Título: Dobra volume de pré-pagamento
Autor: Lucchesi, Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 16/01/2007, Finanças, p. C1

As grandes e principalmente as médias empresas brasileiras têm trocado o financiamento ao exportador de curto prazo (ACC e ACE) pelo pré-pagamento à exportação. No Banco do Brasil e no Bradesco, os dois bancos líderes no mercado de câmbio para exportação, o volume de pré-pagamento à exportação dobrou em 2006 na comparação com 2005, enquanto o de Adiantamento de Contrato de Câmbio (ACC), pré-embarque, e de Adiantamento de Cambiais Entregues (ACE), pós-embarque, ficou estável ou teve aumento menor.

Com a disponibilidade crescente de linhas externas ao Brasil, as empresas médias já conseguem ter acesso com folga ao crédito de mais longo prazo. "Devido ao seu custo atrativo e isenção de Imposto de Renda e IOF, o pré-pagamento tem sido usado como um substituto ao capital de giro para um número crescente de empresas", diz o diretor do Bradesco, José Guilherme Lembi de Farias. "Outras usam os recursos obtidos até para investimento", diz Augusto Braúna, diretor do Banco do Brasil.

Enquanto as multinacionais brasileiras que são grau de investimento (têm o selo de investimento não-especulativo das agências de rating) aproveitaram linhas baratas para melhorar o perfil de sua dívida, as médias do setor de agronegócios conseguiram se alavancar até mesmo para fazer aquisições, com destaque para os setores de açúcar, álcool, frigoríficos e exportadores de frango.

"Há uma clara migração do ACC e ACE para o pré-pagamento à exportação", conta Braúna. Em 2006, o Banco do Brasil fechou US$ 1,142 bilhão em operações neste tipo de modalidade, um aumento de 113% na comparação com os US$ 535 milhões do ano anterior. A carteira do BB já totaliza US$ 2,1 bilhões. "As empresas médias estão aproveitando a queda de custos e entrando com tudo neste mercado", conta.

Já as operações de ACCs e ACEs contratadas no BB ficaram estáveis: passaram de US$ 11,9 bilhões em 2005 para US$ 12,54 bilhões no ano passado, um aumento de 5,37%, na comparação com o crescimento de 16,2% nas exportações do país no período. Isso apesar de os spreads pagos pelas empresas terem caído cerca de 30% no período, nos cálculos de Antônio Bizzo, diretor do BB.

No Bradesco, a carteira de pré-pagamento dobrou para US$ 1,8 bilhão, enquanto as operações de ACCs e ACEs atingiram US$ 11,1 bilhão, um aumento de 26% na comparação com os US$ 8,8 bilhões de 2005. No financiamento de mais curto prazo, o Bradesco foi agressivo e ganhou participação, passando a deter 34,5% do mercado, na comparação com os 33,5% de 2005. "Nós temos presença física em 12 cidades e somos muito competitivos no preço", diz Lembi de Faria.

No Itaú BBA, que diferentemente do Bradesco e BB só trabalha com as 1.100 maiores empresas do país, a carteira de pré-pagamento também cresceu de 2005 para 2006: 60%, de US$ 700 milhões para US$ 1,1 bilhão. "Os prazos se alongaram para até 8 anos", diz o diretor Luiz Campiglia. Enquanto isso, a carteira de ACC e ACE no banco, que chegava a US$ 1 bilhão quando ele nasceu, em 10 de março de 2003, está em torno de US$ 250 milhões.

Para as empresas grandes, o financiamento de curto prazo não mais compensa por causa da impossibilidade de arbitragem - ganho com diferença nas taxas de juros internas e externas. O ACC e ACE se tornam uma febre quando a tesouraria das grandes empresas tomam os recursos e aplicam nos juros em dólar no mercado interno (cupom cambial), ganhando a diferença. Hoje, os juros do ACC e ACE são iguais ou até maiores do que o cupom cambial.

São as menores empresas que têm contribuído mais para a ampliação do volume de ACCs e ACEs, diz Luiz Simione, diretor da área de comércio exterior do HSBC do Brasil. "As empresas de pequeno e médio porte nunca tiveram tanto acesso ao financiamento à exportação com custos reduzidos", afirma. No HSBC, o volume de crédito ao comércio exterior cresceu 60% em 2006 com relação a 2005, diz.

Para 2007, a expectativa é de que o financiamento à exportação cresça mais, devido ao aumento esperado nas vendas ao exterior do país. Mas, os spreads devem parar de cair, acredita Lembi de Faria. "Não há mais espaço para a queda, visto que já pagamos spreads de 5 a 10 pontos básicos sobre a Libor para operações de 180 dias", diz.