolongado não afastou a grande maioria dos eleitores brasilienses das urnas, mesmo assim o Distrito Federal registrou o maior índice de abstenções desde 1994, segundo dados disponíveis no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ontem, 354.146 pessoas deixaram de votar, o que representa 19,31% do eleitorado. O índice ficou próximo do esperado pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE), que estimava uma taxa de 20%. A ausência também foi maior que a observada no primeiro turno, quando 15,44% dos votantes (283 mil) não compareceram às urnas.

Segundo o levantamento de abstenções para eleições ao GDF feito pelo Correio, esta é a primeira vez que o número de ausentes ultrapassa os 300 mil eleitores. Fazendo uma analogia, é como se todos os moradores de Ceilândia, cidade mais populosa do DF, abrissem mão de seu direito de votar. Porém mesmo que todos os faltosos optassem pela candidata derrotada Weslian Roriz (PSC), o resultado do pleito para governador não seria diferente. A vantagem de Agnelo Queiroz sobre a adversária foi de 426.502 votos.

Para o corregedor e vice-presidente do TRE-DF, Mário Machado, as comparações com anos anteriores são inviáveis devido à mudança no contingente eleitoral. Havia uma expectativa e o número ficou dentro disso. O que se mostrou é que nessas eleições o percentual se manteve estável, afirmou. Na avaliação do cientista político e professor da Universidade de Brasília (UnB) João Paulo Peixoto, o alto índice de abstenção já era esperado. Segundo ele, a crise política desencadeada pela Operação Caixa de Pandora e a histórica polarização da disputa pelo poder no DF são os responsáveis pelo desânimo. Depois de todo o processo político e eleitoral pelo qual o Distrito Federal passou recentemente, é natural que haja um certo ceticismo por parte da população, analisou.

Movimento Em muitas seções eleitorais, a impressão era de que a abstenção seria bem maior. No Centro de Ensino Fundamental nº 11 (CEF 11), em Ceilândia, o supervisor do Partido Social Cristão (PSC) Cesar Rodolfo chegou a calcular 50% de ausência. A impressão era dividida pela professora Keila dos Santos Araújo, 31 anos, presidente de mesa da seção 199, do CEF 11. Segundo ela, pela manhã, menos de um terço dos que deveriam votar em sua seção tinham aparecido.

Com o passar do dia e o fim da chuva que caiu sobre a cidade, no entanto, a situação mudou. Às 17h03, ao imprimir o Boletim da Urna (BU), Keila constatou que 325 dos 391 eleitores compareceram, ou seja, a abstenção foi 17%. Acho que a chuva espantou os eleitores de manhã, mas eles acabaram vindo à tarde, comentou. Nas salas ao lado, como a das seções 66 e 64, a abstenção foi um pouco maior, de 18,8% e 18%, respectivamente

Na 18ª zona eleitoral (Colégio Mackenzie) do Lago Sul, mais de 300 pessoas deixaram de votar. Até às 16h, a seção 119 tinha registrado 100 faltosos. Ao lado dela, na 122, dos 302 votantes previstos, 85 deixaram de comparecer. No Centro de Ensino Fundamental, na 912 Norte, quase 200 eleitores também faltaram. A abstenção aqui está maior que no primeiro turno, pelo visto. Há ausências em todas as 11 seções, afirmou o supervisor do TRE da 14ª Zona Eleitoral, Jorandir de Andrade.