Título: Dólar começa o mês abaixo dos R$ 2
Autor: Campos , Eduardo
Fonte: Valor Econômico, 03/07/2012, Finanças, p. C2

Com uma queda de 4,29% em dois dias, o dólar voltou a ser negociado abaixo dos R$ 2, algo que não acontecia desde o fim de maio. Ontem, o dólar comercial caiu 1,14%, para R$ 1,987, e o contrato futuro para agosto cedeu 1,23%, a R$ 1,996.

Nas mesas locais, os agentes falam em fluxo de recursos, mas os "stops" de posição comprada também dominaram o cenário.

Quem estava posicionado para a alta do dólar - posição comprada - teve de sair correndo para conter o prejuízo conforme o preço caía. Tal movimentação foi evidente na sexta-feira, que marcou o ajuste de posições para a rolagem e liquidação de contratos futuros de junho, e se estendeu para o pregão de segunda-feira.

De acordo com um tesoureiro, o fluxo sozinho não justifica um movimento desse tamanho no câmbio. "Vi alguns comprados mudando de mão, mas eles não podem ir muito longe por causa do IOF sobre ampliação de posição vendida", disse o tesoureiro.

Outro ponto ressaltado pelo tesoureiro é que essa puxada para baixo é liderada "por agentes de peso" no mercado local.

Também em pauta, as atuações do Banco Central (BC) na semana passada.

Foram quase US$ 9 bilhões em swaps cambiais, que equivalem à venda de dólares no mercado futuro. Sendo US$ 3 bilhões referentes à rolagem de contratos e outros US$ 6 bilhões em colocação líquida.

Segundo o economista da BGC Liquidez, Alfredo Barbutti, essa colocação de swaps foi relevante em função do volume de contratos.

Para o especialista, ficou claro que o mercado não suportava tal adição de contratos futuros. Ainda mais com a melhora de humor que pautou a sexta-feira.

De acordo com Barbutti, até que o mercado absorva e repasse esse volume de contratos vai levar certo tempo.

"Parece que existiu um mau dimensionamento de risco", diz.

"A posição técnica está desfavorável à alta no momento atual", diz Barbutti, lembrando que, sem novas atuações do BC, vai levar cerca de 20 dias até a rolagem ou vencimento dos swaps que expiram em agosto. Mas também há contratos de swap para setembro e outubro correndo no mercado.

Olhando as posições na Bolsa de Mercadorias & Futuros, os fundos locais e os estrangeiros ampliaram a posição comprada no pregão de sexta-feira. Já os bancos venderam moeda americana e estão com um dos maiores estoques vendidos já registrados.

De forma simplificada, o comprado ganha com a alta do dólar e o vendido com a queda de preço da moeda americana.

Os bancos locais venderam mais de US$ 2,3 bilhões em contratos de dólar futuro e cupom cambial (DDI - juro em dólar) na sexta-feira. Com isso, o estoque vendido subiu a US$ 22,408 bilhões.

Já os estrangeiros compraram US$ 1,86 bilhão em contratos, elevando seu estoque comprado a US$ 5,739 bilhões, maior posição comprada desde o começo de fevereiro de 2010.

Os fundos tiveram variação mínima, com compra líquida de US$ 100 milhões em contratos. Com isso, a posição comprada fechou o mês em US$ 14,995 bilhões. Eles venderam contratos de dólar futuro, mas ampliaram a compra de cupom cambial.

Não é possível apontar "ganhadores" e "perdedores" nesse grupo. As posições em BM&F são apenas uma forma de exposição cambial. Esses agentes também operam com opções e no mercado de balcão. E os bancos também detêm estoque de dólares no mercado à vista.

A atenção agora se volta para os dados que saem nesta terça-feira. Com eles será possível ter uma melhor dimensão da quantidade de contratos futuros que foi rolada e o que foi liquidado nessa virada de mês na BM&F.